Países amazônicos querem trocar dívida por ação climática

A ideia é reformar o sistema financeiro global para reduzir juros de dívida e dar mais espaço orçamentário para países de renda média e baixa investirem na transição ecológica

Os países da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica) formalizaram na declaração final da Cúpula Amazônica uma proposta do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de “trocar dívida por ação climática”.

Chamada Declaração de Belém, em referência à cidade que está sediando a cúpula, a carta publicada nesta terça (8/8) consolida os posicionamentos que serão levados à COP28, no final do ano, por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

Entre os mais de 100 objetivos elencados pela OTCA, está a o de “promover mecanismos inovadores de financiamento para ações climáticas, incluindo a troca de dívidas por ações climáticas por parte dos países desenvolvidos”.

A ideia é reformar o sistema financeiro global para reduzir juros de dívida e dar mais espaço orçamentário para países de renda média e baixa investirem na transição ecológica.

Petro já havia apresentado o plano, no mês passado, aos países ricos que participaram do encontro UE-Celac, e esbarrou em resistências da Alemanha e União Europeia.

“Poderíamos fazer um Plano Marshall mundial e um investimento permanente anual para gerar o motor econômico da revitalização das florestas amazônicas”, explica.

Em discurso na Cúpula Amazônica nesta manhã, o presidente colombiano citou as políticas adotadas nos Estados Unidos e União Europeia para incentivar a transição doméstica para uma economia de baixo carbono, ao mesmo tempo em que tentam manter o padrão de vida de seus cidadãos, mas excluem o Sul global.

“Nós podemos contribuir, na América do Sul, de várias formas, como proteger nossas florestas. E isso exige mais do que desmatamento zero. A solução consiste em deixar o carbono, o petróleo e o gás. Mas essa é a necessidade do Norte. A nossa é proteger a esponja [a floresta]”. 

Na visão de Petro, os serviços prestados pela floresta e o custo de reverter o que já foi destruído é alto e, se fosse valorado, nem a ajuda dos países ricos, nem as capacidades orçamentárias dos membros da OTCA seriam suficientes para cobrir.

“O planeta está nos dizendo que é hora de mudar o sistema econômico em profundidade. Esta é outra medida de riqueza que deveríamos considerar, não é mais aquela do século XX. Agora, seria uma prosperidade descarbonizada”, defende.

Transição na Colômbia. No final do ano passado, o governo colombiano publicou sua estratégia para se tornar um centro de negócios sustentáveis na América Latina, em busca de investimentos internacionais em transição energética e bioeconomia.

Com isso, o país espera exportar produtos e serviços de baixo carbono a outros mercados das Américas.

É também uma forma de viabilizar iniciativas para enfrentar a crise climática, transformando setores que mais contribuem com as emissões locais, como agricultura e florestas, energia e transporte, além de mineração.

Durante sua campanha vitoriosa para presidir a Colômbia, o esquerdista Gustavo Petro prometeu que seu governo iniciaria uma transição na economia, preparando o terreno para abandonar a dependência de combustíveis fósseis em 15 anos ao privilegiar fontes de energia limpas.

Quem contribui mais para as emissões globais de gases de efeito estufa?

Relatório do Banco Mundial mostra que os países de alta renda compreendem 16% da população global, mas produzem 31% das emissões de CO₂. 

Em média, os países de alta renda emitem 12 tCO₂e emissões de GEE por pessoa por ano, em comparação com 8 tCO₂e em países de renda média-alta, 3 tCO₂e em países de renda média-baixa e cerca de 2,5 tCO₂e em países de baixa renda.

No entanto, são os países e as pessoas mais pobres que estão mais vulneráveis ​​aos impactos das mudanças climáticas.

Os dez maiores emissores são China (26,4%), Estados Unidos (12,47%), Índia (7,06%), Rússia (5,15%), Japão (2,42%), Brasil (2,2%), Indonésia (2,08%), Irã ( 1,86%), Alemanha (1,56%) e Canadá (1,53%), de acordo com dados de 2019 do Banco Mundial, excluindo uso da terra.

Esses dez representam mais de 60% (30,2 bilhões de toneladas de CO₂e) do total global. A maioria deles tem grandes populações e emissões mais altas por pessoa do que a média mundial de 6,21 tCO₂e por pessoa.

Desde 1750, cerca de 1.700 bilhões tCO₂e foram emitidos. Os maiores contribuintes foram os países de alta renda, respondendo por mais da metade de todas as emissões (58%) e contrastando com as emissões de países de baixa renda (0,6%) e de renda média-baixa (10%).

Vale lembrar: os últimos oito anos (2015 a 2022) foram os mais quentes já registrados.

Com a intensificação das mudanças climáticas, o Banco Mundial calcula que até 132 milhões de pessoas sejam empurradas para a pobreza até 2030.

“Impactos de longo prazo das mudanças climáticas – como aumento do estresse hídrico, queda na produtividade das colheitas e aumento do nível do mar – podem levar mais de 200 milhões de pessoas a migrar dentro de seus países até 2050”, estima.

Fonte: Agência epbr

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