Desaceleração do crédito desestimula investimentos, diz Jorge Junior

O Banco Central informou que as concessões de empréstimo no Brasil tiveram queda de 9,5% em fevereiro, em comparação ao mês anterior

Poe Waldick Júnior

Presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros), Jorge Junior afirmou em entrevista à revista PIM Amazônia que a desaceleração de crédito no país desestimula investimentos privados. A entidade presidida por ele possui 33 filiados, dos quais 22 estão nos dois principais setores da Zona Franca, o de Bens de Informática e Eletroeletrônicos.

“Prejudica o setor de duas formas. Primeiro, porque o próprio setor produtivo se vê desestimulado a fazer investimentos utilizando recursos disponíveis nos bancos, com certeza em decorrência da alta de juros para financiamentos. Segundo, que o próprio consumidor também se vê desinteressado a fazer aquisições com créditos”, explica ele.

No último dia 29 de março, o Banco Central (BC) informou que as concessões de empréstimo no Brasil tiveram queda de 9,5% em fevereiro, em comparação ao mês anterior. O número confirmou a tendência de recuo da economia como um dos efeitos da alta taxa básica de juros do país, a Selic, mantida em 13,75% pela 14ª vez por deliberação do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

Jorge Junior se une a outros nomes do setor, como o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, e critica o atual índice de juros mantido pela autoridade monetária brasileira.

“Penso que não se justifica mais uma taxa de juros tão elevada, nessa ordem de 13,75%. Não há uma inflação no país causada pelo consumo, mas sim por retração do consumo. Diante disso, acredito que deveria sim, reavaliar e reduzir a taxa de juros referencial, a Selic, para que se possa ter um maior estímulo ao consumo”, defende o presidente da Eletros.

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A produção do 1º trimestre foi de 538 mil veículos, cerca de 50 mil unidades abaixo dos níveis pré-pandemia. Foto: Brazil Photos/LightRocket/Getty Images

O efeito da desaceleração da economia sobre o setor de automóveis chegou a repercutir na imprensa em mais de uma ocasião. Segundo reportagem da revista Veja, as montadoras tiveram o pior trimestre desde 2004 (janeiro a março), conforme dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A produção acumulada foi de 538 mil, cerca de 50 mil abaixo dos níveis pré-pandemia.

Apesar do cenário, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) desacelerou em março, registrando uma inflação de 0,71%. O acumulado nos últimos 12 meses ficou em 4,65%, dentro da meta de inflação para o ano, definida em 4,75%.

Os números abrem margem para uma redução da taxa Selic nas próximas reuniões do Copom, já que um dos argumentos para os altos juros era a inflação fora da meta.

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