Desbravar a Amazônia

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Augusto César Barreto Rocha (*)

Amazônia ainda não foi desbravada. As conversas que existem a este respeito não passam do lugar-comum: “temos que preservar”. Faltam propostas para aproveitamento responsável das suas riquezas. Preservar por preservar me parece quase tão equivocado quanto destruir por destruir. Em um país que registrou uma dívida do governo equivalente a 77,22% do PIB em 2018, quando tinha uma média de 59,89% de 2006 até 2018, chegando ao maior nível de todos os tempos, é fundamental identificar novas fontes de geração de riquezas, para reencontrar 2011, quando representava 51,27%.

A iniciativa turística para três cidades do Amazonas: Manaus, Novo Airão e Presidente Figueiredo no Investe Turismo, lançado na última semana, tem potencial de ser um alento, se forem realizadas ações além dos papeis e discursos. A região vivencia uma noite eterna depois que as vendas das pilhas de videocassetes deixaram de fazer sentido com a abertura da importação no país. Também já passou a época do exotismo da floresta, suplantado por outras áreas mais seguras de piratas e de conexões aéreas mais rápidas.

Maior que o Nordeste

Perceber que apenas o Estado do Amazonas é maior que o Nordeste inteiro será um aprendizado. Existem tantas oportunidades para desenvolver riquezas na região que os órgãos de governos e empresários se perdem num emaranhado sem fim de oportunidades misturadas com regras confusas que têm levado a uma paralisia quase total.

É chegada a hora de superar os medos e sair desta análise eterna, que deveriam ser feitas visando o uso apropriado dos recursos. Enquanto isso, a pauta de exportação do país é dominada por três categorias: produtos agrícolas, minérios e combustíveis. Em conjunto, representam 31,7% de toda a exportação nacional. Deveríamos ter algo mais que os minérios do Pará para esta contribuição. É preciso desenvolver as riquezas renováveis, pois exportar minérios deixa uma enorme pegada ambiental, sem reposição.

Demanda global

Oportunidades para a aquicultura são expressivas, em razão da enorme demanda global por proteínas. Como os rios são ambientes públicos, será preciso encontrar novas formas de criação de pescados, que precisam usar as águas federais ou fazendas em terra. Estudo de 2015 de Rodrigo Roubach e outros autores aponta para um mercado de R$ 3 bilhões. Imagine o potencial de expansão que pode ser atingido, com uma atenção mais efetiva para esta produção. Estudo da Embrapa, de 2016, relata um crescimento de 123% no período 2005-2015, mas este crescimento tem sido declinante nos últimos anos.

Precisamos sair do olhar do corte de gastos para a percepção empreendedora da geração de riquezas. AAmazônia é o melhor lugar do país para este desenvolvimento, porque é a nossa última fronteira. Crescer onde há pouca atividade é mais difícil sob o olhar do rompimento da inércia, mas é muito mais fácil sob o olhar do potencial das taxas de crescimento e da agregação de novo ânimo.

Pirarucu abre o caminho

Para isso será necessário estruturar a cadeia produtiva. Em tese de doutorado da USP, de 2016, de Gleriani Fereira, orientada por Jacques Marcovitch, há a constatação que falta uma cadeia produtiva completa para o desenvolvimento da psicultura na região. Entendo que esta conclusão pode ser expandida para todas as cadeias produtivas com potencial na região. Expando ainda que falta infraestrutura de transporte e menos regras. Este enfrentamento precisa ser realizado.

Chegou a hora de desbravar a Amazônia.

(*) Doutor em Engenharia de Transportes, Professor da UFAM

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]

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