Qual a relação do Brasil com a Turquia, que tem eleições presidenciais neste domingo

Países intensificaram comércio bilateral nos últimos anos e podem se unir para intermediar paz na Ucrânia

Aliada de longa data do Brasil e com comércio bilateral crescente, a Turquia realiza eleições presidenciais e parlamentares neste domingo (14). O atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, no poder há 20 anos, tenta a reeleição.

O terremoto que atingiu a região em fevereiro e deixou mais de 50 mil mortos e mais de 5,9 milhões de deslocados na Turquia e Síria será um fator que influenciará as eleições. Além disso, o país passa por uma crise econômica.

Assim, analistas preveem número recorde de eleitores neste ano, além de uma corrida parelha pela Presidência.

Relações com o Brasil

Conforme ressalta Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do IBMEC de Belo Horizonte, apesar da distância geográfica, Brasil e Turquia mantém relações “centenárias bastante amistosas”, dividindo espaço no G20 e outros sistemas multilaterais.

“O ponto forte entre os dois países é o comércio internacional, que já extrapola os 5 bilhões de dólares ao ano, segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para 2022”, destaca.

Segundo dados da embaixada brasileira em Ancara, o valor total dos produtos vendidos do Brasil para a Turquia nos últimos anos aumentou de US$ 2,6 bilhões em 2019 para US$ 3,8 bilhões em 2021, por exemplo.

As exportações turcas para o território brasileiro, por sua vez, passaram de US$ 500 milhões em 2019 para US$ 1 bilhão em 2021.

Mendonça explica que o Brasil exporta principalmente matéria-prima para a Turquia, enquanto importa alguns produtos “semimanufaturados”.

“Em 2010, houve uma grande aproximação entre os dois países, que selaram o acordo de Teerã, desenvolvido principalmente pelo chanceler brasileiro à época, Celso Amorim, que hoje integra a assessoria presidencial”, relembra. A declaração de Teerã juntou Brasil e Turquia para resolver um impasse quanto ao avanço da tecnologia nuclear no Irã.

Leandro Consentino, professor de Relações Internacionais, destaca o crescimento do comércio entre os países nos últimos anos, mas que uma das dificuldades geopolíticas enfrentadas por essas nações é o posicionamento quanto à guerra na Ucrânia.

Consentino avaliou como ambíguo o posicionamento brasileiro, que pode impactar também nas relações com a Turquia.

Continuidade de Erdogan “precificada”

Ambos os especialistas entendem que a continuidade de Recep Tayyip Erdogan como presidente turco pode significar a manutenção das relações entre os países. Leandro Consentino pontua que seria, de alguma forma, “precificada”.

“Já está aí dentro das nossas expectativas nos últimos anos, dado que é um governo que já dura muitos anos e que o governo Lula já sabia lidar com ele e já soube”, coloca.

O especialista levanta a questão, entretanto, de que “Erdogan se coloca como uma dessas forças e iliberais que o Brasil diz hoje combater no plano internacional”.

“Então também é um ingrediente a mais, importante do ponto de vista de como que o Brasil se comporta diante de um [governante] que é autoritário. Mas sabemos também que o atual governo brasileiro faz um pouco de seletividade naqueles governos que critica”, avalia.

Citando as relações com os governos de Cuba, Nicarágua e Venezuela, Consentino diz que não seria difícil “transformar” Erdogan em uma figura que não deva ser criticada frontalmente.

Possível aliada para “planos de paz” do Brasil?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou em algumas oportunidades sobre criar um grupo de países para intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia.

O ex-chanceler e assessor especial para assuntos internacionais Celso Amorim, inclusive, discutiu essa questão com autoridades ucranianas nesta semana, incluindo o presidente Volodymyr Zelensky.

A Turquia faz parte da Otan e, historicamente, tem forte relação com a Rússia, sendo, por exemplo, um entrave para a adição de novos membros ao grupo militar.

Recentemente, Vladimir Putin, presidente russo, participou virtualmente da inauguração de uma usina nuclear em Akkuyu, na Turquia. Ela é propriedade e será operada pela estatal russa Rosatom.

Esse movimento aumenta a dependência energética turca com relação aos russos, o que não é visto com bons olhos por potências do Ocidente. Especialistas também avaliam que mesmo uma troca na Presidência pode não representar o fim dos laços com a Rússia.

Entretanto, a Turquia pode ter papel importante na busca pela paz na Ucrânia. “Brasileiros e turcos já agiram em parceria no passado para buscar o entendimento entre países e essa cooperação pode ser reajustada para 2023 especialmente diante do interesse de ambos os países em se destacar na questão da segurança internacional”, pondera Christopher Mendonça.

Consentino também ressalta que a Turquia pode ser uma aliada para os planos brasileiros, mas acha difícil que esses países consigam exercer uma “posição de neutralidade”.

“Eu acho que o Brasil flerta com essa neutralidade, mas, no fundo, o governo brasileiro se aproximou muito mais de Moscou do que de Kiev”, analisa.

Mesmo com a visita de Amorim à Ucrânia, podendo significar uma mudança no posicionamento brasileiro, o discurso pode não chegar a “equidistância” necessária.

“Então só o pragmatismo vai nos dizer se isso é possível do ponto de vista desse movimento de não alinhamento entre os dois lados ser estabelecido por Brasil e Turquia e outros países”, finaliza Consentino.

Como funcionam as eleições na Turquia

As eleições para presidente e para o Parlamento na Turquia acontecem simultaneamente a cada cinco anos.

Para se candidatar à Presidência, o partido necessita ter ultrapassado da marca de 5% dos votos nas últimas eleições parlamentares, ou então ter 100 mil assinaturas apoiando uma nomeação.

O candidato que tiver mais de 50% dos votos no primeiro turno será eleito. Se isso não ocorrer, haverá segundo turno entre os dois nomes mais bem votados.

Já no caso do Parlamento, o país segue o sistema de representação proporcional, sendo que o número de assentos que um partido obtém — do total de 600 assentos — é diretamente proporcional aos votos que ganha.

Além disso, os partidos precisam conseguir pelo menos 7% dos votos — sozinhos ou em “aliança” — para poder colocar representantes no Congresso.

Neste domingo (14), as urnas abriram às 08h, fechando às 17h, ambos horários locais — a abertura ocorreu às 02h do horário de Brasília. Os resultados devem sair por volta de 21h, também no horário local.

Caso seja necessário um segundo turno na disputa presidencial, ele será realizado no dia 28 de maio.

Fonte: CNN

Publicidade

Últimas Notícias

Noruega anuncia doação de US$ 60 milhões ao Fundo Amazônia

Em reconhecimento aos esforços do Brasil com a redução do desmatamento da Amazônia em 31%, em 2023, a Noruega fará a doação de US$ 60 milhões, cerca de R$ 348 milhões na cotação desta segunda-feira (18), para o Fundo Amazônia. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro Jonas Gahr Støre, neste domingo (17), durante a Conferência

Leia mais »

Revista PIM Amazônia

Rolar para cima