Desmatamento da Amazônia no bimestre é o menor em seis anos, diz Imazon

Relatório divulgado nesta segunda-feira diz que marca registrada em fevereiro foi atingida após 11 meses consecutivos de queda, o que influenciou nos dados do bimestre
O primeiro bimestre de 2024 registrou um total de 196 km² de derrubada da floresta amazônica. Foto: Felipe Werneck - Ibama/ arquivo

Da Redação

O primeiro bimestre de 2024 registrou um total de 196 km² de derrubada da floresta amazônica. O percentual é 63% menor que o registrado no mesmo período de 2023, quando foi detectada a destruição de 523 km² e, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgados nesta segunda-feira, 18, representa a menor derrubada da floresta dos últimos seis anos.

Os registros do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon também mostram que o desmatamento da Amazônia teve, em fevereiro, seu 11º mês consecutivo de redução. No entanto, embora destaque o resultado positivo, o Imazon ressalta que, ao realizar a comparação com os primeiros bimestres de anos anteriores, o registrado em 2024 ainda está acimado mesmo período entre os anos de 2008 (quando o instituto implantou seu monitoramento por imagens de satélite) e 2017, com exceção apenas de 2015. Em todos os outros anos, a derrubada permaneceu abaixo dos 150 km².

Se compararmos com as capitais brasileiras, a área de floresta perdida em janeiro e fevereiro na Amazônia supera os territórios de três delas: Vitória (97 km²), Natal (167 km²) e Aracaju (182 km²). Já se equipararmos com campos de futebol, a devastação no primeiro bimestre chegou a quase 327 por dia.

“Esses dados mostram que ainda temos um grande desafio pela frente. Atingir a meta de desmatamento zero prometida para 2030 é extremamente necessário para combater as mudanças climáticas. Para isso, uma das prioridades do governo deve ser agilizar os processos em andamento de demarcação de terras indígenas e quilombolas e de criação de unidades de conservação, pois são esses os territórios que historicamente apresentam menor desmatamento na Amazônia”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.

Apenas Maranhão e Roraima registraram aumento da derrubada em fevereiro

Entre os nove estados que compõem a Amazônia Legal, os dados do Imazon indicam que apenas dois apresentaram aumento no desmatamento em fevereiro. O Maranhão, onde a devastação passou de 2 km² em fevereiro de 2023 para 5 km² no mesmo mês deste ano, uma alta de 150%, e Roraima, onde a destruição foi de 19 km² para 26 km², 37% a mais.

Porém, O Instituto ressalta que, no acumulado do bimestre, apenas o Maranhão fechou com alta. No estado, a derrubada acumulada em janeiro e fevereiro de 2024 fechou em 8 km², antes 7 km² no mesmo período do ano passado, um aumento de 14%

“Apesar da área desmatada no Maranhão ter sido a sexta menor no bimestre, esse aumento requer atenção, uma vez que todos os outros estados tiveram queda. Observamos que a derrubada neste estado está avançando para dentro dos territórios de áreas protegidas, como a Reserva Biológica do Gurupi e a Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra”, comenta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Já em relação ao tamanho das áreas desmatadas nos dois primeiros meses de 2024, o levantamento do Imazon indica que os líderes no ranking são Mato Grosso (32%), Roraima (30%) e Amazonas (16%). Juntos, eles somam 152 km² de florestas derrubadas no bimestre, 77% de toda a destruição detectada na Amazônia.

No caso de Mato Grosso, o Instituto aponta que o avanço do desmatamento está ocorrendo principalmente por causa da expansão agropecuária, com destaque para municípios como Feliz Natal, Nova Maringá, Juína, Juara, Marcelândia e Canarana, todos com presença nas listas dos 10 que mais destruíram a floresta em janeiro ou fevereiro. Os dois últimos, Marcelândia e Canarana, inclusive apareceram em ambos os meses nesses rankings.

Em Roraima, o Imazon alerta que a derrubada tem avançado inclusive dentro de terras indígenas. Em janeiro, metade dos territórios dos povos originários entre os 10 com maior desmatamento ficavam no estado. Em fevereiro, quatro estavam em solo roraimense. Foram oito territórios diferentes nos rankings, sendo três deles com presença em ambos os meses: Yanomami, Manoá-Pium e Raposa Serra do Sol.

Já no caso do Amazonas, onde os municípios da região Sul têm sido os mais críticos, também chamou a atenção dos pesquisadores do Imazon a expansão do desmatamento nos assentamentos. Em janeiro, apenas o PA Rio Juma integrou a lista dos 10 com a maior área derrubada, em quinto lugar. Em fevereiro, esse território assumiu a liderança do ranking e mais três amazonenses passaram a integrar a lista: PA Acari, PAE Lago do Acará e PAE Antimary, em segundo, terceiro e sexto lugares, respectivamente.

