Chile enfrenta incertezas econômicas em meio a plebiscito para nova constituição

País, que antes era observado como um modelo para os vizinhos da América Latina, agora deve enfrentar uma recessão, além do desafio da inflação e do cenário externo

Neste domingo (4) os chilenos participam de um plebiscito para aprovar ou rejeitar uma nova constituição do país, proposta em 2019. Nesses últimos três anos, o país, que também passou por uma mudança de governo com a eleição de Gabriel Boric, enfrenta instabilidade social, política e econômica, que afetam as perspectivas do país, principalmente para a economia, dizem especialistas.

O país, que antes era observado como um modelo para os vizinhos da América Latina, agora deve enfrentar uma recessão. No segundo trimestre de 2022, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Chile ficou abaixo das expectativas, mostram dados do banco central chileno divulgados em agosto.

A economia do país andino cresceu 5,4% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, mas não apresentou crescimento em relação aos três meses anteriores em termos ajustados sazonalmente. Economistas esperavam expansão de 5,7% sobre um ano antes e de 0,3% em relação ao trimestre anterior.

Além disso, a inflação também é um desafio para o banco central chileno, que tem elevado a taxa de juros para combater o encarecimento dos preços. No entanto, a consequência da política monetária é de uma desaceleração da economia. Em julho, a instituição financeira do país elevou a taxa de juros a 9,75%, maior nível em 24 anos.

O diretor do grupo de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, diz que o país tem registrado uma clara fuga de capital por conta das incertezas.

“Isso tem a ver com a própria incerteza institucional, política e econômica. Apesar dos juros altos, o investidor observa que não compensa ter o risco ao que estaria exposto ao continuar a investir no Chile”.

Ramos diz que as incertezas com o país devem continuar, uma vez que, segundo ele, a constituição não deve ser aprovada. “Parece que é um plebiscito que, ao invés de reduzir o nível de incerteza, pode possivelmente aumentar, pois se a constituição que foi proposta for rejeitada, não é claro qual é o passo seguinte, se vai ser criada outra convenção e que tipo de constituição que virá em uma segunda interação”.

Além disso, a avaliação é de que os gastos públicos devem aumentar por conta da mudança de preferência do eleitor médio chileno.

“Votou um governo de esquerda, quer uma nova constituição, quer uma nova postura da política fiscal, quer mais gastos fiscais, claramente, a questão aqui é como se satisfaz essas demandas de maneira responsável, como se financia isso de maneira permanente sem minar os incentivos ao investimento e ao crescimento”, explica.

Neste cenário de instabilidade e incerteza, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou um acordo de linha de crédito flexível de dois anos para o Chile de US$ 18,5 bilhões, visando aumentar as reservas do país e fornecer um seguro contra cenários adversos.

Em comunicado, a instituição afirmou que a linha será tratada como precaução, e que a economia chilena enfrenta um aumento acentuado dos riscos globais.

“O Chile se qualifica para a linha em virtude de seus fundamentos e políticas econômicas muito fortes, que continuam a apoiar a resiliência e a capacidade de o país de responder a choques”, disse o FMI, que avaliou que o país teve “uma recuperação impressionante das consequências da pandemia de Covid-19”.

Eduardo Mello, professor de relações internacionais da FGV destaca os fatores externos que prejudicam a economia chilena. Segundo o especialista, o país sofre por ser dependente da exportação do minério de cobre. Com o fechamento da economia chinesa pela chamada política da “Covid Zero” e, consequentemente, a desaceleração da construção no gigante asiático, os preços do cobre caíram, afetando as exportações do Chile.

Além disso, assim como outras nações ao redor do mundo, durante a pandemia o Chile também realizou uma série de medidas de estímulo econômico e que agora estão sendo retiradas. “O país está bastante endividado, possui uma economia pequena, com capacidade limitada da parte fiscal para aguentar choques. Agora está retirando os estímulos e está fazendo isso em um momento em que não tem escolha, com pressão internacional econômica bastante grande”, diz Mello.

As demandas da população por auxílios se somam aos entraves da própria constituição do país com relação à políticas mais radicais de assistência, gerando uma polarização que é considerada um fator de risco pelos especialistas.

“O país tem uma série de travas constitucionais em relação a políticas mais radicais, existe um problema de pensões, a previdência é bastante difícil para os chilenos mais pobres, os serviços públicos são muito básicos por conta da constituição, existe alguma consternação social no país que levou a eleição de um  presidente mais radical e de uma assembleia constituinte”, explica Mello.

O sentimento de indefinição com relação ao plebiscito e a possibilidade de uma rejeição do texto fazem com que a instabilidade persista e afaste os investidores. Em relatório, o Goldman Sachs projeta um crescimento do PIB, na comparação anual, de 2,3%. Para 2023, a projeção é de um crescimento de 0,2%.

Fonte: CNN

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