A crise foi mais deletéria do que se possa supor numa avaliação preliminar. Seus danos saltam aos olhos nos indicadores do emprego e, apesar da reação de alguns setores, vamos demorar para equilibrar as contas em todos os níveis e setores e, provavelmente, nunca mais teremos 130 mil postos de trabalho no Polo Industrial de Manaus. Ora, com essa paisagem de esvaziamento e a dependência de uma fonte única de geração de riqueza vamos descer a ladeira da desindustrialização bem mais rápido do que imaginamos. Se não conseguimos até hoje transformar a apologia das potencialidades em demonstrativos de prosperidade exige imediata revisão de conceitos e transparente questionamento de nossas premissas.Em palestra recente sobre os embaraços do presente e desafios do futuro, o empresário Jaime Benchimol, CEO do Grupo Bemol-Fogás, elencou alguns equívocos que descrevem as premissas de que partimos para desenhar o futuro da Amazônia que queremos. Debater esses equívocos pode nos ajudar a alinhar perspectivas de trabalho conjunto, otimizar custos, compartilhar estratégias e fazer de tantos ovos de que dispomos o omelete da prosperidade geral. A Premissa inicial é de que modelo industrial nos sustentará e livrará os riscos da obsolescência tecnológica produzido pela convergência digital para o smartphone (Tvs, aparelhos de som, tablets, notebooks, videogames, calculadora, máquinas fotográficas, etc)
Ou seja, basta assegurar politicamente a sobrevivência do modelo ZFM e tudo, como num passe de mágica, se resolve. Além de equivocada, esta premissa – baseada na oferta da fartura perversa, pode implicar numa catastrófica desindustrialização, portanto, na perda do motor de 85% de nossa economia.
O tamanho da encrenca
Já mencionamos aqui os estudos da Universidade de Oxford, do Reino Unido, alertando que a tecnologia vai reduzir em até 63% os postos de trabalho no mundo e a OIT, organismo global de gestão do trabalho, já utiliza a expressão “fim do emprego” para ilustrar o tamanho da encrenca. É óbvio e determinante que a contrapartida fiscal da ZFM tem sido virtuosa na geração de empregos, embora em ritmo decrescente. O polo industrial não dispõe de um anteparo tecnológico próprio, mesmo que fabricássemos todos os celulares do Brasil estaríamos na dependência da inteligência que o produz. Perdemos esse bonde da história na medida em que, depois de 50 anos, não investimos em pesquisa, inovação e mercado a riqueza aqui gerada.
Livre iniciativa pública
Premissa, também extremamente equivocada, é de que planejar é melhor que deixar a livre iniciativa atuar, desde que haja regras claras, pouca burocracia e forças competitivas de livre mercado. Produzimos mais riqueza que o Ciclo da Borracha, porém repassamos mais da metade do apurado aos cofres federais. A União costuma reinvestir estes recursos na região Sudeste que já é a mais rica. Por isso, seguimos dependendo de uma caneta para assegurar o pão de cada dia. Sequer nos preocupamos em criar tecnologia e inovação para aproveitar com inteligência nossa maior riqueza, a galinha dos ovos de ouro da biodiversidade e da geodiversidade, do turismo de aventuras, de pesca, de prospecção cultural, da mística amazônica… O presidente do CIEAM, Wilson Périco, tem alertado para essa fragilidade que está visível na dependência predominante dos três polos de sustentação da ZFM, duas rodas, eletroeletrônicos e de informática. Qualquer abalo nos três vamos à nocaute. O polo de informática é o mais ameaçador pois a tecnologia transferiu para o smartphone o que antes era uma diversificada planta industrial. Obviamente que precisamos do Polo Industrial de Manaus, mas é hora de priorizar as vocações de nossa economia, para diversificar, adensar e interiorizar o desenvolvimento.
Lixo burocrático
A Premissa de que nossas soluções passam necessariamente por Brasília. Há muitíssimo que pode ser feito a nível estadual e municipal para melhorar ambiente de negócios, tornar instituições mais ágeis e produtivas, educação, segurança etc. Hoje, o lixo burocrático está ocupando o centro do modelo institucional de geração de riqueza. Nosso polo de dermocosméticos inexiste. Uma empresa que apresentou uma proposta de produção de genéricos a partir do banco genético local esperou 5 anos para Brasília aprovar seu PPB. Isso porque estamos na pátria da biodiversidade. Com esse entrave, fabricamos IDHs vexaminosos. Essa burocracia virou um poder em si mesma, criando sucedâneos de proliferação de tumores disfuncionais, como um verdadeiro carcinoma.
A lei nos permite manejar 20% da floresta
Premissa de que manter 97% da floresta em pé maximiza valor a longo prazo para o Amazonas. Ficamos reféns desse conceito que tem nos impedido de abrir estradas, construir portos, manejar madeira, produzir frutas, extrair minérios, explorar a piscicultura etc. Açoitado porum cipoal tributário e formalismos exacerbados, no Amazonas,o maior e o mais preservado Estado da Federação, empreender significa criar barreiras ambientais, legislativas, regulatórias, culturais que desestimulam os investimentos privados ao mesmo tempo que o setor público se mostra incapaz e incompetente em realizar investimentos produtivos e viáveis. Há 17 anos o polo de Biotecnologia não anda porque os ministérios não entram num acordo sobre quem vai gerir o CBA, e quem será capaz de lhe atribuir um CNPJ, sua certidão de nascimento contábil. Nesta quarta-feira, em plena euforia eleitoral não faltou quem se apressasse a dizer que saiu o CNPJ do CBA. Cadê, quem vai tocar a encrenca e quanto cairá na conta da empresa se estão proibidas contratações e repasse? São Thomé rogai por nós.
Aqui não é proibido proibir
Foi essa burocracia que brecou a promoção da competição, vital para florescer a oferta coletiva de oportunidades e de liberdade de empreender. A criação hipócrita de fundos de pesquisa tem contribuído com nada. Basta ver o estado deplorável de nossos equipamentos. Não precisamos dessa modalidade de investimento para assegurar o crescimento econômico pois onde a colher do Estado aparece a gastronomia dos investimentos desanda. Não temos elementos para acreditar na transparência e eficiência na gestão de recursos por parte do poder público, nem faz sentido trabalhar cinco meses por ano para sustentar a máquina do Estado, pesada e perdulária e, no imaginário popular, associada à prática da contravenção? Voltaremos…
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]