Tempestade de areia pode se repetir em Manaus 

Influência do fenômeno El Niño potencializou o efeito de um tipo de tempestade que é comum nesta época do ano, na região
Imagem: reprodução/ redes sociais

Da Redação, com informações da Agência Amazonas, G1 e Amazonas Atual

A “tempestade de areia” observada em Manaus (AM), em 5 de novembro, pode voltar a ocorrer até o fim do ano. O alerta é do Sistema de Proteção a Amazônia (Sipam). Segundo o órgão, tempestades como essa são comuns nesta época do ano, por ser um período de transição entre a fase menos chuvosa [o verão amazônico] e mais chuvosa [inverno amazônico]. Porém, a influência do fenômeno El Niño, este ano, acaba resultando em um impacto maior sobre a cidade.  

O Sipam explica que o El Niño é um fenômeno climático natural, definido como “a persistência do aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico – assim como as águas do Oceano Atlântico na porção norte estão mais quentes que a média”. Na prática, essas condições dos Oceanos mudam a circulação dos ventos na atmosfera, “resultando na inibição da formação de nuvens mais robustas e, com isso, reduzindo e atrasando o início das chuvas em grande parte da Amazônia Legal”.  

A tempestade de domingo ocorreu após dias com uma névoa de fumaça densa encobrindo a capital amazonense, a partir de uma grande ventania registrada principalmente na Zona Oeste de Manaus, que resultou na suspensão de partículas de areia, provocando a “tempestade de areia” na região.   

Segundo registros publicados em diferentes perfis nas redes sociais, é possível ver que a nuvem de segmentos encobriu prédios e atrapalhou a visão de moradores locais. Além disso, os ventos fortes provocaram queda de energia em algumas localidades e destelharam pelos menos três casas na capital.   

No mesmo dia, não houve registro de chuva na Estação Meteorológica do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), localizada na zona centro-sul da capital, assim como no Aeroporto de Ponta Pelada (Base Aérea de Manaus). Houve registro de chuva nas vizinhanças do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, onde foram registradas rajadas de vento de 70,4 km/h. 

“No trimestre outubro-novembro e dezembro é comum a ocorrência deste tipo de evento, que geralmente são bem localizados, de curta duração, mas que podem precipitar grandes volumes de chuva, por vezes acompanharas de rajadas de vento, descargas elétricas e até precipitar chuva na forma sólida, que chamamos de granizo”, informa o Sipam, em nota enviada à imprensa.  

O morador Lincoln Ribeiro presenciou a tempestade de areia, consequência da ventania, e fez um registro em vídeo da situação para seu perfil na rede social ‘X’. Até a publicação desse material, o vídeo já ultrapassava 300 mil visualizações. Pela filmagem, é possível ouvir o vento contra a varanda dos prédios, além de edifícios turvos e encobertos pela poeira logo afrente. 

Lincoln aponta que, ao lado do seu condomínio, existe uma área grande passando por um processo de construção. “Acredito que, como tava muito seco, o barro voou todo de lá com a ventania”, afirmou Lincoln.  

Novembro começa com previsão de chuva para capital   

Nesta terça-feira, 7, a capital amazonense registrou uma forte chuva pela manhã. Segundo o Inmet, a previsão para o período de 06 a 13 deste mês é de pancadas de chuva, com volumes maiores que 50 milímetros (mm), no Amazonas. Logo, é possível que volte a chover ao longo desta semana. 

De acordo com a Defesa Civil do município, choveu uma média de 47 milímetros (mm) nas últimas 24 horas. Por conta disso, a chuva dissipou a fumaça e a qualidade do ar voltou a ficar em índices considerados bons, conforme o Sistema Eletrônico de Vigilância Ambiental (Selva).   

Embora a situação traga esperança aos manauaras, a expectativa é que os efeitos da estiagem sejam sentidos pelo menos até o início de 2024, conforme nota do Inpe, em parceria com o Inmet.  

“A partir do final do ano e início do próximo ano, a tendência é de chuvas preferencialmente abaixo da média, com a possibilidade do estabelecimento de condições de secas de diversas intensidades principalmente no norte e leste da Amazônia, sendo estas influenciadas principalmente pelo fenômeno El Niño”, informa a nota.  

Governo do Pará diz não ser possível afirmar que fumaça das queimadas no estado tenha migrado para Manaus 

De acordo com o Boletim da Estiagem, publicado dia 6 de novembro, os 62 munícipios continuam em estado de emergência, com 598 mil pessoas afetadas e 18.776 focos de calor (até 5 de novembro), em todo o Estado.  

Nesta segunda-feira, 6, o Ibama informou que está realizando perícias nos locais onde ocorreram incêndios florestais no Amazonas. Só em outubro, segundo o Inpe, o estado teve quase 4 mil focos de calor, o pior índice registrado nos últimos 25 anos.  

O Instituto também indicou que tem atuado para extinguir o fogo que tem provocado a fumaça que atinge Manaus e outras localidades, atuando tanto no Amazonas, quanto no Pará.   

Ainda na sexta, 3, o Governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima, mencionou que a fumaça que encobria Manaus vinha de queimadas registradas no Pará.  “Essa fumaça que tá vindo aqui, ela tá vindo do estado vizinho, do Estado do Pará, que nesse momento também começa a sofrer os efeitos da estiagem”, afirmou, em vídeo divulgado na internet.  

De acordo com dados do Inpe, o Amazonas responde hoje por 17,4% dos focos de queimada da Amazônia. Já o vizinho, Pará, abriga 51,5% das queimadas. O Governo do Pará, por meio de nota enviada ao site G1 pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado (Semas/PA), disse não haver confirmação de que a fumaça esteja migrando entre os estados. 

“A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (SEMAS) informa que o estado reduziu o desmatamento e que em julho, agosto e setembro, registrou o melhor trimestre do ano com a queda de 56%. O Pará não tem confirmação de que a fumaça em Manaus seja proveniente do Estado. 

A Semas informa que com o El Niño, o Pará enfrenta período de poucas chuvas e seca. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade reforçou o efetivo e ampliou ações de prevenção e combate aos incêndios florestais. Assim, tem alcançado redução das queimadas em extensão de área. Além disso, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil realizam mapeamento prévio nos municípios com maior número de focos, atuando com mais de 230 militares no combate às queimadas no estado.” 

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