A crise climática, a guerra na Ucrânia e as disputas por mercado e cadeias de suprimentos entre Estados Unidos, Europa e China estão mudando a forma como as grandes empresas planejam seus investimentos.
Se, até outro dia, o fator mão de obra barata era decisivo na hora de escolher onde instalar uma indústria, hoje, é a disponibilidade de energia barata, segura e descarbonizada que está entrando no radar das multinacionais.
Esse movimento tem nome: powershoring. E o Brasil tem muito a ganhar com ele.
A palavra em inglês combina energia (power) e escoramento (shoring) para designar as estratégias ancoradas na oferta de energia.
“A pergunta sempre foi onde é que eu fabrico bem e barato. Agora é onde eu fabrico bem, barato e consigo compensar as emissões de carbono. O Brasil é uma grande alternativa. Nós teremos uma grande oportunidade”, disse nesta terça (15/8) o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio (MDIC), Geraldo Alckmin.
Segundo o vice-presidente, o Brasil é o 5º país em atração de investimentos diretos, e o movimento global em busca de energia descarbonizada e competitiva pode melhorar essa posição. “A neoindustrialização é inovação e verde”, afirma o vice-presidente.
Ele participou nesta manhã de um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para discutir os planos do governo Lula (PT) de retomada da industrialização brasileira em bases verdes.
Robson Andrade, presidente da CNI, explica que o setor produtivo está se adequando às regras internacionais para proteção do meio ambiente e oferta de produtos sustentáveis, o que tem levado a um redirecionamento dos investimentos a países e regiões que dispõem de oferta abundante de energia limpa a preços competitivos.
O executivo acredita que o país, com seu potencial de geração renovável, pode se beneficiar desse movimento, atraindo a instalação de novas indústrias – o que gera emprego e renda em território nacional.
“Para isso, precisamos de medidas que ampliem a eficiência energética. Também são indispensáveis ações de fomento à cadeia do hidrogênio de baixo carbono e de outras fontes renováveis, bioeconomia e instituição do mercado regulado de carbono”, enumera.
O potencial brasileiro na geração renovável é realmente grande: dos 319 gigawatts (GW) de novos projetos em grande escala anunciados na América Latina para entrar em operação até 2030, 217 GW estão no Brasil, de acordo com o Global Energy Monitor.
Mas a viabilidade de concretizar esses investimentos está atrelada ao ambiente regulatório e geopolítico.
Por exemplo, a indústria eólica offshore depende da aprovação de um marco legal para se instalar no Brasil. E também de um plano industrial que incentive a demanda por essa eletricidade nova.
Políticas industriais verdes já estão ocorrendo na China e em países ricos do Ocidente. O plano industrial do Green Deal da União Europeia, destina cerca de US$ 600 bilhões para projetos que ajudem a indústria a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O bloco também está aplicando recursos em países parceiros para diversificar as cadeias de suprimentos e ficar menos dependente da China e da Rússia. Na América Latina, a previsão de investimentos é da ordem de 45 bilhões de euros (cerca de R$ 243 bilhões) até 2027.
A Lei de Redução da Inflação (IRA), do governo Biden nos EUA, o programa de US$ 8 bilhões para descarbonização da produção industrial do Reino Unido, e a estratégia de hidrogênio verde da Alemanha com US$ 9,5 bilhões para subsidiar a cadeia são outros exemplos, lista o presidente da CNI.
“O Brasil, que é dono de um admirável patrimônio natural, precisa seguir o exemplo dessas nações e ter um projeto consistente de desenvolvimento sustentável”, defende Andrade.
É o que o governo federal espera conseguir alcançar com o plano de neoindustrialização do MDIC, o novo PAC e o Plano de Transição Ecológica da Fazenda, avalia Nelson Barbosa, diretor de Planejamento do BNDES.
“O mundo está fazendo política industrial e o Brasil pode aproveitar esse momento para relocalizar atividades intensivas em energia para o seu território. Isso é um desafio que exige capital financeiro, humano e institucional”, afirma.
“Esse capital institucional significa colocar as instituições do governo federal para trabalhar juntas, de forma coordenada e com isso facilitar os investimentos privados e melhorar a eficiência do próprio governo”, conclui.
Fonte: Agência epbr