Por Craig Stirling e Francine Lacqua / Bloomberg
Mais turbulência bancária nos Estados Unidos, consequências econômicas mais amplas, Federal Reserve perdendo seu foco na inflação e até mesmo uma “quebra financeira” estão entre o conjunto de perigos que preocupam os economistas reunidos no Lago Como, na Itália.
“Muito, muito pessimista”, é como Valerio De Molli, anfitrião da reunião nesta sexta-feira (31), descreveu o sentimento entre os principais observadores sobre as perspectivas para o mundo após a turbulência que testou os nervos das autoridades monetárias de Washington a Frankfurt. Nouriel Roubini, presidente da Roubini Macro Associates, articulou a melancolia.
“Estamos entrando em recessão e instabilidade financeira tendo que aumentar os juros porque a inflação está muito alta, então ficamos com uma incoerência e um trilema: não podemos alcançar a estabilidade de preços, manter o crescimento econômico e ter estabilidade financeira ao mesmo tempo”, afirmou à Bloomberg Television. “Então, eventualmente, teremos um colapso econômico e financeiro”.
Esse comentário – de um homem que tem um histórico acurado em prever desastres econômicos, a tal ponto que é conhecido como Dr. Apocalipse – foi reconhecidamente a observação mais alarmista sobre as ameaças que persistem à economia global e aos mercados financeiros depois que o aumento das taxas de juros, a fuga de depósitos e o alarme dos investidores provocaram o desaparecimento do Silicon Valley Bank (SVB), do Signature Bank e do Silvergate Capital nos Estados Unidos nas últimas semanas.
Indiscutivelmente mais perigoso, os mercados assistiram também a queda de uma instituição globalmente sistêmica, o Credit Suisse (CS). Embora a reunião anual da European House-Ambrosetti em Cernobbio esteja a uma curta caminhada da Suíça, onde esse drama se desenrolou recentemente, ameaças mais distantes dentro do sistema bancário dos EUA preocuparam mais os participantes.
Riscos do sistema paralelo, alerta Zentner
“Você sempre tem que se preocupar com o mal que espreita ao virar da esquina”, disse Ellen Zentner, economista-chefe do Morgan Stanley para os EUA. “Com o encanamento financeiro, você simplesmente não sabe”.
Para ela, os riscos no sistema bancário paralelo são uma preocupação porque é “muito difícil entender o tamanho disso”. Zentner também destacou o estresse em torno das carteiras de imóveis comerciais que podem impactar os bancos regionais dos EUA que já cuidam de grandes carteiras de hipotecas.
“Você pode ter uma espécie de relatório aleatório de um grande proprietário de um escritório entregando as chaves”, disse ela. “Isso pode começar a crescer com preocupações sobre quais outras propriedades perdedoras estão por aí que os bancos podem ter que absorver em seus balanços”.
Enquanto isso, as dúvidas persistentes sobre os depósitos nessas instituições preocupam Gene Frieda, estrategista global da Pimco. Ele disse que mesmo uma “garantia implícita” que os formuladores de políticas efetivamente ofereceram não é suficiente para conter o estresse.
“Não parece que os EUA tenham controlado totalmente a incerteza em torno de depósitos bancários e depositantes bancários, depósitos não garantidos e, como resultado, acho que todos estão em alerta máximo”, disse ele. “Achamos que os riscos são altos o suficiente de modo que você vai querer jogar com bastante segurança”.
Títulos podem sofrer novos tombos
Uma vulnerabilidade revelada pela crise do mercado de títulos do Reino Unido no segundo semestre de 2022 e pela quebra do SVB foi como os títulos não cumprem mais um papel tradicional como um ativo de segurança, disse ele, alertando que mais casos desse tipo podem acontecer.
Por outro lado, Mohamed El-Erian, chief economic adviser da Allianz e colaborador da Bloomberg Opinion, ofereceu opiniões mais otimistas sobre o episódio bancário. Mas ele tem outras preocupações.
“O setor bancário é baseado na confiança e, se a confiança for jogada fora, coisas ruins acontecem”, disse El-Erian, acrescentando que “o contágio econômico” é o que acontecerá agora. “Na verdade, me preocupo menos com uma crise bancária, tanto quanto me preocupo com as consequências do que já vimos”, acrescentou.
O problema para muitos participantes é que a turbulência apresenta novos problemas quando os existentes permanecem sem solução, como explicou Roubini. Apesar do pano de fundo, o Fed e seus pares globais não podem se dar ao luxo de esquecer seus mandatos de combater a inflação e buscar a estabilidade de preços, disse Frieda, da Pimco.
“Não invejo a tarefa deles”, disse ele à Bloomberg Television. “Temos uma guerra em duas frentes entre inflação e instabilidade financeira, e o Fed precisa ficar de olho no prêmio da inflação”.