“Boemia… aqui me tens de regresso…”. A voz poderosa de um paciente ecoa pela enfermaria do hospital em Manaus. Francisco Alexandre canta e anima doentes e equipe médica, após passar três dias na UTI e vencer a covid-19. Em outro canto da cidade, Janary Rodrigues finaliza as dez sessões de fisioterapia para tratar as sequelas da doença. E tenta aplacar a saudade da sogra e do cunhado, levados pela pandemia.
Sentir na pele os efeitos devastadores do vírus deu aos dois empresários a certeza de que ambos escolheram a carreira certa. Eles são sócios-diretores da corretora de seguros Provisa, especializada em planos de saúde empresariais. Ao lutar por atendimento médico para os milhares de colaboradores das empresas clientes, eles ajudaram a preservar a saúde dentro das fábricas do Polo Industrial de Manaus.
Do alto da Provisa Tower, Alexandre e Janary receberam a PIM AMAZÔNIA para uma conversa sobre como a atuação de gestores preocupados com a saúde e bem-estar dos colaboradores tem sido essencial na pior crise sanitária da história do Amazonas e do Brasil.
Como é que uma corretora de seguros pode fazer a diferença no combate a uma pandemia?
Francisco Alexandre: Nós gostamos muito de pessoas. De cuidar. Eu fiquei na UTI três dias, então sei muito bem o que essa doença causa. São sintomas inexplicáveis. E isso nos sensibilizou mais ainda. Conseguimos fazer uma compra grande de cilindros de oxigênio em São Paulo, daqueles de 5 litros. Então, no momento agudo a gente foi emprestando, ajudando. E a primeira leva foi embora logo na primeira semana. Emprestamos, enchemos novamente, para o pessoal que estava se tratando em casa. Todos nós tivemos muita coragem ao vencer o medo da doença para poder ajudar o maior número possível de pessoas.
Janary Rodrigues: Vimos muita gente morrendo, muita gente com problema. Todos ficaram muito abalados. Perdemos pessoas próximas. Vimos pessoas sem oxigênio, nos hospitais, famílias desesperadas. Não paramos hora nenhuma, mesmo nos momentos mais críticos. Muitos de nós acabamos expostos ao vírus, e graças a Deus todos vencemos. Conseguimos ajudar muita gente, e isso hoje nos dá tranquilidade.
Vocês sempre trabalharam ações de saúde preventiva nas empresas, com atenção especial para diabéticos e hipertensos. Não fosse esse trabalho antes da pandemia, o “estrago” seria maior?
J.R.: Com certeza. Há doze anos trabalhamos com prevenção, com o controle de doenças pré-existentes, porque elas custam muito caro para o usuário e para o plano de saúde. Sempre incentivamos a prática de atividade física, saúde mental, boa alimentação, e isso sempre nos trouxe bons frutos. Mas a pandemia veio para destacar essas lições. Você precisa cuidar do seu corpo, da sua mente, e isso vale não só para o coronavírus, vale para diabetes, doenças cardíacas.
F.A.: No início da pandemia, quando ainda tinha pouquíssima informação, nós disponibilizamos um chat robô para ajudar no diagnóstico da covid-19, a partir dos primeiros sintomas. Tivemos mais de 10 mil acessos. Quem se preveniu, quem se cuidou, passou mais fácil por tudo isso.
Qual a lição para os gestores, cuidar da prevenção nunca foi tão importante?
F.A.: A receita mais certa dessa doença é a prevenção. Porque ela é imprevisível. É como ser atingido por uma bala perdida, ninguém sabe o tratamento correto. O empresário mais cuidadoso trabalhou forte a prevenção e certamente passou mais tranquilo pela tormenta. Quem fugiu da prevenção ficou mais exposto, e infelizmente registrou mais óbitos.
J.R.: Todo mundo sabe o caos que foi durante a primeira e a segunda onda. Manaus tem aproximadamente 540 mil pessoas com planos de saúde. Imagina se não tivesse. Imagina todas essas pessoas somadas à fila do SUS, como seria.
A procura por serviços médicos aumentou consideravelmente nos últimos meses. Qual o impacto disso no reajuste dos planos de saúde?
J.R.: O impacto não tenha dúvida que está acontecendo. Os gráficos já apontam essa subida. O período de internação das pessoas aumentou muito. Uma pessoa fica intubada por pelo menos 14 dias. A diária de UTI é caríssima, porque inclui medicamentos restritos, equipamentos especiais, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas 24 horas.
F.A.: Por outro lado, da mesma maneira que aumentam os atendimentos para covid, as cirurgias e consultas eletivas diminuíram. Então a gente também não deve maximizar essa preocupação. O momento agora é do empresário se preocupar com a prevenção e levar informação. E nós também estamos de olho, acompanhando todas as utilizações, através do nosso sistema, para que se tenha um reajuste justo.
Nesse contexto de luta contra o vírus, podemos dizer que todo gestor de empresa, de certa forma, virou um “micro secretário de saúde”, que precisa defender “a sua população” e estar de olho nas estatísticas?
F.A.: Claro. É em cima dos nossos números, da nossa análise, que a gente defende o colaborador e a empresa na hora do reajuste. Como a Provisa tem o controle de utilização de cada empresa, a gente questiona sempre com o intuito de baixar os preços. E nós temos conseguido. A gente consulta a nossa auditoria, analisa os procedimentos médicos. E no fim, o colaborador, a empresa e a operadora. ficam satisfeitos.
J.R.: Quando nós administramos, o gestor consegue ver o raio-X da “população” interna dele. Consegue ver por que teve um pico alto de utilização do plano de saúde, se foi covid ou outras patologias. Consegue saber como está a saúde dos colaboradores. Inclusive para tomar medidas preventivas futuras. É isso que pauta as nossas ações. Nesse período de pandemia, teve muita gente com depressão, com ansiedade. Hoje, nosso trabalho com psicólogos é muito mais forte do que antes da pandemia, através do Programa Prevmente.
Que conselhos vocês têm para os empresários nessa fase?
J.R.: O empresário percebeu uma coisa: o maior programa de auxílio e de saúde que ele pode oferecer aos colaboradores nesse momento é o plano de saúde. Este sempre foi um assunto muito importante. Mas hoje, com a pandemia, o plano de saúde se tornou imprescindível. F.A.: Minha dica é uma só: cuide do seu colaborador. Ele carrega o piano da sua empresa. Dê a ele o que tiver de melhor em saúde.