Ailton Krenak é o primeiro indígena a tomar posse na ABL

Novo "imortal" agora ocupa cadeira que era de José Murilo de Carvalho e ressalta que, com ele, também assumem 305 povos indígenas do Brasil
Ailton Krenak toma posse na ABL. Foto: Ricardo Moraes/ Reuters

O ambientalista, filósofo e poeta Ailton Krenak tomou posse na sexta-feira, 5, na Academia Brasileira de Letras (ABL), em cerimônia realizada na sede da organização no Rio de Janeiro. Ele herdou a Cadeira 5, que pertencia antes ao historiador José Murilo de Carvalho, morto em agosto de 2023.

Em seu discurso, invocando escritores e poetas, Ailton Krenak homenageou os que o antecederam na Cadeira 5 da ABL. “Espero ter honrado aqueles que me antecederam, aqueles que contribuíram para que essa Casa possa seguir honrando a sua fundação”, afirmou. O novo “imortal” percorreu pela formação miscigenada dos brasileiros ao mesmo tempo que evidenciava os impactos na identidade dos povos indígenas e os saudava.

“Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos do nosso país, passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui’.”

Ailton Krenak

Krenak falou da pluralidade indígena que ele representa ao tomar posse na instituição. “Desde que me convidaram ou me animaram para ocupar essa cadeira número cinco, eu me perguntava: ‘Será que nessa cadeira cabem 300?’. Como dizia Mario de Andrade, eu sou 300. Olha que pretensão. Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos do nosso país, passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui’. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena”, disse Krenak.

Literatura na oralidade – Uma das ideias de Ailton Krenak para contribuir com a ABL é a criação de uma plataforma parecida com a Biblioteca Ailton Krenak, disponibilizando o acesso de centenas de imagens, textos, filmes e documentos em diversas línguas nativas. “Podemos fazer isso junto com todas as etnias que estão envolvidas no resgate linguístico”, propõe.

Aproveitando que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) declarou a década 2022-2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas, a ideia também é convidar a Unesco para dar visibilidade à proposta. “Quando está na web, está no mundo, deixa de estar apenas no site. A ideia é priorizar a oralidade e não o texto. O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes”, observa Krenak.

A cerimônia de posse foi transmitida ao vivo Participaram do evento os ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e da Cultura, Margareth Menezes. E tiveram destaque nos ritos de posse, os membros da ABL Heloísa Teixeira, Arnaldo Niskier, Fernanda Montenegro e Antonio Carlos Secchin. A comissão de entrada foi formada por Edmar Lisboa Bacha, Joaquim Falcão e Ruy Castro. A comissão de saída por Ana Maria Machado, Geraldo Carneiro e Antônio Torres.

Biografia – Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu em Itabirinha, Minas Gerais, em 1953, na região do vale do Rio Doce. Aos 17 anos, mudou-se com a família para o Paraná, onde trabalhou como produtor gráfico e jornalista.

É ambientalista, filósofo, poeta, escritor e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Tem trajetória marcada pelo ativismo socioambiental e de defesa dos direitos dos povos indígenas. Participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI).

Entre 2003 e 2010, Ailton Krenak foi assessor especial do governo de Minas Gerais para assuntos indígenas, nas gestões de Aécio Neves e António Anastasia. Em 2014, foi palestrante do seminário internacional Os Mil Nomes de Gaia, realizado no Rio de Janeiro.

Tem mais de 15 livros publicados, dentre os quais: A vida não é útil (2020), Futuro ancestral (2022) e Ideias para adiar o fim do mundo (2019). Alguns deles foram traduzidos para mais de 13 países. Conquistou o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, da União Brasileira dos Escritores (UBE), em 2020.

Atualmente, vive na Reserva Indígena Krenak, no município de Resplendor, em Minas Gerais.

Fontes: Agência Brasil e Funai

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