Por Islância Lima
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Amazonas – seção Amazonas (ABIH-AM), Roberto Bulbol, considera que o setor hoteleiro de Manaus passa hoje por um choque de oferta. Há muito mais unidades habitacionais disponíveis do que clientes dispostos a locá-las. Com efeito, a taxa média de ocupação nos últimos 12 meses foi de 38,62%, número considerado baixo pelas empresas. Boa parte dessa oferta veio dos investimentos pré-Copa de 2014, que Bulbol avalia ter decepcionado o setor. O dirigente destaca, contudo, que o desempenho negativo se deve, principalmente, ao rescaldo da crise econômica dos últimos três anos no PIM. Segundo o presidente da ABIH-AM, “tudo virou um efeito dominó”, depreciando o fluxo de executivos que fazia a alegria dos hotéis da capital. Na conversa com a Revista PIM Amazônia, Roberto Bulbol fala ainda de turismo de eventos, rotas áreas para Manaus, barreira linguística, internet ruim e demandas do setor para 2019, entre outros temas. Leia, a seguir, a íntegra da entrevista.
Revista PIM Amazônia – A Copa de 2014, sediada no Brasil, foi esperada pelo Amazonas com grande expectativa. Hotéis foram construídos, escolas bilíngues foram abertas e Manaus se preparou para atender uma grande clientela de turistas. Todo este planejamento teve um retorno positivo?
Roberto Bulbol – Foi criada uma grande expectativa, que se mostrou falsa diante daquele evento da Copa de 2014. Não somente para o Amazonas, mas para todo o Brasil. O que tivemos por aqui foram visitantes de países vizinhos e pouco fluxo de americanos. Nesse período da Copa, deu-se início a crise econômica, que afetou todos os Estados no nosso país. Foi um momento difícil para todos.
Em decorrência da crise, que segundo o senhor chegou naquela época, quais clientes fizeram mais falta para o setor hoteleiro?
RB – Depois dessa época, e até um pouco antes, muitos hotéis dependiam de ocupações de pessoas que vinham de fora para trabalhar ou prestar serviços nas indústrias do Amazonas. Empresários e técnicos de outras áreas, com especializações vindos de outros Estados ficavam em nossos hotéis. Mas,infelizmente, esse público diminuiu significativamente no Amazonas, mais precisamente em Manaus.
Como está o setor hoteleiro no Amazonas atualmente, com toda essa situação de quatro anos de crise econômica?
RB – Hoje, a capital tem um número maior de locais para hospedagem que a procura. A grande ocupação, que antes existia, caiu. Com a crise, tudo virou um efeito dominó, embora se destaque que os órgãos de turismo tiveram uma imensa preocupação em tentar recuperar as demandas perdidas.
O senhor sabe quantas unidades habitacionais estão disponíveis em Manaus? E como está a taxa de ocupação média nos estabelecimentos?
RB – Há, hoje cerca de 6.200 unidades habitacionais em todo o Amazonas. Estes espaços costumam ter cama, ar condicionado, wi-fi, frigobar, mesa de trabalhos, pequeno closet ou guarda-roupa para atender clientes do mundo todo. Tivemos uma taxa percentual de ocupação de 38,62% média entre setembro de 2017 e o mesmo mês de 2018. O número ainda é baixo, mas acredito que em 2019 teremos uma grande virada.
Quais atitudes foram tomadas pelos empresários e órgãos para que esta situação fosse amenizada, com o objetivo de recuperar a economia da rede turística?
RB – Conversamos com a Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (AmazonasTur), que, em parceria, começou a fazer a captação de congressos, feiras. Juntamente com o nosso grupo de empresários de turismo, conseguimos a liberação do Centro de Convenções Vasco Vasquez. A luta é diária, pois, para trazer um congresso para cidade, concorremos com outros Estados, como Bahia, Ceará, São Paulo, Pernambuco… Mas o nome do Amazonas tem um enorme diferencial, pelas nossas belezas naturais.
Com a conquista desse espaço, e os eventos realizados nele, podemos dizer que a iniciativa mexe com a economia amazonense e tem melhorado o setor nos últimos anos?
RB – Sim. Quando o turista chega no Amazonas para estudar,seja em congresso ou feiras, movimenta 52 atividades econômicas: companhiasaéreas, táxis, hospedagem, passeios, entre outras. O turista, quando chega aqui, costuma gerar movimentação pré-evento – chegando um dia antes – e pós-evento – ficando um dia depois, para aproveitar um pouco a cidade, visitando lugares e restaurantes.
Sabemos que os entraves com conexões de outros países para o Amazonas é uma questão burocrática a ser resolvida. Novas rotas de viagens para atrair turistas do mundo todo estão sendo acompanhadas pelo ABIH-AM?
RB – Sim, conseguimos ter a expansão de voos e novas rotas nacionais e internacionais, com paradas em Manaus. Essa conquista atraiu turistas e tem nos ajudado a melhorar as estadias no ramo hoteleiro em todo o Amazonas.
Recentemente,em outro Estado, tivemos um caso de uma jovem turista que, ao sair para fazer uma trilha, foi morta. Quais cuidados a rede hoteleira do Amazonas está tendo para evitar incidentes com seus clientes?
