Gerad Kite passava sua hora de almoço caminhando por uma das avenidas mais movimentadas de Londres e respirando a fumaça dos carros. Hoje, na maior parte dos dias, o acupunturista pode ser encontrado no jardim de sua casa, uma construção do século 17, no sudoeste da França.
Kite não deixou de trabalhar. Ele escolheu viajar quilômetros para chegar ao seu trabalho. Escolheu aproveitar o seu tempo livre e viver uma vida mais saudável, com isso melhorou sua qualidade de vida. Casos como esse estão se tornando mais comuns em alguns países. Esses profissionais ganharam até um nome em inglês: super commuters, ou pessoas que viajam mais de 150 quilômetros para chegar ao seu local de trabalho. Os commuters se diferenciam dos trabalhadores comuns não somente por viajarem por muito tempo até chegarem no escritório, mas também por irem ao trabalho semanalmente ou quinzenalmente, para desfrutar de um estilo de vida mais agradável do que quando moravam mais perto.
Milhares pelo mundo
Kite, por exemplo, percorre de avião os 965 quilômetros que o separam de Londres, a cada duas semanas, e concentra seus pacientes nos dias em que está na capital britânica. Nesses dias, ele aluga um quarto perto de seu consultório. Logo que optou pelo novo estilo de vida, sua renda caiu. Mas, agora, o custo bem menor de morar no interior da França (em comparação com a caríssima Londres) e o uso de passagens e acomodações baratas compensaram a ponto de poder saldar antigas dívidas. \”Tenho muito mais qualidade de vida\”, diz ele. Especialistas que se dedicam ao estudo dos deslocamentos diários de trabalhadores nas grandes cidades estimam que existam centenas de milhares de \”super-commuters\” em várias partes do mundo.
Segundo eles, isso se deve principalmente aos avanços da tecnologia e à proliferação das companhias aéreas de baixo custo. Juntos, esses fatores tornam mais baratas e mais fáceis as viagens de longa distância de casa para o trabalho. Na Europa, por exemplo, companhias aéreas como a Easyjet e a Ryanair agora oferecem um total de mil rotas, e o preço das passagens às vezes chega a US$ 50 (aproximadamente R$ 160), praticamente o mesmo preço de um passe semanal para o metrô em Londres. Segundo a Easyjet, uma parcela cada vez maior de seus 12 milhões de passageiros na classe \”business\” viaja entre a casa e o trabalho.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/03/150327_vert_commuter_teste_cq