Da Redação, com informações da CNN e g1
Depois de muita especulação sobre o tema nos bastidores da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Dubai, a COP 28, o texto final do evento foi divulgado contendo a manifestação favorável sobre a necessidade de transição energética dos combustíveis fósseis para fontes de energia mais limpas.
A decisão foi endossada nesta quarta-feira, 13, por representantes de todos os 198 países presentes na conferência, marcando um avanço histórico no combate às mudanças climáticas.
O texto de balanço geral (global stocktake) convoca os países a adotar ”a transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, de uma forma justa, ordenada e de forma equitativa, acelerando a ação nesta década crítica, de modo a atingir zero emissões líquidas até 2050 de acordo com a ciência”.
O documento “reconhece ainda a necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases do efeito estufa em linha com trajetórias de 1,5°C”.
Essa referência é importante porque reafirma o compromisso de que os países devem trabalhar para manter o nível máximo de aquecimento global a 1,5°C, em média, em relação aos níveis pré-industriais.
O documento não fala em eliminar totalmente, ou mesmo gradualmente, o uso dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás), como queriam alguns países e boa parte da sociedade civil presente à COP.
No entanto, é preciso lembrar que até esta conferência, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (um dos maiores produtores de petróleo do mundo), a expressão “combustíveis fósseis” jamais constou dos textos oficiais das COP – realizadas há mais de 30 anos.
Os combustíveis fósseis são os maiores responsáveis pelos gases de efeito estufa, que causam as mudanças climáticas. Apesar disso, propostas formais nas COPs para a transição energética para combustíveis mais limpos sempre sofreram oposição dos grandes países produtores de petróleo.
Antes da COP28, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o cartel que tenta controlar preços e a produção do produto, pediu que os seus membros vetassem qualquer menção a combustíveis fósseis no acordo final da cúpula.
O presidente da COP28, Sultan al-Jaber, saudou o acordo climático aprovado por quase 200 países nesta quarta-feira como um “pacote histórico” de medidas que oferece um “plano robusto” para manter a meta de 1,5ºC dentro do alcance.
Reações – Cientistas e representantes de diferentes países se posicionaram com relação ao texto aprovado. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, ressaltou o lado histórico do acordo, que mostra o “mapa do caminho” e que vai cobrar responsabilidade dos países ricos em sua implementação.
“Pela primeira vez nós tivemos aqui um resultado que considera uma trajetória para levar ao fim do uso de combustíveis fósseis. (…) Nós trabalhamos para que países em desenvolvimento e países ricos sejam todos eles comprometidos com essa responsabilidade comum”, disse Marina.
“O ganho real da COP28 foi colocar tais combustíveis no centro do debate, responsabilidade que nenhuma das 27 Conferências do Clima anteriores tinham assumido”, afirma Camila Jardim, especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil.
O Ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, disse que “é a primeira vez que o mundo se une em torno de um texto tão claro sobre a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis. Foi o elefante na sala, finalmente abordamos isso de frente. Este é o resultado de muitas conversas e diplomacia intensa”. A Noruega é uma grande produtora de petróleo e gás.
O vice-líder global de clima e energia do WWF, Stephen Cornelius, considerou que a versão é melhor do que a inicial, mas ainda não atingiu o ponto desejado. “Este projeto é uma melhoria extremamente necessária em relação à última versão, que causou indignação com razão. A linguagem sobre os combustíveis fósseis melhorou muito, mas ainda não chega a exigir a eliminação total do carvão, petróleo e gás”, disse.
Andrew Deutz, diretor de Política Global e Financiamento para a Conservação da ONG The Nature Conservancy, disse que trata-se “de um passo na direção certa, mas não o salto que o mundo precisa dar para chegar a um futuro com zero emissões líquidas até 2050. Não se enganem: incluir todos os combustíveis fósseis no texto final sinaliza que os governos estão mais abertos para lidar com o elefante na sala”.
Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa disse que “a linguagem do ‘transition away’ até 2050 em linha com a ciência vai forçar uma revisão nos planos de expansão da exploração de petróleo que existem em inúmeros países, incluindo o Brasil. E isso é muito bom”.