Pesquisadores do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, desenvolveram uma taxonomia de riscos enfrentados por diferentes economias da América Latina e Caribe (ALC), com uma série de iniciativas de mercado que podem ajudar a financiar a descarbonização da região.
Uma das conclusões do trabalho é que os países da ALC enfrentam altos custos de transição em relação ao tamanho de suas economias, e o setor de agricultura, florestas e uso do solo será o principal impulsionador da redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Esse resultado é válido em dois cenários diferentes: um que pressupõe uma transição para a neutralidade de carbono até 2050 e outro que atende às metas estabelecidas pelas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês).
Vale dizer: nos últimos dois anos, muitos países da ALC, incluindo as seis maiores economias – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru – atualizaram ou enviaram novas NDC.
Com exceção de Brasil e México, que pioraram suas ambições, essas atualizações aumentaram os objetivos de mitigação climática.
Para os pesquisadores, a transição para uma economia de baixas emissões é extremamente desafiadora para os países da ALC sob as políticas atuais.
O Brasil, por exemplo, passou por quatro anos de desmontes nos órgãos de fiscalização ambiental e leniência com crimes contra a floresta e povos nativos, como tráfico de madeira e garimpo ilegal.
O resultado sentimos na pele: quatro anos seguidos de desmatamento recorde e aumento das emissões brasileiras.
“O setor AFOLU (setor de agricultura, florestas e uso do solo) exige maior atenção dos formuladores de políticas da região não apenas por sua grande contribuição para as emissões, mas também por seu potencial de redução de carbono de baixo custo por meio de reflorestamento e manejo florestal”, explica o relatório.
A região é vista pelo mundo como promissora no comércio de créditos de carbono para países e setores de difícil descarbonização, como indústria pesada e transporte, alcançarem também suas metas.
Só o Brasil teria capacidade de atender de 22,3% a 48,7% da demanda global por créditos do mercado voluntário, que deve chegar entre 1,5 e 2 gigatoneladas de CO2 equivalente no final da década.
De acordo com uma projeção da WayCarbon, o país poderia obter, no mínimo, entre R$ 1,39 bilhão e R$ 4,63 bilhões em 2030, considerando os preços médios dos créditos por tipos de projetos até agosto de 2021.
Enquanto o potencial de geração de receitas com créditos de carbono até 2030 chega a US$ 120 bilhões, considerando um cenário otimista de US$ 100 dólares por tonelada de CO2.
Desafio político. O custo da transição é alto, o potencial de geração de receitas também. O que falta é uma estratégia para conectar as duas pontas para colocar o dinheiro para trabalhar em direção às metas climáticas.
Encerrada no último fim de semana, a cúpula climática das Nações Unidas (COP27) foi um desapontamento em relação a destravar o financiamento de US$ 100 bilhões anuais para países pobres e emergentes custearem sua transição.
Mas, internamente, essas economias também estão falhando em desenvolver planos financeiros para apoiar a implementação das suas estratégias de longo prazo para reduzir as emissões.
“Ações de redução de carbono em larga escala, como reflorestamento e conservação florestal, requerem intervenção do governo, bem como financiamento de bancos de desenvolvimento e um mercado profundo e líquido para compensações de carbono”, explicam os pesquisadores da Columbia.
“Para atingir suas metas climáticas, os países da ALC devem considerar uma nova estrutura de política fiscal. Várias soluções podem incluir a precificação do carbono e regras fiscais verdes”, completa.
Fonte: epbr