RB – Muitos hotéis orientam o máximo que podem os seus clientes. Principalmente quando falamos de objetos de valor nas ruas ou lugares não recomendáveis para passeios. Orientamos a sempre andarem em conjunto. Nos hotéis, temos as cartilhas de orientações e também eles disponibilizam mapas da cidade. Aqui, temos muito cuidado com nossos hóspedes, para que aproveitem ao máximo a estadia e possam voltar sempre.
A barreira linguística sempre foi um dos grandes problemas, quando falamos de turistas estrangeiros. Os hotéis tem se preparado para atender clientes que falam outros idiomas?
RB – Sim. Geralmente durante a contratação as redes de hotéis solicitam que o contratado tenha a língua inglesa. E se falar outros idiomas, é um grande diferencial. Os que não possuem, mas conseguem a vaga no ramo, com o tempo buscam mais qualificação para atender os pedidos do mercado.
Há alguma ação das empresas para facilitar o treinamento? Talvez alguma parceria com cursos de idiomas para oferecer bolsas aos trabalhadores?
RB – Periodicamente, acontecem treinamentos com convênios entre rede hoteleira e órgãos. Todo apoio é dado aos funcionários para participarem de cursos no AmazonasTur e Senac [Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial]. Muitos deles, de forma gratuita.
Manaus possui muitas famílias que almejam aproveitar os fins de semana em programas diferenciados na cidade. Alguns hotéis tem oferecido o chamado day user, quando casais e famílias aproveitam um dia de hotel com direito a uso de áreas comuns. Como os hotéis tem se portado diante desse público, para que haja mais crescimento da modalidade no Amazonas?
RB – Muitos hotéis estão fazendo pacotes em datas festivas, como no Dia dos Namorados, Dia das Mães, Dia dos Pais. Há também pacotes parapúblicos diferenciados, como noivas e debutantes, que atingem diretamente o público manauense. Nessa modalidade, o amazonense aproveita o que chamamos de tarifa diferenciada. Diferente de outros Estados, que aproveitam moradores de cidades vizinhas deslocando-se de ônibus em pacotes turísticos, em Manaus não podemos contar com o público de outros município. Isso ocorre pelo difícil acesso do interior, que, em sua maioria, só é possível por barcos.
A internet no Amazonas é reconhecidamente uma das menos eficazes. Como as redes de hotéis tem se portado diante dessa limitação?
RB – Muitos procuram estudar provedores que estejam de acordo com as condições financeiras. A principal preocupação dos hotéis é oferecer aos seus hóspedes serviços de qualidade. E a internet é um grande problema a ser resolvido no Amazonas. Muitos hóspedes querem se comunicar com seus familiares distantes. Outros, para uso de lazer em redes sociais, e até trabalho. Na medida do possível, os hotéis vão buscando alternativas que agregam qualidade e rapidez aos clientes e também para trabalhos internos. Aos poucos, as coisas vão caminhando. Mas, ainda há muito a ser feito.
A estadia de um turista é de suma importância para um hotel. Se o hóspede tem uma boa viagem ele pode voltar sempre. Como os hotéis tem se portado para evitar preços abusivos em passeios indicados a clientes?
RB – Muitos hotéis em Manaus possuem sua própria agência de turismo. Outros, tem parcerias e um catálogo de indicações de empresas confiáveis. Orientamos sempre os turistas sobre os cuidados ao contratar um serviço de turismo. Essa é a melhor forma de servir e orientar, evitando aos clientes futuros aborrecimentos.
Os hotéis de selva estão entre as atrações mais procuradas pelos turistas que visitam a região. Muitos, buscam esse espaço para ter um contato mais próximo à natureza. Como está esse braço do setor hoteleiro do Amazonas?
RB – Em crescimento evidente. Vemos não somente hotéis e pousadas, mas também chalés montados em lagos e arquipélagos, que oferecem todo conforto, como nossos hotéis da cidade. É um diferencial que temos aqui. A maioria dos turistas quer esta tranquilidade e também a degustação de pratos regionais, além do contato com animais. Nosso Estado tem muito a crescer no turismo e não medimos esforços para que o setor hoteleiro possa crescer junto também.
A propósito, a maioria dos turistas costuma permanecer apenas um dia em Manaus e ir logo para um hotel de selva. O que pode ser feito pelas empresas e pelos governos para convencer o estrangeiro a ficar um pouco mais na capital, que é uma demanda antiga do setor.
RB – O setor hoteleiro de selva é um ramo que tem crescido muito. Porém, para que os turistas permaneçam mais na cidade não é da competência dos hotéis, mas sim do governo do Estado, em dar a eles a melhor estadia na cidade, com infraestrutura. Fazemos nossa parte em cobrar melhorias, mas não depende de nós essa parte turística e de lazer.
Para 2019,qual é a pauta de lutas e demandas do setor hoteleiro para incentivar o incremento do turismo em nossa região?
Precisamos que ocorra o asfaltamento da rodovia BR-319 [Manaus – Porto Velho], para que seja alavancado o turismo no Amazonas, bem como toda economia do nosso Estado. Será uma grande luta, não somente do setor, mas de todo o Estado. Também precisamos – e vamos em busca – de uma internet mais eficaz, já que dependemos dela para tudo, nos dias atuais. A modernidade veio para ajudar todo o polo hoteleiro. Ter internet de qualidade na cidade é bom para os hotéis e para os turistas, além de acelerar nossa economia. Vamos também trabalhar em parceria com outros órgãos e empresas, na busca de mais rotas de voos, tanto nacionais quanto internacionais, atraindo mais turistas e gerando um aumento na economia em todo o Amazonas.