A semana começa para a Lojas Americanas com investidores à espera de definição sobre o que deve ser uma negociação dura com os credores da varejista.
Na sexta-feira, após o fechamento do mercado, veio a público que a Justiça do Rio de Janeiro acatou o pedido da companhia de tutela cautelar judicial, processo que impede a penhora ou bloqueio de seus bens por credores até que seja aberto um possível processo de recuperação judicial pela empresa.
Na última quarta-feira, a empresa anunciou “inconsistências fiscais” de R$ 20 bilhões em seu balanço. Esse rombo pode levar ao vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas.
Os bancos credores da varejista concordaram em adiar a cobrança para evitar que a companhia quebre e gere efeito cascata tanto no sistema financeiro quanto no varejo. Porém, a condição imposta pelos bancos para essa manobra é que a empresa faça uma capitalização rapidamente, que deve se dar por meio de emissão de ações numa oferta de alguns bilhões de reais.
Executivos que acompanham as negociações de perto consideram que as condições de financiamento ficarão mais duras daqui para frente, porque os bancos vão cobrar mais para assumir um risco maior.
As ações da varejista, que desvalorizaram cerca de 70% na semana passada, devem refletir a decisão da Justiça de proteger a empresa contra os credores nesta segunda-feira.
Crise deve ser acompanhada por três aspectos
Os desdobramentos da crise da Americanas deve ser analisado por três vias diferentes: gestão, relação com consumidores e a via legal.
A primeira delas passa pela relação com os credores. A Americanas conseguiu 30 dias para apresentar uma solução e negociar suas dívidas. A grande dúvida é: a maior contrapartida é quanto os acionistas estão dispostos a colocar na companhia para começar a conversa.
A segunda via tem relação com os consumidores. Já no seu primeiro comunicado, na noite de quarta-feira, quando a Americanas anunciou não só que Sérgio Rial não seria mais seu presidente, mas que havia um rombo não previsto em seu balanço, fez questão de colocar no comunicado que não havia problema de caixa na companhia.
Ou seja, não há problema operacional, a empresa tem dinheiro em caixa para se manter operando: pagando salários, fazendo entregas, e se mantendo na relação com os financiadores.
Portanto, a empresa vai continuar operando. Até quando, não se sabe, mas é importante a ação dos órgãos de defesa do consumidor para acompanhar de perto esse processo.
A terceira via é a legal, em que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já entrou com pelo menos três processos.
A autarquia investiga não só a razão de haver um erro contábil desse tamanho, mas também se alguém se deu bem com essa história. Teve informação privilegiada de alguém que se antecipou ao que estava por vir e ganhou inadequadamente dinheiro com isso?
Por Ligia Tuon, da CNN*
*Com informações de Thais Herédia