Levantamento anual da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), atesta ligeiro crescimento nos embarques em Manaus (1,7%), porém, na chegada de contêineres houve redução cerca de 14%. O maior impacto, conforme a entidade, ocorreu no quarto trimestre, decorrente da seca, resultando numa queda de 57% nos embarques e 66% nos desembarques.
São embarcados nos portos de Manaus produtos fabricados pelas empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), como eletroeletrônicos, motocicletas e produtos químicos. Entre as cargas desembarcadas estão alimentos, material de construção (entre os quais o cimento), insumos para a indústria, combustíveis, entre outros.
O diretor-executivo da ABAC, Luis Fernando Resano, avalia que a potencialidade da região norte é puxada pelo setor fabril do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM), credenciando a capital amazonense como o segundo porto em movimentação de contêiners na cabotagem, “Só perdendo para Santos, por razões óbvias, já que São Paulo é a maior região produtora do país”, assinala o dirigente.
A expectativa da entidade para 2024 é de crescimento. Resano informa que a partir de fevereiro uma nova companhia vai começar operar contêiner em Manaus, se somando às três já existentes. O dirigente informa que hoje a entidade tem três empresas que operam contêiners com produtos diversos e uma opera com cimento trazendo cargas para a capital do Amazonas e levando para outras capitais brasileiras. “A ABAC é composta de 9 empresas associadas, de diferentes segmentos, que atuam com cabotagem, com mais de 70 navios de bandeira brasileira”, disse.
Ao destacar a importância da logística regional, o dirigente da entidade garante total compromisso com a região de manter sempre abastecida, viabilizando o escoamento de toda a produção, especialmente do PIM, mas também abastecendo a cidade de Manaus com produtos básicos. “Todos os nossos navios de contêiner vão a Manaus, se não vão pegam carga, fazem transbordo em algum porto da capital amazonense. Agora com o surgimento de mais uma nova companhia operando contêiner, que também irá a Manaus, isso mostra a importância da região para a cabotagem”, frisa.
Negociações antecipadas
Defensor de que os setores públicos e privados se unam no sentido de trabalharem juntos visando implementar soluções sustentáveis que protejam a logística regional, o dirigente da Abac disse que a entidade está conversando com o poder público estadual e federal para que, juntos, tomem as providencias antecipadamente para a seca que virá em setembro e outubro próximo. “Se faz necessário manter o fluxo de navios operando em Manaus e com isso evitar o que aconteceu em 2023, tendo as empresas enfrentado custos mais elevados para o transporte de mercadorias, o que gera prejuízos de competitividade”, sintetizou.
Novo reforço
O mercado de cabotagem regional acaba de receber um novo reforço para o transporte de contêineres, ao longo da costa brasileira e da bacia amazônica, atendendo os principais portos e regiões metropolitanas do país, incluindo a região norte. A Norcoast, uma joint venture fundada pela Hapag-Lloyd e Norsul vai atuar no setor de navegação costeira no Brasil. A empresa início sua operação no dia 07 de fevereiro de 2024, saindo do Porto de Santos, (SP) com previsão de chegar em Manaus no dia 21 de fevereiro.
Segundo o CEO da Norcoast, Gustavo Paschoa, trata-se de uma empresa independente, combinando a expertise de ambas as empresas controladoras, que vai oferecer serviços de cabotagem e feeder de contêineres por toda a costa brasileira, com logística de porta a porta e atuação nos principais portos brasileiros (Paranaguá, Santos, Suape, Pecém e Manaus). “Possuímos escritório em São Paulo, Santos e Manaus. Serviços que abrangem a multimodalidade conectando os modais marítimos, rodoviário, ferroviário e todas as atividades dentro das atividades logísticas de nossos clientes”, informa.
A empresa possui uma frota com quatro navios com capacidade de até 3.500 TEUs (Twenty foot Equivalent Units) cada e serviços semanais. Os navios têm rotação semanal, iniciando em Santos, descendo até Paranaguá, em seguida sobe para Suape, Pecém e Manaus e volta novamente escalando estes mesmos portos, completando uma jornada de cerca de 12 dias de duração. “Todos os nossos navios possuem bandeira e tripulação 100% brasileira”, garante o CEO.
Gustavo Paschoa avalia que o mercado de cabotagem no país possui uma grande demanda reprimida. Segundo o CEO, nos últimos 15 anos houve um crescimento médio desse modal da ordem de 10% ao ano, ficando acima do crescimento do PIB e da indústria. Isso mostra, frisa, que a cabotagem vem ganhando espaço na matriz de transporte brasileira, e que pode e deve sempre fazer parte do planejamento logístico das empresas que atuam em um território tão vasto quanto o Brasil, que possui mais de 8 mil quilômetros de costa e mais de 23 mil quilômetros de rios navegáveis. “É fundamental incluir cada vez mais a navegação costeira nas cadeias de valor das empresas e embarcadores como viabilizadores de negócios, fomentando ainda a transição energética, e buscando soluções mais inteligentes e sustentáveis”, disse.
