Por Cimone Barros – Inpa/Mcti
A ciência da Amazônia precisa ser feita na Amazônia, com investimento de longo prazo, olhar estratégico e em diálogo com os povos da região. A mensagem é de cientistas que participam do evento IANAS Amazon Initiative – Science by and for the Amazon, realizado nesta quarta e quinta-feira, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/Mcti), em Manaus-AM, que buscou gerar contribuições da comunidade científica do continente americano para a Cúpula dos Países Amazônicos.
O evento é organizado pela Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), com o intuito de apoiar o desenvolvimento de soluções sustentáveis para a Amazônia, baseadas na ciência e na educação. A Carta de Manaus produzida a partir dos debates realizados na capital amazonense será apresentada no encontro dos ministros e chefes de Estado – Cúpula da Amazônia, que acontecerá na próxima semana (8 e 9), em Belém/PA.
De acordo com a presidente da ABC, Helena Nader, se não tiver uma rede de colaboração entre todos os países da Amazônia e uma equidade de fato para os povos que habitam a região “nada vai acontecer”.
“Acreditamos que, via ciência e colaboração entre os países da Amazônia e os demais das Américas, podemos conseguir ter um impacto na conservação e no uso correto da biodiversidade da Amazônia e com isso ter impacto nas mudanças climáticas”, destacou Nader.
A cientista ressalta ainda que os benefícios de manter a floresta conservada precisam chegar aos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas da região.
“Nós não podemos esperar que eles mantenham a floresta de pé para o nosso insumo de conforto. O conforto também tem que chegar a eles via educação, aumento da renda, melhores condições de habitação e de comunicação”, defendeu Nader.
Para o vice-presidente da ABC da região Norte e pesquisador do Inpa, Adalberto Val, ciência e tecnologia (C&T) e capacitação de pessoal são condições essenciais para ter um desenvolvimento sustentável da Amazônia, entendido por ele como processos que conservem o ambiente, mas também viabilizem a inclusão e a geração de renda na região. Para isso, segundo o pesquisador, é necessário aumentar os investimentos em C&T na Amazônia, que recebe apenas 2,5% do total investido nessa área no Brasil.
“Nós não queremos um investimento histórico, nós queremos um investimento estratégico para a Amazônia, para que possa ocupar o lugar que lhe cabe no mundo atual”, afirmou Val.
Durante o encontro, a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Mcti), Márcia Barbosa, adiantou que na Cúpula da Amazônia será anunciada a criação de um projeto pró-Amazônia, com um olhar para as cadeias produtivas e dar escala para algumas espécies da biodiversidade da região, identificando potenciais para o desenvolvimento tecnológico de ponta.
“Há um fundo dentro do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [FNDCT], grande fundo financeiro, que será dedicado à Amazônia. Uma das questões que entrará nesse fundo é termos aqui iniciativas que chamamos de cadeia produtiva. Vamos identificar produções locais e fazer um diálogo com ciência e tecnologia de ponta para que possamos ter o que é produzido aqui – como pirarucu e cupuaçu- em supermercados do Brasil e do mundo”, contou Barbosa.
A mesa de abertura contou com a participação de Márcia Perales, diretora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Braulio Dias do Ministério do Meio Ambiente (MMA), María Alexandra López da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Karen Strier (Ianas), Helena Nader (ABC/Ianas), Marcia Barbosa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação(Mcti/ABC), Antonio Ricarte (Itamaraty), Virgilio Almeida (ABC), Marcos Cortesão (ABC) e a pesquisadora Marina Anciães, que no ato representou a diretora do Inpa, Antonia Franco.