Entrevista com o Prof. José Alberto da Costa Machado
Com a credibilidade de quem se dedica intensamente ao interesse público e tem alentada bagagem na defesa da economia do Amazonas e da Amazônia, demonstrada no envolvimento de Coordenador Geral de Estudos Econômicos e Empresariais (COGEC) da Suframa e na Academia como Doutor em Desenvolvimento Socioambiental e professor no Departamento de Economia na UFAM, José Alberto Costa Machado divide seu tempo entre o Ministério Público do Estado, conselheiro no CODESE, Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Manaus, e atendimento social/espiritual de pessoas necessitadas na Fundação Allan Kardec. Exemplo de vida e de luta obstinada pelo bem-comum, José está presente sempre e quando estão em jogo os interesses da sociedade. Nessa entrevista, com segurança e autoridade, mostra os caminhos de um amanhã promissor, desenhando um futuro de luta em mutirão. Um futuro que já começou… Confira!
1. FOLLOW-UP: criação do Polo Digital em Manaus é um sonho dos jovens empreendedores que se multiplicam nas universidades locais. Por que demoramos décadas para antecipar a materialização desta utopia?
José Alberto da Costa Machado: Há uma razão geral, que é esse condicionamento cognitivo que adota como premissa ser a Zona Franca de Manaus (ZFM) nossa única possibilidade econômica. Com tal viés, nada mais se percebe como promissor ou portador de futuro. Outras razões, também importantes, são a ausência de uma agenda comum para integrar e unir os esforços da sociedade e, também, uma cultura de concorrência infantil entre os protagonistas. Agregaria, ainda, o pouco protagonismo da sociedade civil organizada. Foi exatamente nesse aspecto que o CODESE fez a diferença. Sendo um ente formado por instituições da sociedade civil organizada, muitas das quais integrantes do ecossistema de tecnologia digital, foi mais fácil congregar os esforços para a realização da exitosa 1a Feria do Polo Digital e, como consequência, iniciar a dinamização do Polo Digital de Manaus.
2. FUP: O Brasil deixou de arrecadar R$ 63,6 bilhões em tributos não pagos por empresas de tecnologia ao longo de 10 anos, conforme os dados da Receita. Estes incentivos constam de programas de fomento à indústria que foram condenados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro último porque violam acordos internacionais assinados pelo Brasil. Como fica a ZFM neste cenário?
JACM: A ZFM esteve, durante muito tempo, sob cenário similar ao âmbito nacional. Nos últimos tempos tem havido avanços na gestão desses recursos. A Suframa conseguiu analisar e aprovar (ou não) relatórios de aplicações desses recursos que estavam pendentes há vários anos. Mais do que isso, conseguiu avançar em regulamentos que vão possibilitar aplicações mais efetivas, de tal sorte que o efeito desse montante surpreendente de recursos possam, de fato, ser refletidos no PIB da cidade.
3. FUP: Polo digital e Polo de nanobiotecnologia, duas obviedades na matriz de novos negócios para a economia do Amazonas. Como você vislumbra o desenrolar dessas duas vocações de negócios?
JACM: O PDM Polo Digital de Manaus está em fase de dinamização intensa e penso que, em breve, já teremos mensurada sua dimensão e possibilidades. Desde logo podemos dizer que há dezenas de ICTs envolvidos com projetos de vanguarda e, não podemos esquecer, temos um instituto de padrão global que é o Sidia, responsável por toda a tecnologia de software presente nos smarts fones da Samsung. Com referência à biotecnologia, que eu chamaria melhor de bioeconomia, também há alvíssaras, porém, com o longo tempo que o Centro de Biotecnologia da Amazônia tem figurado como exemplo de descaso, penso que um compromisso primeiro dos protagonistas agora envolvidos com o tema é a recuperação da credibilidade, a reconstrução da esperança. Tanto em relação às tecnologias digitais quanto à bioeconomia o grande desafio é gerar atividade econômica, com efeito no PIB. Nesse sentido, esses dois polos têm muito para cooperar em iniciativas interligadas.
4. FUP: Numa economia baseada na visão liberal, onde é recomendada à livre concorrência e é proibido ao poder público induzir novos negócios como fica a competitividade da Bioeconomia e do Polo Digital de Manaus?
JACM: Esse é um grande desafio, não apenas desses novos negócios, mas também da ZFM como um todo. Creio, entretanto, que as forças políticas estão se aglutinando e essa política pública para a nossa região deverá ter efeitos não tão danosos. Os dois polos, por estarem sob abrigo da ZFM, estão associados ao futuro que ela terá. Por isso é importante preservarmos o máximo das atratividades que hoje existem. Mas, eu diria, que concorrência e disputa em mercados são vias importantes para fortalecermos dinâmicas econômicas como a nossa. Com bom ambiente de negócios, boa infraestrutura, segurança jurídica e política econômica previsível, não há porque temermos o futuro.
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