Polo industrial de Manaus: os buracos da violência

Entrevista com João Batista Mezari, Honda

O diretor da Moto-Honda Manaus, João Batista Mezari, conselheiro do CIEAM, há mais de um ano assumiu a coordenação das iniciativas que as empresas do Polo Industrial decidiram organizar para enfrentar o crescimento assombroso da violência nas rotas das viaturas, ônibus e vans que transportam os colaboradores das empresas do Distrito Industrial. Não bastassem as crateras e o abandono das ruas, a violência ganhou dimensões assustadoras com estes assaltos, a ponto de alguns associados contratarem segurança privada para acompanhar os veículos com seus funcionários. Confira a entrevista.

Follow Up – Além dos buracos, que tipo de violência tem mais preocupado as empresas?

João Batista Mezari – Devido à profunda crise que assolou o País nos últimos anos, com sequelas profundas nos indicadores de produção no Polo Industrial de Manaus (PIM), deixando o rastro de aproximadamente 50 mil demissões, com reflexos nos demais segmentos do Estado, Comércio e serviços, especialmente, notamos um aumento considerável dos episódios de violência. As estatísticas confirmam. Na rotina diária do Distrito Industrial onde, além dos problemas sérios de infraestrutura, da buraqueira das ruas, da falta de iluminação, do matagal crescente, a violência tomou proporções assustadoras. Isso já havia se agravado desde quando foi fechada a unidade da Polícia, que funcionava como referência de segurança e inibia a criminalidade. Naquelas ruas esburacaras e abandonadas estão instaladas algumas das maiores empresas do país e a base de formação do PIB do Estado. Esse estado de abandono atraído a violência, com o aumento de tem provocado de roubos aos carros dos colaboradores e outras modalidades de furtos, como tentativas de invasão das empresas, explosão de caixa eletrônicos, entre outras manifestações crescentes da criminalidade. Entre elas, o principal fator de preocupação está relacionado aos roubos com mão armada aos ônibus que fazem as rotas de colaboradores em todos os bairros da cidade. Como é sabido, as empresas oferecem transporte de porta a porta para seus colaboradores, e esses roubos estes que vem aumentando e deixando um rastro de insegurança, perdas de vidas humanas, de objetos e da qualidade de vida, pois a frequência dos eventos espalhou o medo, a tensão, entre os mais de dois mil veículos que circulam nesse leva e traz de colaboradores, com centenas de rotas nos diversos turnos de produção. Esses meliantes estão cada vez mais ousados e as ocorrências estão sendo mais frequentes com uso de diversas armas de fogo, incluindo fuzis e metralhadores, violência contra os trabalhadores. De acordo com o Sifretam – Sindicato de Transporte de Passageiros por Fretamentos Especiais, em 2016, foram 90 furtos e este ano até início de novembro/17, já havia o registro de 84 ocorrências, sendo desta forma o assunto que mais tem preocupado as empresas.

FUP – Qual o balanço que vc faz da parceria entre as empresas e o poder público para reduzir o crescimento da violência no transporte dos colaboradores do Polo Industrial?

JBM – Desde 2016 foi estabelecida uma parceria entre as empresas e a Secretaria de Segurança Pública (SSP)/Seagi, capitaneada pelo Conselho Superior do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas – CIEAM, onde o CICC- Centro Integrado de Comando e Controle da Polícia Militar criou o Projeto Anjo da Guarda – Rota Segura. Este trabalho conjunto visa, através de um sistema avançado de computação, coletar dados sobre as ocorrências registradas em BO – Boletim de Ocorrência, gerando um banco de dados usado para mapear a cidade e os pontos de maior ocorrência destes eventos. A iniciativa foi desencadeada em Março último, tendo por base operacional o próprio CICC, onde estão os recursos tecnológicos disponíveis para as empresas, que permitem o rastreamento dos ônibus, uso de botões de pânico interligados diretamente a este Departamento cujo monitoramento permite uma ação imediata e conjunta com as forças de segurança.

FUP – Qual o papel da inovação tecnológica nesta parceria?

JBM – Tem sido fundamental a adoção das ferramentas tecnológicas, com este recurso, a Polícia Militar tem condições de agir e prestar apoio às rotas, bem como fazer rondas ostensivas nas áreas, ruas e bairros de maior incidência. Outras ferramentas disponíveis, frutos de entendimento recente, será a instalação de câmeras nas empresas com botões de pânico também ligadas de imediato ao CICC, permitindo uma maior proteção para as instalações Ponto Seguro, com a instalação de câmeras onde as empresas poderão unificar os locais de parada de ônibus com proteção. E ainda, foi desenvolvido um aplicativo pelo INDT, Instituto de Desenvolvimento Tecnológico, que irá gerar botões de pânico ligados aos órgãos de segurança diretamente no celular do colaborador. Os investimentos para uso destas tecnologias são uma forma de contrapartida das empresas para apoio às ações da PM. Com o uso destas ferramentas fica mais fácil uma interação, nunca antes realizada, entre as empresas e Sistemas de Segurança, nos primeiros meses desta parceria já houve uma grande redução no número de roubos e passa agora no final do segundo semestre por uma reavaliação com o apoio integrado entre as empresas, SSP, Polícia Militar, CICC, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. A participação de todas as empresas do PIM é primordial e precisam participar deste banco de dados para que este processo não seja interrompido.

