“O Brasil precisa reduzir seu manicômio tributário”

Entrevista com Wilson Périco, presidente do CIEAM

Combativo e persistente, presidente do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Wilson Périco, tem proposto interlocução e interdependência entre o setor público e iniciativa privada, visando redução do custeio da máquina pública. E, ao mesmo tempo que defende maior representação das classes produtoras na tomada de decisões que afetam a economia, tem mostrado a necessidade de maior autonomia da Suframa para coordenar a gestão dos incentivos, promover a competitividade e a geração de riqueza numa visão compartilhada com seus pares e parceiros regionais. Confira a entrevista!

FOLLOW-UP: Você tem defendido a autonomia do Conselho de Administração da Suframa para gestão dos incentivos destinados a ZFM e à Amazônia Ocidental. Como encaminhar esta proposta em clima de visita do Presidente da República, Jair Bolsonaro, e do Ministro da Economia, Paulo Guedes?

Wilson Périco: Essa é uma conquista gradual da região e que precisa do endosso político da representação parlamentar da Amazônia. E essa conquista também está ligada ao maior protagonismo do setor produtivo. Por outro lado, sabemos o alcance do conceito e da visão de mundo da atual equipe econômica com relação ao liberalismo de mercado e respeitamos. Temos, no entanto, que entender a realidade do Brasil, com suas diversidades regionais e econômicas, para nos posicionarmos perante esse mercado global liberal. Existem componentes diferentes dentro dessa economia liberal no mundo. Existem os países onde impera o consumo; isso se deve ao poder aquisitivo de sua população, por exemplo os EUA e outros países da Europa. Existem países onde o poder aquisitivo é menor, o poder de consumo é menor, porém, por consequência, o custo da mão de obra é mais barato e você consegue centros de produção/industrialização, como México, Vietnã, entre outros, para atender a países como EUA.

FUP: Como você enxerga o Brasil nessa lógica capitalista de produção e consumo?

WP: Eu enxergo o Brasil mais próximo desses países com potencial de atividades produtoras do que de consumo. Precisamos, no entanto, entender o que pensa a equipe econômica. As intenções são boas e a demanda de reformas são antigas, porém é preciso estar atento ao momento da inflexão, respeitando as especificidades da economia e de seu processo de geração de riqueza. Para promover a geração de riqueza em nossa região precisamos ter maior representação das classes produtoras na tomada de decisões que afetam a economia, ao mesmo tempo é vital a maior autonomia da Suframa para a gestão dos incentivos, promover a competitividade e a geração de riqueza numa visão/atuação compartilhada com seus pares e parceiros regionais. Confira a entrevista!

FUP: Infraestrutura e competitividade: esse custo corresponde ao benefício federal que o Amazonas tem oferecido?

WP: Questiona-se a “competitividade” da indústria instalada no Brasil. Ora, os indicadores fabris dessas indústrias, em grande parte, nas grandes multinacionais, são melhores aqui do que em outros países do mundo, porém perdemos quando comparamos custos pois carregamos custos que não existem em outros países. Ex.: pagamos um salário de R$1 mil a um trabalhador; ele recebe R$800 e custa R$1.6 mil por conta dos encargos e outras exigências; temos necessidade nas empresas de uma área dedicada a controlar e pagar tributos por conta da complexidade e o número de impostos que incidem sobre a atividade; temos necessidade de carregar custos de áreas ou assessorias jurídicas por conta de demandas trabalhistas e ou fiscais, sem contar com as deficiências de infraestrutura. Temos repetido a importância vital de destinarmos de 3% a 5% das remessa para os cofres federais para investimento em infraestrutura. Isso vai atrair mais investidores e mais receita pública.

FUP: Reforma fiscal: há clareza e consenso em torno de algumas demandas da ZFM?

WP: Precisamos, com certeza, de reformas e daí a relevância de ter na pessoa do Secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, um interlocutor que entenda as demandas da atividade produtora, as peculiaridades de cada região e a excepcionalidade do modelo ZFM. Somos sabedores de que esse modelo não é um peso para o País, o desafio é mostrar esse modelo e o Estado do Amazonas, que nós conhecemos, não só a equipe econômica mas para todo o País. Precisamos assegurar o que a Constituição nos garante mas sem pedir favor, sim, resgatando o respeito a esse nosso direito calcados nas contrapartidas socioeconômicas e ambientais que ele dá ao País. Como toda a sociedade brasileira, somos a favor das reformas, previdência e tributária. O Brasil precisa resolver suas deficiências de infraestrutura para sermos inseridos numa economia liberal e precisa de simplificação e redução desse manicômio tributário, com segurança jurídica, para atrairmos mais investimentos e reduzirmos o desemprego.

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]

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