O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destituiu toda a diretoria da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) na noite de sexta-feira (13) e nomeou a jornalista Kariane Costa para a presidência, de forma interina.
A troca no comando foi acelerada após a linha editorial adotada nos atos golpistas do domingo passado (8), segundo auxiliares do chefe do Executivo. Os diretores eram ainda da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A avaliação é a de que a estatal estava com uma postura distante da adotada pelos demais veículos de imprensa, com o objetivo de minimizar os atos.
Um integrante do governo citou, como exemplo, que as pessoas que depredaram a sede dos três Poderes eram chamadas de manifestantes, em vez de vândalos ou golpistas. Outro afirmou que o temor era de que a cúpula indicada por Bolsonaro tivesse sido ainda mais radical na cobertura do ato golpista. Havia receio de que a empresa fosse utilizada para eventualmente propagar ideias antidemocráticas ou que houvesse uma espécie de sabotagem técnica, interrompendo transmissões da Presidência, por exemplo.
No dia seguinte ao ato golpista, o jornal da TV Brasil transmitiu a sessão do Congresso e colocou uma passagem do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o que foi interpretado por petistas como provocação.
Dessa forma, a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), sob a qual fica subordinada a EBC, decidiu iniciar a transição na EBC. Nos próximos 30 dias, a pasta deve iniciar um processo de reorganização da empresa e retirada de indicados de bolsonaristas em postos-chave.
Kariane participou do gabinete de transição pelo grupo de trabalho das comunicações e conta com a confiança do ministro Paulo Pimenta (Secretaria Especial de Comunicação Social – Secom)
Atualmente, ela integra o Conselho Curador da empresa, na vaga que representa os servidores da casa. O colegiado delibera sobre a linha editorial e diretrizes do veículo.
Por isso, ela já tem o nome aprovado pela Lei das Estatais, processo que dura cerca de 30 dias e pelo qual todos os indicados devem ainda passar.
Assim, Kariane assume de forma interina a presidência e “conduzirá o processo de transição para nova gestão, a ser implementada nos próximos meses”, segundo nota divulgada pelo Planalto.
A jornalista está há mais de dez anos na estatal. Chegou a trabalhar como editora de agosto de 2012 a fevereiro de 2014. Deste então, é repórter de política.
“Aceitei o convite do presidente Lula e do ministro Paulo Pimenta para estar à frente, de forma interina, do processo de transição para a retomada da missão da EBC. Agradeço a confiança! Juntos vamos reconstruir nossa empresa!”, disse Kariane, nas redes sociais.
Já Pimenta afirmou iniciar, na sexta-feira (13), uma transição na empresa, “que resultará no fortalecimento da comunicação pública, na valorização dos empregados e no aprimoramento da governança”.
O ministro também destacou quatro mulheres para auxiliar no processo de transição, que assumirão cargos de assessoria ou gerência: Rita Freire, presidente do Conselho Curador da EBC à época do impeachment em 2016; Juliana Cézar Nunes, empregada concursada da empresa; e as jornalistas Nicole Briones e Flávia Filipini.
Tanto a nomeação de Kariane, quanto a exoneração dos diretores indicados por Jair Bolsonaro (PL) saíram em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) na sexta-feira (13). Foram destituídos o presidente, diretor geral, a diretora de jornalismo e o de administração. O de conteúdo, Denilson Morales da Silva, servidor de carreira da EBC, continua no cargo.
Fonte: Valor Econômico