De olho no Festival de Parintins, artesãos do Amazonas se mobilizam para realizar bons negócios no evento

Com a proximidade da 57ª edição do Festival Folclórico de Parintins, cresce a expectativa dos artesãos indígenas para a geração de bons negócios na 19ª Mostra de Artesanato e Economia Solidária e a III Feira de Artesanato Indígena, realizadas durante o evento na Praça da Catedral.
Foto: Divulgação

A tradicional tenda do Artesanato e Economia Solidária é uma iniciativa do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria Executiva do Trabalho e Empreendedorismo (Setemp), órgão da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) que projeta para este ano faturamento em torno de R$ 1,5 milhão com a venda de produtos e artigos artesanais da cultura e economia dos povos originários da região. Em 2023, participaram 40 artesãos, que juntos comercializaram em torno de R$ 970 mil nos três dias do festival.

Para este ano, a direção da Setemp planejou uma estratégia diferente: vão participar 70 artesãos que vão começar a expor seus produtos na segunda-feira, dia 24 de junho, para atender a demanda dos visitantes. “O festival vai acontecer somente na sexta, sábado e domingo e já teremos realizado boas vendas, possibilitando chegar a R$ 1,5 milhão, por conta da maior demanda de artesãos participantes, somada a maior quantidade de dias”, disse o secretário da Setemp, Paulo Gilson Ferraz.

A feira de Parintins conta com a participação de artesãos de Parintins, Barreirinha e Nhamundá que levam para o evento artesanatos específicos e relevantes voltados para o embelezamento como penas, adornos, sementes, que são os adereços. “Normalmente, no festival o turista quer levar uma lembrança da região, logo, 70% do artesanato comercializado na feira tem o perfil de artesanato indígena”, informa o secretário.

São artesãos de variadas etnias que estarão expondo seus produtos, entre os quais, Baniwa, Baré, Hexkaryana, Kaxuyana, Kokama, Marubo, Munduruku, Mura, Parintintin, Sateré-Mawé, Tenharim, Tikuna, Tukano, Waiwai e Witoto. A variedade presente nas peças de artesanato vai desde adereços, roupas, objetos de decoração, pinturas corporais, bebidas e produtos naturais.

 Em 2023 participaram 40 artesãos, que juntos comercializaram em torno de R$ 970 mil nos três dias do festival

Conforme Paulo Gilson Ferraz, a participação apenas de artesãos daquela macrorregião, no período do Festival Folclórico, é uma forma da economia de Parintins girar em torno dos próprios expositores daquela região. “Se trata de uma mostra bem tradicional que acontece há 18 anos e tem esse apelo social muito forte no sentido de beneficiar os artesãos de Parintins e adjacências”, frisou o secretário, ressaltando que o dinheiro arrecadado na feira, no período do festival, fica na mão do artesão.

O secretário exemplificou que no ano passado, um artesão que expôs seus produtos na feira de Parintins vendeu R$ 14 mil. No término do evento ele voltou para sua comunidade com dinheiro no bolso. “Pagou a viagem que estava devendo, pagou o mercadinho onde compra seus produtos comestíveis e ainda ficou com um bom dinheiro em caixa.

Atividade aquecida – A feira em Parintins é um capítulo à parte do que movimenta o artesanato no Amazonas. Levantamento da Setemp aponta que no ano passado a atividade local gerou R$ 5 milhões de faturamento.

São 7.954 artesãos cadastrados no órgão, que é vinculado ao Programa do Artesanato Brasileiro (PAB). Por conta disso, a secretaria emite a Carteira Nacional do Artesão, documento que faculta ao artesão local o direito de vender para qualquer Estado brasileiro com isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

“70% do artesanato comercializado na feira tem o perfil de artesanato indígena” Paulo Gilson, secretário executivo da Setemp

Segundo Paulo Gilson Ferraz, quando o detentor dessa carteira vende para as grandes lojas não paga o imposto, se tornando um grande diferencial competitivo para uma atividade pujante, voltada a itens de decoração. Em Manaus são 2.200 artesãos cadastrados no órgão. O secretário adverte que a atividade não se limita ao que passa pela Setemp. “O artesanato é muito maior do que passa em nossa mão”, alerta, destacando que todas as grandes lojas se abastecem, fazendo compras nas várias rodadas de negócios realizadas na capital amazonense. “Nossos artesãos participam tanto das feiras locais como nacionais”, completa.