“Esses três estados apresentaram redução no desmatamento se compararmos este bimestre com o mesmo período do ano passado, com quedas de 74% em Mato Grosso, 59% no Amazonas e 3% em Roraima. Porém, para sair do topo do ranking, precisam intensificar suas ações de combate à derrubada nas áreas críticas e criar mais incentivos para a economia com a floresta em pé”, acrescenta Larissa.

Pará reduziu desmatamento e agora ocupa 4º lugar no ranking do bimestre

Segundo os pesquisadores do Imazon, o estado do Pará, que em anos anteriores chegou a liderar como o estado que mais desmatou a Amazônia, apresentou redução de 70% na derrubada nos primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2023. Com isso, ficou em quarto lugar no ranking dos estados que mais devastaram a floresta no primeiro bimestre, com 26 km², 13% do registrado em toda a região. O estado teve dois municípios entre os 10 mais desmatados em janeiro (Ipixuna do Pará e São Félix do Xingu) e um em fevereiro (São Félix do Xingu).

Porém, o relatório mostra pontos que precisam de maior atenção. É o caso da Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, que pelos dados do Imazon, liderou nos dois meses como a unidade de conservação mais desmatada da Amazônia, somando 5 km² perdidos no bimestre, o que equivale a 500 campos de futebol. Ainda de acordo com os pesquisadores, em janeiro, a Flona de Saracá-Taquera e a Flona do Jamanxim também ocuparam posições no ranking das 10 unidades de conservação mais destruídas da Amazônia. Já em fevereiro, além da líder APA Triunfo do Xingu e da Flona de Saracá-Taquera, o Instituto ressalta que outras duas paraenses ficaram no ranking: Flona de Itaituba II e Rebio Nascentes da Serra do Cachimbo.

“A APA Triunfo do Xingu já havia ficado no topo do ranking de desmatamento do ano passado, de janeiro a dezembro, e segue com registros de derrubada dentro de seu território. É uma unidade de conservação que precisa de proteção especial neste ano para acabar com a devastação”, alerta a pesquisadora Bianca Santos.

Segundo informações divulgadas em 7 de março pela Agência Pará, a agência de notícias do govenro do estado, “os 15 municípios do Decreto Nº 2.887, 07/02/2023, que ‘Declara Estado de Emergência Ambiental’, apresentaram uma redução de 934 km² nos alertas de desmatamento entre agosto de 2023 a fevereiro de 2024, uma queda de 66% em comparação ao período anterior. Os dados são do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que apresentou também uma queda nos alertas de desmatamento no Pará de 49% de toda a região no mesmo período.”

Sobre o SAD – O Sistema de Alerta de Desmatamento é uma ferramenta de monitoramento da Amazônia Legal baseada em imagens de satélites, desenvolvida pelo Imazon em 2008, para reportar mensalmente o ritmo da degradação florestal e do desmatamento na região. O SAD detecta a degradação florestal quando ocorrem danos nas áreas por ação da exploração madeireira ou do fogo. Já o desmatamento é identificado quando ocorre o corte raso da floresta, geralmente associado à conversão da área para pecuária, agricultura ou garimpo.

O Imazon destaca que o SAD utiliza atualmente os satélites Landsat 7 e 8, da NASA, e Sentinel 1A, 1B, 2A e 2B, da Agência Espacial Europeia (ESA). “Ambos são de domínio público, ou seja: seus dados podem ser usados por qualquer pessoa ou instituição.”

O SAD detecta degradações florestais ou desmatamentos que ocorreram em áreas a partir de 1 hectare, o que equivale a aproximadamente 1 campo de futebol. O processamento das imagens é automático, seguido de validação dos resultados por analistas para eliminar eventuais ruídos.

Polícia Federal combate a extração ilegal de madeira no Amazonas

A Polícia Federal (PF) informou que, em ação conjunta com a Marinha do Brasil, órgãos de fiscalização ambiental, Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), deflagrou, entre os dias 10 e 16 de março, a Operação Mamuru. O objetivo é prevenir e reprimir a extração ilegal de madeira no rio Mamuru, nas proximidades do município de Parintins, no Amazonas.

Segundo a PF, “as informações arrecadadas durante a ação serão utilizadas para dar continuidade à investigação, bem como outras fiscalizações a serem realizadas no Amazonas.”

*Com informações do Imazon

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