Por Geyce Ferreira*
Inicio esse texto com uma pergunta: Quantas pessoas em posição de chefia, liderança ou tomada de decisão você conhece que são negras ou possuem fenótipo regional amazônico? Vou arrematar com mais uma: Quanto/as chefes você teve com esse perfil? Deixo aqui a resposta da minha vivência: apenas 1 vez eu tive uma pessoa preta como chefe, importante destacar que era um homem preto.
Acabamos de passar pelo Novembro Negro e uma das principais temáticas abordadas por diversos colegas nacionalmente, é o protagonismo de pessoas não brancas em posições de liderança no mundo corporativo, para além da importante questão de representatividade, podemos entender que ao termos mais pessoas como nós nestes cargos, significa que a prosperidade financeira e dignidade social pode chegar a mais pessoas de periferia, tendo conhecimento de que em grande massa, é esta nossa origem – a periferia e que ao ascendermos profissionalmente impactamos toda uma família e as comunidades onde estamos inseridos. Aqui não traremos o discurso de meritocracia, neste país sabemos que ela não existe, apesar de nossa constante luta pela equidade, não somos iguais perante o julgamento da sociedade em geral mesmo alcançando o sucesso profissional, como mostram os dados do IBGE no relatório de 2021: Desigualdades Sociais por Cor ou Raça do Brasil, o levantamento nos traz a informação de que profissionais brancos recebem cerca de 70% a mais do que pretos e pardos por hora de trabalho no Brasil.
Em 2021, o Instituto Locomotiva produziu uma pesquisa, por encomenda do Grupo Carrefour, sobre a situação da população negra no Brasil (fonte: Revista Exame), os resultados são apenas mais uma confirmação do que é visível a nós ao entrarmos em nossos ambientes de trabalho, apesar de sermos maioria da população, não chegamos nem perto de uma representação consistente em cargos de liderança. Outra pesquisa, desta vez do PageGroup e da Fundação Dom Cabral identificou que apenas 1 a cada 10 cargos de CEOs no Brasil são ocupados por mulheres ou negros, ou seja, 90% dos CEOs deste país são homens brancos (fonte: InstGeledes). Afunilando ainda mais esse dado, o Instituto Identidades do Brasil nos chama atenção para a seguinte amostragem levantada pela consultoria Gestão Kairós, de 900 profissionais entrevistados com nível gerencial ou acima, apenas 25% são mulheres e entre elas apenas 3% são negras, “a mulher negra é a base da pirâmide social neste país”.
É preciso que haja a compreensão por todos de que vivemos em um país racista e que logo temos sim pensamentos e ações racistas. Atire a primeira pedra aquela/e que nunca apressou o passo ou apertou a bolsa junto ao corpo ao se deparar com um jovem “da cor dos 4 Racionais” na rua? Isso é racismo, é julgar que nossos corpos pertencem apenas a violência e à criminalidade. Racismo é quando eu, uma mulher negra e periférica, ao entrar em uma reunião, não sou identificada como a pessoa com cargo mais alto na mesa.
O interesse deste texto é que você se sinta incomodado/a, que você passe a notar a falta de pessoas não brancas nos espaços corporativos. É urgente que pessoas brancas se percebam como parte do problema e atuem como voz ativa para a solução, afinal estas pessoas estão ocupando posições de tomada de decisão neste momento, logo são vocês quem devem tomar a dianteira, material teórico, práticas comprovadas e apoio profissional existem, então o que falta para aplicar políticas de equidade racial na sua empresa? Onde estão as pessoas negras em sua empresa?
Geyce Ferreira é Gestora de Logística e Diretora de Diversidade e Sustentabilidade ABRH-AM