O dirigente da Setemp garante que a atividade está aquecida em nível nacional, responsável por 3% do PIB brasileiro, alcançando mais de 8 milhões de pessoas envolvidas com a atividade. Neste governo foi criado o Ministério da Micro e Pequena Empresa, onde o artesanato está vinculado, ganhando um protagonismo maior. Se tratando do Amazonas, em 2023 o total comercializado superou R$ 5 milhões, o que significa R$ 1 milhão a mais em relação aos R$ 4 milhões, obtidos no somatório dos quatro anos anteriores. “Demos um salto gigantesco, lembrando que esse resultado é do que passa pela secretaria. Acredito que esse número seja três vezes maior”, frisou.

Central de Artesanato – Funcionando atualmente na Avenida Djalma Batista, anexo à Setemp, o principal centro de comercialização de artesanato na capital amazonense, o Shopping do Artesanato e Economia Solidária, ligado ao órgão, atende em torno de 60 artesãos, que produzem uma variedade de produtos com matéria prima extraída da região. O shopping funciona todos os dias, de segunda a sexta das 8h às 17h, aos sábados até às 15h. Os principais clientes são turistas nacionais e internacionais, que podem acessar o shopping e fazer suas compras online. “Houve ocasiões em que ônibus cheios de americanos paravam na antiga Central Branco e Silva, na rua Recife, que foi desativada antes da pandemia e transferida para cá, para comprar produtos decorativos como cestaria, o carro-chefe dos nossos produtos feitos por indígenas e ribeirinhos”, destaca o secretário.

O Shopping do Artesanato é a única feira fixa com a qual a Setemp trabalha. Às demais são itinerantes, como as que acontecem nos grandes eventos na Arena da Amazônia, reuniões do Conselho de Administração da Suframa (CAS) e do Conselho de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (Codam), bem como exposições que acontecem na cidade. “Participamos dessas feiras e levamos nossos artesãos a se fazerem presentes em todas as feiras que acontecem em Manaus, assim como em eventos nacionais e internacionais, onde vendem bastante”, disse Paulo Gilson Ferraz.

Riqueza da floresta Um dos permissionários do Shopping do Artesanato é a empresa Amazon Eco Comércio Varejista de suvenires, que produz e vende bijuterias e artesanatos de sementes da Amazônia como bolsas de fibra de piaçava, anéis de semente de tucumã, semente de jarina, entre outros. A artesã Delia Veloso, preside a Associação União das Mulheres Artesãs Indígenas (Umai), situada na comunidade Campina do Rio Preto, em Santa Izabel do Rio Negro (a 630 quilômetros de Manaus), com 20 mulheres associadas, todas com curso de artesã. “Nossa especialidade é a ecojoia”, admite.

Além da loja em Manaus, a Umai possui outra loja em Alter do Chão, no Pará. Fundada em 03/03/2011, a Amazon Eco participa de feiras, as mais variadas, inclusive nacionais e internacionais. Delia Veloso não tem ideia de quantas peças de artesanato foram comercializadas nos 13 anos de atuação da empresa, com matéria-prima regional. “Foram inúmeras, entre joias como colares, brincos, anéis e pulseiras; bolsas em palha da piaçava, cestarias, principalmente fruteiras; material decorativo, chaveiros”, disse.

Segundo a dirigente da Umai, a clientela da Amazon Eco é formada, em sua maioria, por turistas franceses e americanos, que valorizam muito o artesanato indígena. “Utilizamos em nosso artesanato caroço de tucumã, semente de jarina, caule do tucumazeiro, fibras, enfim, toda matéria-prima nativa do Amazonas”, frisou.

A Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN), com 35 associadas, em São Gabriel da Cachoeira, também se faz presente no Shopping do Artesanato, com a loja Bari Artesanato Indigena, especializada na produção de bijuterias, bolsas, cestarias e porta-joias.

