Volume emprestado no cheque especial e cartão de crédito avançou, respectivamente, 28% e 35% desde abril de 2013, quando Selic passou a subir.
O ciclo de alta da Selic completou dois anos este ano e, apesar de o juro estar mais caro no cheque especial e no cartão de crédito, o consumidor aumentou o uso desses empréstimos. De acordo com dados do Banco Central, o volume emprestado no cartão de crédito cresceu 35% entre abril de 2013 e março deste ano, enquanto no cheque especial subiu 28%. O crescimento de gastos fixos e a queda da renda são alguns motivos que levaram o brasileiro a recorrer a estes recursos.
Além da situação da economia, especialistas apontam outros motivos para o crescimento. “Estas são as duas linhas de crédito pré-aprovado mais facilmente disponíveis no mercado”, ressalta o diretor executivo de Estudos e Pesquisa Econômicas da Anefac, Miguel de Oliveira. No caso do cartão, o uso pode ser vantajoso. O consumidor pode concentrar gastos e parcelar a compra de bens que não poderia pagar à vista. O problema começa quando ele não paga a fatura e entra no crédito rotativo. “O rotativo é algo emergencial, para ser utilizado já esperando receber um dinheiro para cobrir a conta”, explica o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo Vieira.
O mesmo pensamento de crédito de curto prazo deveria ser utilizado para o cheque especial, mas isso não ocorre. “As pessoas tendem a achar que a dívida é algo momentâneo, que no mês seguinte irão regularizar a situação”, afirma o sócio do Guia Bolso, Thiago Alvarez. O juro alto, porém, faz com que quanto mais tempo se passa, maior se torne a conta. Outro erro muito comum é adquirir mais de um cartão de crédito, o que acarreta em mais tarifas e maior dificuldade em controlar as contas. O coordenador do Núcleo de Superendividamento do Procon-SP, Diógenes Donizete, diz que houve um caso qual a pessoa tinha 26 cartões.
Como enfrentar as dívidas?
Um dos problemas destas duas linhas de crédito é que, não há um controle rigoroso de limite de gastos. Alavrez recomenda que, no total, as dívidas não ultrapassem 15% da renda, pois caso contrário, aumenta o risco dele virar um devedor. O Guia Bolso também indica que o consumidor tenha uma reserva de seis meses para que, em uma emergência, não necessite do crédito caro. Outra sugestão é entender melhor como as modalidades funcionam e não achar que o crédito faz parte da renda. “O consumidor incorpora o limite do cartão e do cheque à renda. Ou seja, fica com a capacidade comprar três e pagar um”, esclarece o professor do Instituto Educacional da BM&FBovespa, José Alberto Netto Filho.
Os especialistas concordam em dizer que o devedor precisa substituir o cartão de crédito e cheque especial por algo mais barato, como empréstimo pessoal e consignado. No crédito pessoal, por exemplo, o juro anual é de cerca de 100%, ou seja, um terço menor do cartão. A segunda sugestão é cortar a fonte da dívida. “É um erro pegar um empréstimo pessoal, mas continuar com as linhas de cheque especial e cartão de crédito abertas, pois em algum momento o devedor vai cair de novo nelas”, afirma Donizete. Para as pessoas que perderam o controle dos gastos e chegaram em uma situação crítica, há o Programa de Apoio ao Superedividado do Procon-SP. Nele, especialistas fazem uma análise completa da situação financeira e ajudam o devedor a negociar a dívida. Já no Instituto Educacional da Bolsa há palestras gratuitas sobre o orçamento.
Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,ciclo-de-alta-do-juro-completa-2-anos-com-consumidor-recorrendo-ao-credito-caro-imp-,1693517