A amazonense Elenice da Silva Cavalcante, de 49 anos, não entendia o porquê de outros colegas serem promovidos na empresa em que trabalhava, menos ela. A dúvida aumentava porque, além de ter formação superior em pedagogia, até mesmo funcionários contratados há menos tempo que ela eram agraciados. Concluiu que não subia de cargo por um detalhe: uma deficiência adquirida ainda na infância, quando ela teve poliomielite (paralisia infantil), e que a deixou com sequelas na perna esquerda.
“É claro que a pessoa com deficiência não tem certeza se é por causa da sua condição que algo assim acontece, mas sempre me questionava, pois via pessoas, inclusive, que entravam depois de mim, subindo de cargo, e eu não. Então, decidi sair da empresa e procurar outra que me desse oportunidades”.
Passado aquele período, em 2020, Elenice participou de uma seleção no Grupo Tapajós, em Manaus, uma empresa do setor farmacêutico, bem diferente do setor educacional em que ela já atuava. O ‘novo mundo’, porém, não a assustou. Ela foi aprovada em todos os testes e contratada como auxiliar administrativo e está há pouco mais de um ano ano nova função.
“Quando eu entrei, não tinha um líder específico no meu setor. Pouco mais de um ano depois, contrataram um gerente e um supervisor. Foi quando o chefe designou novas funções para a equipe e fez uma espécie de seleção interna para conceder promoções. Eu participei, falei sobre a minha formação em pedagogia e ele disse que ia me dar uma oportunidade de cuidar [da análise de compras] de uma filial, a de Boa Vista (RR). Assim, eu fui promovida a assistente de operações logísticas”.
Abismo
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro deste ano, revelam que 7 a cada 10 pessoas com deficiência à procura de trabalho estão desempregadas. Em números percentuais, significa que, enquanto 66,3% das pessoas sem deficiência estão empregadas, apenas 28,3% de PCDs têm trabalho.
Até mesmo o salário é afetado pela condição, segundo a pesquisa. Pessoas com deficiência recebem cerca de R$ 1,6 mil, em média. Já pessoas sem deficiência têm salário médio de R$ 2,6 mil. Foi para combater injustiças como essas que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 1992, o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado em 3 de dezembro.
Dentro desse cenário, há poucas exceções de ausência de preconceito. O auxiliar administrativo Michel Ferreira Muller, de 29 anos, está no terceiro emprego de carteira assinada e diz nunca ter sofrido preconceito durante uma seleção no mercado ou em empresas. Ele nasceu com uma condição genética que o impedia de andar, mas após uma série de cirurgias, conseguiu dar os primeiros passos.
“Na prática, a única coisa que tenho um pouco mais de dificuldade é com escada, porque meus pés são tortos, mas uso uma bota ortopédica que me dá estabilidade”.
O jovem faz questão de ressaltar que o capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência) é muito maior por desconhecimento, já que a condição dele não o impede de ter uma vida normal.
“Assim como qualquer pessoa, eu almejo ter a minha casa própria e ser bem sucedido financeiramente. Ainda estou procurando uma área para seguir, mas gosto muito de marketing e de tecnologia da informação”.
Igualdade
Desde 1991, vigora no Brasil a chamada Lei de Cotas (art. 93 da Lei nº 8.213), que estabelece a obrigatoriedade de contratação de pessoas com deficiência em empresas, visando reduzir as desigualdades. Companhias que tenham entre 100 e 200 empregados precisam reservar 2% das vagas a PCDs. O percentual é maior para empresas com mais de 1 mil colaboradores, 5%.
Segundo a gerente de Recursos Humanos do Grupo Tapajós, Rosane Farias, a empresa possui, hoje, 149 pessoas com deficiência em seu quadro de colaboradores.
“A nossa companhia sempre contrata um percentual acima do que determina a legislação. O Grupo vê as pessoas com deficiência como muito mais do que uma cota. São profissionais que precisam de atenção e direcionamento maiores e têm grande potencial. Por isso, aqui eles têm as mesmas oportunidades que qualquer outro colaborador”.
Segundo Rosane, a empresa também dedica atenção para construir um ambiente inclusivo e com acessibilidade para os funcionários com deficiência.
“Temos banheiros adaptados, rampas de acesso e até uma mesa com café mais baixa para um dos nossos colaboradores com nanismo. Nos preocupamos com toda a mobilidade na empresa, porque acreditamos que o funcionário precisa ter esse ambiente para que possa se sentir valorizado enquanto profissional”.
Fonte: Repercussão Assessoria e Marketing