A artesã Benedita Pimentel Lana, de origem indígena, aposta no artesanato regional como fonte de emprego e renda. “Cada integrante da associação faz um pouco de cada coisa, a partir da matéria prima que temos como o caroço do açaí, palha de tucum, fibras”, menciona.

Matéria prima regional – Paulo Gilson Ferraz destaca que no Amazonas, a execução do trabalho artesanal é sustentável, com predominância de insumos naturais em sua produção, como o jenipapo, caulim, urucum, que são tinturas naturais. Tem também elementos pertencentes à natureza, como verniz oriundo do breu do Jutaí, barro, fibras vegetais e sementes. “Cada região do Estado tem produtividade artesanal o que permite ao artesão obter, nos mercados internacional e nacional, vantagens competitivas. “Fibras, fios de tucum, cipós, sementes e madeiras compõem a matéria prima do artesanato regional, obtida na floresta amazônica. Geralmente o artesão amazonense produz sua arte do que tem no entorno, sem viajar para longe para adquirir”, garante.

A principal demanda de artesanato no Estado é oriundo da região do alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, de onde vem a maior parte de cestarias, com representação na Central do Artesanato. No Alto Solimões, os municípios de Benjamin Constant, Atalaia do Norte e Tabatinga, tem muita cestaria e madeira, o principal carro chefe daquela área. Na Calha do Rio Negro, envolvendo o Careiro Castanho, Novo Airão, Manaus e Iranduba vem madeira e fibra, sendo que no Careiro Castanho o cipó é o principal ativo do artesanato. No Baixo Amazonas, Parintins e Barreirinha as sementes são os principais ativos para trabalhar os adornos. No Rio Preto da Eva o forte lá é a cestaria. “Se observarmos as calhas de rios, a cestaria está presente em quase todas, o que muda são as fibras, cipós, fios de tucum”, informa o secretário.

Paulo Gilson Ferraz avalia que a fibra é o grande condutor do artesão amazonense, pela grande quantidade de matéria prima, de onde esse profissional sustenta sua família e transforma a vida de outras pessoas ao seu redor. O secretário aponta várias histórias de artesãos que não tinham nada, eram pessoas paupérrimas e hoje têm casa, carro e alguns, inclusive ajudam outras pessoas gerando emprego e renda. “O artesanato tem esse poder de transformar vidas, é um gerador de dinheiro, dignidade e empoderamento”, disse, destacando que o segmento é formado 90% por mulheres. “É notório identificar o que é feito por uma mulher e o que é feito por um homem, diante da delicadeza das peças”, assinala.

O casal Rosilene Lima e Antônio Fernandes, proprietários da loja Nossas Art’s, também são permissionários do Shopping do Artesanato, onde produzem uma gama de produtos como pulseiras, colares, brincos, além de adereços de boi e outros. A maior parte das peças são feitas a partir da fibra do tucumazeiro. Trabalham também com sementes de açaí, semente de morototo, umburana entre outras.

Rosilene Lima disse que a riqueza da floresta amazônica é uma fonte de renda para os artesãos da região, cuja matéria prima se encontra nas proximidades, sem a necessidade de importar de outras regiões. A artesã expõe seus produtos também nas feiras regionais e nacionais. “Temos produtos nossos em Portugal, sendo bem prestigiados” garante, ressaltando o apoio recebido do poder público estadual.

Paulo Gilson Ferraz assegura que o Governo do Estado tem apoiado o artesanato em todas as ações realizadas, visando transformação social, dando ao artesão a importância e a relevância que merece. Segundo o secretário, a determinação do governador Wilson Lima é transformar a vida das pessoas e o artesanato é um instrumento de transformação, porque gera renda e dignidade. “Para a gente, é motivo de orgulho, nesta pasta, estar contribuindo para o crescimento do artesanato local e o desenvolvimento desse artesão, que impacta toda uma cadeia, inclusive no turismo, haja vista que o turismo e o artesanato caminham juntos, porque quando o turista viaja ele quer levar uma lembrança, uma recordação e essa recordação é o artesanato amazonense”, conclui.

Por Margarilda Galvão

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