A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta segunda (17/7) que o bloco pretende investir 45 bilhões de euros (cerca de R$ 243 bilhões) na América Latina e Caribe até 2027.
Os recursos fazem parte do programa Global Gateway, para subsidiar infraestrutura em países de renda média e baixa, com critérios ambientais. O anúncio ocorreu durante a abertura da Cúpula UE-CELAC.
“Construímos juntos uma agenda de investimentos de alta qualidade, para o benefício de ambas as nossas regiões. Acordamos setores e cadeias de valor para priorizar, desde energia limpa e matérias-primas essenciais até saúde e educação”, descreveu von der Leyen.
A preocupação do bloco é garantir suprimento, especialmente na área de energia. A guerra da Rússia contra a Ucrânia colocou em evidência a fragilidade do abastecimento europeu e sua dependência também em relação à China.
“O mundo em que vivemos é mais competitivo, mais conflituoso do que nunca. Ainda se recuperando do peso da pandemia de Covid-19, o mundo está sofrendo um forte impacto da agressão russa contra a Ucrânia. E isso acontece no contexto da crescente assertividade da China no exterior”, discursou a líder europeia.
O bloco estabeleceu metas agressivas para transição energética, como chegar a 20 milhões de toneladas de hidrogênio renovável na matriz e banir carros que emitem CO2 até 2035, apostando na eletrificação da frota.
Só que metade desse hidrogênio será importado, e pode faltar baterias para a descarbonização do setor de transportes até 2035.
Um relatório do órgão fiscalizador financeiro do bloco divulgado em junho pela S&P Global alerta que os fabricantes da UE enfrentam uma escassez iminente de matérias-primas para baterias a partir de 2030, devido ao aumento da demanda global e às limitações na oferta doméstica da UE.
Essa conjuntura coloca pressão sobre o bloco para buscar acordos na América Latina, onde Argentina, Chile e Bolívia formam o ´triângulo do lítio’, com a maior reserva mundial do metal crítico para a produção de baterias.
No mês passado, Argentina e UE assinaram um memorando de entendimento (MoU) para aumentar a cooperação em matérias-primas sustentáveis.
Matérias-primas críticas
De acordo com von der Leyen, mais de 135 projetos já estão em andamento, desde hidrogênio limpo até matérias-primas críticas, passando pela expansão da rede de cabos de dados de alto desempenho até a produção das vacinas de mRNA mais avançadas.
No caso do lítio, a UE pretende estabelecer parcerias com Argentina e Chile na exploração do mineral para as baterias que vão sustentar a transição do setor automotivo nos países europeus.
O bloco também desenvolve um ‘clube de matérias-primas críticas’ para fortalecer as cadeias de abastecimento.
Segundo a Bloomberg, funcionários da União Europeia estão trabalhando em um plano para fornecer ônibus elétricos para nações latino-americanas em troca de suprimentos de lítio, enquanto buscam reduzir a dependência da China para esta matéria-prima crítica.
No anúncio de hoje, Ursula von der Leyen disse que os investimentos europeus virão com forte foco na criação de cadeias de valor locais.
“Se quisermos ter sucesso nas tecnologias verdes e digitais, nossas indústrias precisam ter acesso a matérias-primas essenciais. (…) Ao contrário de outros investidores estrangeiros, não estamos interessados apenas em investir na extração pura de matérias-primas”, discursou.
A presidente da Comissão Europeia afirmou que a intenção é construir capacidade local de processamento, fabricação de baterias e produtos finais, como veículos elétricos.
“Além do investimento, podemos contribuir com tecnologia de ponta e treinamento de alta qualidade para trabalhadores locais. É justamente para esse tipo de investimento que criamos o Global Gateway”, garantiu.
Fonte: Agência epbr