BCs tentam controlar inflação, mas aperto monetário global continua

Autoridades e formuladores de política monetária estão preocupadas com um colapso global, com os mercados de títulos dando sinais de recessão

Apesar das amplas advertências sobre os riscos econômicos apresentados pelo estresse recente no setor bancário, autoridades de política monetária globais mantêm o foco diretamente na inflação e na necessidade de continuar a elevar as taxas de juros para controlá-la.

O pedido de cautela veio de autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI) preocupadas com um colapso global, com os mercados de títulos dando sinais de recessão, e dos próprios formuladores de política monetária que dizem monitorar detalhes dos dados bancários e o humor de executivos do setor em busca de sinais de problemas.

Ainda assim, três dos quatro principais bancos centrais do mundo neste momento estão a caminho de aumentar as taxas de juros nas suas próximas reuniões, um passo que os mercados norte-americanos apostam que abrirá caminho para cortes nos custos de empréstimos logo após a chegada da recessão.

Em seu mais recente relatório Perspectiva Econômica Global, autoridades do FMI reduziram na terça-feira (11) suas previsões para o crescimento mundial, mas disseram que há cenários “plausíveis”, decorrentes das recentes falências do Silicon Valley Bank e do Signature Bank nos EUA e da fusão forçada do Credit Suisse, que podem reduzir ainda mais o crescimento, enquanto problemas bancários mais sérios e crédito mais restrito podem paralisar a economia global.

Em contraste, as autoridades monetárias, mesmo após o recente estresse financeiro, parecem prontas para fazer mais para combater a inflação elevada, que ainda veem como o maior risco.

“O ônus permanece do lado de garantir um aperto monetário suficiente para ‘finalizar o serviço’ e levar a inflação de volta à meta”, disse Huw Pill, economista-chefe do Banco da Inglaterra, alertando que os riscos de inflação “são significativamente de alta”.

Embora a inflação no Reino Unido deva cair ante uma taxa de mais de 10%, a mais alta do mundo desenvolvido, Pill disse que a “potencial persistência da inflação gerada domesticamente” continua a ser uma barreira para atingir a meta de 2%.

Um dilema semelhante surge na Europa e nos EUA, partes do mundo que compartilham uma meta de inflação de 2% e uma sensação de que o ritmo subjacente de salto dos preços ficou travado em um nível muito mais alto do que isso.

O ponto fora da curva continua a ser o Japão, onde a inflação estagnada há muito tempo e o crescimento salarial apenas agora mostram sinais de mudança.

O presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, em sua coletiva de imprensa inaugural na segunda-feira (10), enfatizou a necessidade de manter uma política monetária ultraflexível para atingir de forma sustentável a meta de inflação de 2%.

Inflação enraizada

Na Europa, após evitar a recessão e enfrentar um inverno com preços de energia abaixo do esperado, apesar da guerra na Ucrânia, as preocupações com a inflação mudaram da taxa básica impulsionada pelo petróleo para uma série de preços que continuam a subir.

Salários, serviços e alimentos impulsionam o atual crescimento dos preços a tal ponto que a atenção do Banco Central Europeu (BCE) se voltou quase inteiramente para a inflação subjacente, com medo de que o rápido crescimento dos preços corra o risco de ficar travado acima da meta.

Philip Lane, economista-chefe do BCE que normalmente tem uma postura mais cautelosa, chegou a sinalizar a possibilidade de vários aumentos de juros, já que o núcleo da inflação subiu para um recorde de 5,7% no mês passado. A inflação geral está quase 4 pontos percentuais abaixo do pico de outubro.

Uma medida de inflação dos EUA citada por autoridades do Fed, que exclui bens com os movimentos maiores e menores de preços, mostrou pouca melhora, passando de 4,75% em agosto para 4,59% em fevereiro.

A expectativa é de que o banco central dos EUA suba sua taxa de juros de referência em mais 0,25 ponto percentual no próximo mês e sinalize se mais incrementos podem ser justificados.

O mercado de trabalho dos EUA continua forte, com a inflação agora concentrada em setores que são os mais intensivos em mão de obra e, segundo algumas pesquisas, os menos sensíveis a juros mais altos — más notícias para o Fed e uma dinâmica que pode elevar os custos dos empréstimos.

Fonte: Reuters

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