Nove em cada dez brasileiros preferem comprar roupas, calçados e acessórios produzidos de maneira sustentável. O dado é de um estudo de janeiro de 2024, realizado pela consultoria PwC e o Instituto Locomotiva. A pesquisa revela que o mercado da moda precisa, cada vez mais, buscar alternativas que ajudem a conservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, gerar renda para as comunidades locais. Pelo menos metade dos entrevistados disseram que já deixaram de comprar de marcas com má reputação e mais de 80% afirmaram estar dispostos a priorizar as que se preocupam com isso. Nesse contexto, as empresas que já nascem com o propósito de gerar impacto socioambiental positivo se diferenciam.
No Pará, a criatividade dos pequenos negócios tem ajudado a colocar em evidência todo o potencial da Amazônia, pois são inspirados na floresta e idealizados por quem vive nela. Falamos de peças com características únicas e autênticas. E de negócios diversos que investem em tecnologia, mas também os que resgatam processos manuais de seus antepassados. Alguns são liderados pela nova geração, que já naturalizou esse pensamento; outros por quem tem observado, com o passar dos anos, as consequências do crescimento sem levar em conta o meio ambiente e viu a necessidade de mudar e se adaptar aos novos tempos.
Atento ao potencial da moda sustentável na região e visando incluir os pequenos negócios nessa tendência, o Sebrae no Pará oferece capacitações para ajudar os empreendedores e empreendedoras a ganharem e se manterem no mercado. A ideia é conquistar espaço no Brasil, mirando os consumidores cada vez mais conscientes, aproveitando para isso a visibilidade que a COP 30 já está trazendo para Belém e toda a Amazônia. Estou certo de que os mais de 50 mil visitantes esperados para o evento desejarão levar lembranças para casa, algo produzido pela nossa gente. E por que não retornar com a legítima moda amazônica?
Bons exemplos de moda ecológica e sustentável não faltam na nossa região. Temos os grafismos herdados dos povos ancestrais da Ilha do Marajó, que garantem renda para gerações de costureiras local; as roupas feitas com fibras de garrafa pet, resíduos de madeira de construção e escamas de peixes regionais descartadas nos rios amazônicos; ou ainda as bolsas e acessórios feitos com palha do broto do tucumanzeiro por um grupo de mulheres que resgata a cultura indígena.
Estamos falando de negócios que encontraram nos saberes ancestrais, respostas para grandes problemas da indústria da moda. A etapa de tingimento é um exemplo disso — cuja indústria convencional chega a utilizar trilhões de litros de água por ano e costuma fazer uso de corantes químicos, apontados como responsáveis por 20% da poluição da água potável em todo o mundo. Sem o impacto dos sintéticos, os corantes naturais, feitos a partir de plantas da região amazônica, propiciam uma paleta de cores orgânicas e, portanto, únicas. Juntando cascas de cebola e folhas de cajueiro, entre outras combinações, é possível chegar aos vibrantes tons da floresta.
Em Dom Eliseu, no sudeste do Pará, uma artesã, de 63 anos, fundou, junto com a neta, um ateliê onde resgata processos manuais de tingimento natural para criar peças autênticas, coloridas e sustentáveis. Em Santarém, outro ateliê usa a ciência em técnicas de tingimento e estamparia natural com plantas do bioma amazônico. Além do benefício ambiental, os corantes naturais são menos agressivos para a pele de quem produz e de quem vai usar as peças.
Fora a preocupação em conservar o bioma do qual tiram inspiração e insumos, muitos desses negócios ajudam a empoderar mulheres e proporcionam desenvolvimento socioeconômico para as comunidades indígenas e ribeirinhas. Parte do nosso trabalho, aqui no Sebrae, é aproveitar a COP 30 para mostrar ao mundo a força dos negócios que usam a floresta de forma consciente, mantendo-a de pé.