Eustáquio Libório
Até a semana passada, pelo menos sete pré-candidatos à Presidência da República às eleições de outubro deste ano visitaram Manaus e alguns até conseguiram arrebanhar boa quantidade de interlocutores entre a sociedade local para apresentar suas propostas e ganhar o eleitorado já a partir de agora, mesmo que a campanha propriamente dita ainda não esteja a toda força.
Neste ano, porém, o calendário eleitoral parece já ter nascido letra morta e as condições para fazer cumpri-lo, conforme as normas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não se concretizam e o resultado é que até político presidiário se candidata à Presidência da República, enquanto seus simpatizantes fazem trocadilho com sua condição a fim de, nessa era pós-verdade cheia de mentiras e fake news, enganar o eleitor incauto, tratando como presidiário político.
Na mesma linha do vale-tudo, Manaus foi palco de uma prática inaugurada, ao que parece, lá pela terra natal do deputado federal Alfredo Nascimento (PR): a de fazer protesto a favor de presidiários que cumprem pena longe de seu pedaço. Se a moda pega, vai faltar tornozeleiras eletrônicas, além de cadeias para esses apologistas do crime.
Mas voltemos aos pré-candidatos que visitam o Amazonas em busca de capital eleitoral (esclarecendo: votos e não outra coisa). É interessante a reação de quem vem à Amazônia e se encanta com a floresta a ponto de inventar (ou seria “criar”?) narrativa transmutando pessoas em heróis, como o fez a pré-candidata do PCdoB que, ao se despedir e agradecer à sua correligionária e senadora pelo Amazonas que a trouxe a Manaus, afirmou que a senadora “desbravou o Amazonas”. Como diria o caboco de antigamente: “Olha já!” e os de hoje simplesmente complementam com um sonoro “é mermo!”
Se pré-candidatos vêm vender seu peixe por aqui, os políticos com cargo no Congresso Nacional parecem estar sentindo o problema que o cidadão comum já sente há algumas eleições: a falta de opções de candidatos comprometidos com mudanças – e por isso agregadores de votos – mas que sejam flexíveis em troca de apoio político, como se pôde observar nas recentes visitas de Rodrigo Maia (DEM) e Flavio Rocha (PRB).
Não só um ou dois políticos locais estiveram em eventos dos dois candidatos, e não me refiro ao prefeito de Manaus, mas até a político do PRB, com assento na Câmara Federal, que mostrou a cara para prestigiar evento do candidato rival, no caso, o candidato do DEM, Rodrigo Maia. Vai por aí a grande capacidade de diálogo e entendimento do político ou é aquela célebre situação de acender uma vela a Deus e outra ao capeta?
Por falar em Rodrigo Maia é bom registrar o que parece ser uma posição muito favorável ao Amazonas ao concordar com a pavimentação da rodovia BR-319, que um dia ligou o Amazonas ao restante do país. Ao contrário de outra pré-candidata – ou nem tanto? – Marina Silva (Rede) que quando ministra do Meio Ambiente fez um esforço tão grande para preservar a Amazônia que manteve a BR-319 intransitável, embora, lá pelo seu estado natal, o Acre, se tenha rodovias ligando-o inclusive à Bolívia e as perdas de floresta sejam bem mais visíveis.
Rodrigo Maia, porém, ao contrário de Flavio Rocha que buscou para suas empresas a zona franca do Paraguai, prefere que se façam investimentos na Zona Franca de Manaus (ZFM) com o objetivo de modernizá-la e também de ampliá-la. Se por ampliar se entender avalizar projetos que estendam benefícios fiscais onde eles podem fazer a diferença, nada contra, agora se for para aumentar subsídios com recursos do contribuinte para ampliar também a desigualdade entre as regiões brasileiras, como projetos em trâmite no Congresso Nacional propõem, aí é melhor reavaliar as propostas de Maia.
Mas enquanto Flavio Rocha se preocupa em proteger indígenas, os quais, conforme o candidato, estão sendo expulsos de suas terras, Maia prefere fazer um alerta ao Brasil: Se as reformas necessárias não forem implementadas, daqui uns dias os investimentos públicos priorizarão a educação ou a saúde, não mais as duas.
Bem, do jeito que ambas estão, parece que não se investe em nenhuma já faz um bom tempo.