Na opinião de Paschoa, a chegada da Norcoast em Manaus representa uma nova opção para o transporte marítimo em contêineres ao longo da costa brasileira e da bacia amazônica, atendendo os principais portos e regiões metropolitanas do país. “É um marco importante para a logística nacional, para o comércio exterior e para a economia brasileira. Há 20 anos esse setor não tinha novo entrante no mercado”, sintetiza.
Panorama nacional
Dados de desempenho divulgados pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), aponta que entre janeiro e dezembro de 2023, o setor aquaviário brasileiro movimentou 1,303 bilhão de toneladas, o que representa crescimento de 6,9% em relação a 2022. Conforme a entidade, dentre os tipos de navegação, a interior chamou a atenção pelo crescimento expressivo, 10,5% , seguida pela de longo curso, com aumento de 8,3% e, por fim, pela cabotagem, que apresentou crescimento de 1,6%.
Segundo a Antaq, os perfis de cargas mantiveram a tendência apresentada durante todo o ano de 2023. As principais mercadorias movimentadas pelo setor aquaviário foram soja (+29%), milho (+18%), óleo bruto de petróleo (+9,4%) e minério de ferro (+7,6%). Outro destaque positivo foi para os fertilizantes (+6,9%).
Por sua vez, a carga conteinerizada apresentou queda de 0,5% e a carga geral, de 2,9%, de acordo com o levantamento. Os portos públicos que apresentaram melhor desempenho foram os de Santos, Paranaguá e Itaguaí, que cresceram 7,7%, 12,1% e 10,2%, respectivamente, o que representou crescimentos de 9,7 milhões, 6,3 milhões e 5,2 milhões de toneladas em comparação com 2022, na devida ordem.
Já os Terminais de Uso Privado de maior destaque no ano foram o Terminal de Petróleo Tpet/Toil – Açu RJ, que apresentou alta de 32,9%, o Terminal Porto Sudeste do Brasil S/A – RJ, que cresceu 47,9%, e o Terminal de Tubarão – ES, com crescimento de 11,8%. Em toneladas, os crescimentos em comparação com o ano anterior foram de 14,3 milhões, 8,9 milhões e 8,0 milhões, respectivamente.
Arco Norte
De acordo com a Antaq, a movimentação aquaviária de soja e milho do Arco Norte do país superou a do restante do país. A movimentação dos portos e terminais do arco norte foi de 100,8 milhões de toneladas em 2023, contra 88,5 milhões de toneladas no ano anterior. Já a movimentação do restante do Brasil, abaixo do paralelo 16°S, alcançou a marca de 100,2 milhões de toneladas movimentadas, contra 73,4 milhões em 2022.
Segundo a entidade, o Arco Norte tem se tornado uma alternativa fundamental para o escoamento da produção de soja e milho do país, duas mercadorias que, nos últimos 13 anos, viram suas exportações triplicar e quintuplicar, respectivamente, tornando o Brasil o maior exportador dessas commodities. O Brasil responde, hoje, por 58% das exportações mundiais de soja e 27% das exportações de milho, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Seca na região
O segundo semestre de 2023 registrou seca intensa na região hidrográfica amazônica. Entre agosto e novembro, a queda de movimentação de mercadorias e contêineres foi expressiva e a retomada se deu a partir de novembro, com a volta do esquema de chuvas. Apesar do impacto da seca, a navegação interior apresentou crescimento acima de 10%, principalmente em razão do escoamento de soja no primeiro semestre do ano.
Movimentação Futura
A Antaq divulgou a expectativa de movimentação portuária para os próximos anos. Os estudos indicam que a movimentação alcançará 1,313 bilhão de toneladas em 2024, um crescimento de 2,3% em relação a 2023. A Agência espera que a tendência de alta na movimentação portuária continue pelos próximos quatro anos. Em 2027, estima-se que o setor portuário nacional movimente 1,415 bilhão de toneladas, em comparação com 1,391 bilhão de toneladas em 2026. As previsões para 2025 indicam uma movimentação de 1,333 bilhão de toneladas. Se tratando do Amazonas, a Antaq aponta ser a maior região hidrográfica do país, com uma malha viária voltada para a cabotagem. No período de estiagem, a baixa profundidade dos rios restringe o calado e dificulta a navegação de embarcações de grande porte, impactando a capacidade de oferta e trazendo grande risco de desabastecimento da região. O acesso em boa parte do Estado é inviável pelos modais terrestres, tornando a logística integrada primordial, considerando o fácil acesso pelos rios Solimões, Amazonas, Madeira entre muitos outros.
Por Margarida Galvão