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O PRINCÍPIO DE POLLYANNA E O ATUAL CRESCIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA
Artigo do Professor Paulo R. Haddad(*)
Pollyanna é um clássico da literatura infanto-juvenil, escrito e popularizado a partir de 1913. Pollyanna gostava de praticar um jogo que consistia em extrair algo de positivo mesmo nas coisas mais desagradáveis ou desfavoráveis. Na Psicologia Social, essa atitude recebeu a denominação de “Princípio de Pollyanna” para designar atitudes ingênuas diante de situações dramáticas, sofridas ou até mesmo catastróficas. A preferência, ao se formular e implementar uma política econômica para um país em crise, deveria ser a de um comportamento de “otimismo trágico”, segundo o qual “espera-se que certo otimismocom relação ao nosso futuro possa fluir das lições do nosso trágico passado”.
É verdade que a economia vai bem?
Como dizia Pollyanna, em tudo há sempre algo capaz de nos dar contentamento, a questão é descobri-la. No atual contexto da economia brasileira não é difícil descobrir coisas que nos tragam alegria. A taxa de inflação está muito baixa para os padrões históricos do Brasil. O mercado de trabalho dá sinais de recuperação. O PIB volta a crescer lentamente com indicativos positivos de aceleração nos próximos dois anos. Houve rápida queda na taxa Selic de 14,2% para 7,0%. A balança comercial tem apresentado superávits expressivos e crescentes. Na verdade, a economia brasileira vai bem, mas está mal. As marcas da crise econômica dos últimos anos são mais profundas e duradouras do que aquelas provocadas pela crise de 1929, e sua assepsia passa por radicais reformas econômicas e político-institucional.
O desemprego eloquente
Qualquer analista da economia brasileira precisa ser muito conformista para afirmar que a atual situação do País é satisfatória. São treze milhões de desempregados que somados aos subempregados e aos desalentados chegam a quase 25 milhões de brasileiros. A taxa de juros real está em torno de 5% e ainda é uma das maiores do Mundo, estimulando a especulação financeira dos rentistas e desestimulando os investimentos diretamente produtivos. De corte em corte dos gastos públicos, reduzem-se a quantidade e a qualidade dos serviços públicos essenciais para os mais pobres e desestruturam-se as políticas governamentais que buscam maior competitividade sistêmica das atividades econômicas, a preservação e a reabilitação dos ecossistemas e ações de natureza socialmente compensatórias. A taxa de crescimento do PIB potencial é provavelmente inferior a 2%, o que significa um crescimento per capita quase nulo. São alguns dos indicadores de que a situação econômica e a situação socioambiental não estão bem, apesar do esforço dos ajustes que vêm sendo realizados com sucesso no último ano.

Crescimento espasmódico
Os ganhos de crescimento configurados recentemente são de natureza transitória e espasmódica, resultantes da queda da taxa de juros, do aumento do poder aquisitivo da massa salarial com a bem-sucedida desinflação e da ampla disponibilidade de capacidade ociosa na economia. Não se pode confundir com o início de um novo ciclo de expansão como ocorreu nos anos JK ou nos anos do “milagre econômico”, quando a economia crescia de forma sustentada três a quatro vezes mais rápido do que a taxa de crescimento demográfico. Um ciclo de expansão não é apenas um subproduto cronológico do equilíbrio fiscal. Num ambiente de incertezas políticas e econômicas sobre as indispensáveis mudanças estruturais e de reformas inacabadas, é necessário que o Estado coordene as ações descentralizadas dos agentes econômicos numa verdadeira complementariedade de estratégicas, de expectativas e de antecipações através do desencadeamento de um novo “motor de desenvolvimento”. Como, por exemplo, por meio da promoção de um amplo programa de investimentos privados visando à eliminação de pontos de estrangulamento numa nova matriz energética e na modernização da logística de transporte e de comunicação do País.

(*) Haddad é economista, professor emérito da UFMG, foi ministro do Planejamento e da Fazenda do Governo Itamar e é, além de escritor, renomado especialista em desenvolvimento regional.

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]

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