Da Redação, com informações do G1 e BBC News
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitou, nesta quarta-feira, 25, as propostas dos Estados Unidos e Rússia para resolução do conflito no Oriente Médio. A votação ocorreu no momento em que o Governo de Israel recusou um visto ao chefe dos assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, em represália ao discurso realizado na última terça-feira, 24, pelo secretário-geral da ONU António Guterres. Na ocasião, Guterres ressaltou que há décadas Israel faz uma “ocupação sufocante” na Palestina.
“É importante reconhecer que os atos do Hamas não aconteceram por acaso. O povo palestino foi submetido a 56 anos de uma ocupação sufocante. Eles viram suas terras serem brutalmente tomadas e varridas pela violência. A economia sofreu, as pessoas ficaram desabrigadas e suas casas foram demolidas”, discursou Guterres, ressaltando, porém, que “os sofreres do povo palestino não poderiam justificar os ataques do Hamas”.
A declaração gerou reação imediata, com o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, cancelando uma reunião agendada com Guterres na mesma terça-feira. Em paralelo, o enviado de Israel à ONU, Gilad Erdan, pediu a demissão do secretário-geral, dizendo que Israel deve repensar as suas relações com o organismo mundial e que passaria a recusar todos os vistos aos representantes da ONU. “Chegou a hora de lhes ensinar uma lição”, afirmou.
Na manhã desta quarta-feira, antes da votação das propostas de EUA e Rússia para o conflito, António Guterres afirmou estar chocado com as “interpretações erradas” de sua declaração ao Conselho de Segurança na terça-feira.
“Estou chocado com as interpretações erradas de algumas das minhas declarações de ontem no Conselho de Segurança, como se eu estivesse a justificar atos de terror do Hamas. Isso é falso. Foi o oposto”, afirmou. “No início da minha fala de ontem, afirmei claramente – e volto a citar: ‘Condeno inequivocamente os horríveis e sem precedentes atos de terror de 7 de outubro cometidos pelo Hamas em Israel'”, reiterou.
As mortes na Faixa de Gaza desde o início da guerra entre Israel e o Hamas subiram para 6.546, afirmou nesta quarta-feira, 25, o Ministério da Saúde Palestino, controlado pelo Hamas. As informações não foram verificadas de forma independente, mas, se confirmadas, o número total de mortos na guerra é agora de 7.948. Só nas últimas 24 horas, ainda segundo o ministério palestino, mais de 750 pessoas morreram em Gaza, o maior número de mortos por dia desde o início da guerra.
Na votação desta quarta-feira, no Conselho de Segurança da ONU, Brasil e Moçambique se abstiveram em relação à proposta dos Estados Unidos de solução do conflito no Oriente Médio. Rússia e China, dois integrantes permanentes do Conselho, vetaram a resolução. Os Emirados Árabes Unidos também votaram contra. Foram favoráveis os votos de Albânia, França, Equador, Gabão, Gana, Japão, Malta, Suíça, Reino Unido e EUA.
Já o texto da Rússia foi vetado pois os EUA, que é um membro permanente do grupo, votaram contra. Houve 9 abstenções: Brasil, Albânia, Equador, França, Gana, Japão, Malta, Moçambique e Suíça. Votaram a favor China, Gabão, Rússia e Emirados Árabes.
Na semana passada, os Estados Unidos vetaram uma resolução elaborada pelo Brasil, que havia recebido 12 votos a favor. Washington criticou a falta de menção ao “direito de Israel de se defender”.
De acordo com a AFP, a nova resolução russa volta a pedir “o estabelecimento imediato de um cessar-fogo humanitário duradouro e plenamente respeitado” e condena “toda a violência e hostilidades contra civis”. Diferentemente do texto que recebeu votos de apenas cinco países na semana passada, a nova proposta menciona especificamente o Hamas e “condena os abomináveis ataques” do grupo em Israel, em 7 de outubro.
Para ser adotada, uma resolução exige a aprovação de pelo menos nove dos 15 membros do Conselho e sem veto de nenhum dos cinco membros permanentes (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China).
Mais de 30 funcionários da ONU já morreram vítimas dos bombardeios a Gaza
Durante seu discurso, na terça-feira, o secretário-geral da ONU António Guterres afirmou que cerca de 35 funcionários das Nações Unidas morreram em Gaza desde o início da guerra e pediu novamente para que Israel e Egito destravem negociações para a entrada de ajuda humanitária no território – até agora, apenas três comboios com menos de cem caminhões foram permitidos em Gaza.
A ONU disse que a ajuda autorizada, até o momento, não é nem um terço de todos os itens que os palestinos em Gaza precisam. “Gaza precisa de envios frequentes de ajudas humanitárias de acordo com a enorme necessidade. E essa ajuda tem que ser sem nenhuma restrição”, disse.
Na mesma sessão o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, defendeu os bombardeios de seu país na Faixa de Gaza e disse que a guerra “é uma questão de sobrevivência”.
“Para nós, (a guerra) é uma questão de sobrevivência. O mundo livre precisa se lembrar, precisa nunca esquecer o que ocorreu dia 7 de outubro. A resposta proporcional aos ataques do Hamas a Israel é eliminar o Hamas totalmente”, declarou.
Já Riyad al-Maliki, Ministro das Relações Exteriores da Palestina, agradeceu aos países vizinhos, ao Brasil e à ONU pelo apoio recebido durante a reunião do Conselho de Segurança.
“Precisamos de uma realidade em que palestinos e israelenses não sejam mortos e que tenham paz e segurança. Essa realidade é que merece todos os esforços e investimentos”, disse ele.
Crianças são as principais vítimas do confronto
Segundo a ONU, desde o início dos bombardeios de retaliação de Israel após os ataques do Hamas em 7 de outubro, 2.360 crianças morreram e 5.364 ficaram feridas na Faixa de Gaza, ou seja, 400 mortas ou feridas por dia. As crianças são quase 40% de todos os mortos no território, segundo autoridades palestinas.
Além disso, mais de 30 crianças israelenses foram mortas pelo Hamas, e dezenas permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza. É a escalada mais mortífera na Faixa de Gaza e em Israel que a ONU testemunhou desde 2006.
“Quase todas as crianças na Faixa de Gaza foram expostas a acontecimentos e traumas profundamente angustiantes, marcados por destruição generalizada, ataques implacáveis, deslocamentos e grave escassez de bens de primeira necessidade, como alimentos, água e medicamentos”, disse em comunicado o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Para Adele Khodr, diretora regional da Unicef para o Oriente Médio e Norte de África, “o assassinato e a mutilação de crianças, o sequestro de crianças, os ataques a hospitais e escolas e a negação do acesso humanitário constituem graves violações dos direitos das crianças”.
“A Unicef apela urgentemente a todas as partes para que concordem com um cessar-fogo, permitam o acesso humanitário e libertem todos os reféns. Até as guerras têm regras. Os civis devem ser protegidos — especialmente as crianças — e todos os esforços devem ser feitos para poupá-las em todas as circunstâncias”, acrescentou, em entrevista à BBC News.
Falta combustível para operações humanitárias
Juliette Touma, a diretora de comunicações da Agência da ONU para refugiados palestinos, afirmou que a entidade precisa de combustível para suas operações no território palestino e, se não houver abastecimento até a noite de quarta-feira, o atendimento será interrompido.
“Precisamos de combustível para nossa frota de carros, para os nossos caminhões carregarem suprimentos, para as padarias, para a estação de bombeamento de água, para os hospitais e outras instalações médicas. Combustível é essencial para as pessoas na Faixa de Gaza”, disse ela.