Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) avaliaram as ondas de calor ao longo da costa brasileira e revelam que Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo estão experimentando cada vez mais climas extremos, com prejuízos econômicos.
Globalmente, a temperatura da Terra está 1,15°C acima da média de 1850-1900 – e os anos de 2015 a 2022 foram os oito mais quentes já registrados. O motivo já é bastante conhecido: as emissões de gases causadores do efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso –, também em trajetória de alta.
No Brasil, alguns estados litorâneos estão sentindo cada vez mais os impactos deste avanço de emissões e temperatura.
Publicado pela revista Nature, o estudo da Unifesp revela que o litoral do Espírito Santo é a região que mais sente os efeitos climáticos, com aumento de 188% da frequência das ondas de calor e de frio nos últimos 40 anos.
No Rio Grande do Sul, a ocorrência de eventos extremos dobrou, e em São Paulo, está em 84%.
Os pesquisadores avaliaram uma série histórica com dados de temperatura do ar observados a cada hora do dia ao longo das últimas duas décadas em cinco regiões costeiras do país: São Luís (MA), Natal (RN), São Mateus (ES), Iguape (SP), e Rio Grande (RS).
Embora toda a costa brasileira já esteja sofrendo algum impacto das mudanças climáticas, os litorais das regiões Sudeste e Sul são os mais impactados.
Nos litorais de RS, SP e ES, a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor tem aumentado ao longo dos anos. Além disso, as ondas de frio no ES também estão mais corriqueiras.
“Estes dados mostram como as regiões Sudeste e Sul do Brasil já se encontram com impactos da temperatura do ar e que irão afetar a biodiversidade e até a economia”, destaca Fábio Sanches, autor da pesquisa e pós-doutorando pelo IMar/Unifesp.
“Identificamos o litoral do ES como a região mais afetada dentre as que estudamos, pois além das ondas de calor, foi a única região onde a frequência de ondas de frio é cada vez maior”, explica Sanches.
Além da frequência de eventos no Sudeste e Sul, um dado sobre a intensidade das temperaturas mínimas extremas chamou a atenção dos pesquisadores: no litoral do RS o frio extremo está cada vez mais quente.
“Isso significa que está ficando cada vez menos frio no sul do país, o que pode ter impactos na produção agrícola e até no turismo”, analisa Ronaldo Christofoletti, coordenador da pesquisa, bolsista produtividade do CNPq e professor do IMar/Unifesp.
O número de eventos por ano é variável, dependendo de fenômenos como El Niño e La Niña, mas, em média, no ES, a taxa de aumento de eventos extremos é calculada em 4,7% ao ano, enquanto SP fica em 2,1% e RS, 2,5% ao ano.
De acordo com os pesquisadores, um sinal de alerta para a vulnerabilidade climática do Brasil.
Prejuízo para o agro
Mais do que um desconforto térmico – que para alguns pode ser resolvido ligando o aquecedor ou o ar-condicionado – os impactos desses extremos já são observados com as inundações causadas por fortes chuvas, secas prolongadas afetando reservatórios de água e quebrando safras, por exemplo.
“O agronegócio brasileiro está ameaçado por estas variações. A produtividade é dependente do ciclo anual de temperatura e chuva, e as alterações de extremos e de amplitude térmica podem baixar a produtividade, a qualidade da produção ou mesmo levar a perda da safra”, explica Christofoletti.
“Especialmente no sul do país, com os dados de que as temperaturas mínimas estão cada vez mais quentes, pode levar a uma alteração do sistema produtivo nas próximas décadas”, completa.
Fonte: epbr