Excesso de consumo alimentar na Europa deve ser combatido, afirma WWF

A Europa importa dois terços da quantidade de comida que exporta, consome mais do que precisa e ainda põe fora parte dos alimentos de que dispõe, afirma a organização não governamental (ONG) ambientalista WWF, em relatório divulgado na segunda-feira (24).

\”A Europa come o Mundo\” é o título do trabalho da WWF, que concluiu que o mundo \”já produz alimentos suficientes para toda a população\” mas que é preciso mudanças no sistema comercial e de produção para que cheguem a todos.

\”A transformação mais drástica reside na mudança de dietas, com a substituição de carne e laticínios produzidos intensivamente por alimentos à base de plantas\”, defende a WWF, que pede à União Europeia que reduza a \”parte desproporcional dos recursos globais que consome para se alimentar a si própria\”.

Em números de 2020, a União Europeia importou 122 bilhões de euros em produtos agroalimentares e exportou 184 bilhões. A Europa ganha porque exporta produtos de alto valor e importa produtos de baixo valor, mas quem sofre é \”o fornecimento alimentar mundial\”, diz a WWF.

\”Importamos cacau e exportamos chocolate, importamos soja para ração animal e exportamos produtos lácteos. Em vez de ser o `celeiro` do mundo, a UE é a `mercearia`, vendendo produtos destinados principalmente a consumidores mais ricos\” resume a organização.

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A WWF aponta o efeito no mundo que os padrões de consumo europeus provocam, salientando que \”os atuais níveis elevados de produção alimentar só são possíveis graças à importação maciça de recursos\”. Foto: Divulgação

Para a organização, a mudança deve ser para a \”produção de gado em pastagem\” em vez de importar produtos agrícolas \”que conduzem à destruição dos ecossistemas naturais\” e tiram espaço a \”culturas que se podiam destinar à alimentação humana\”.

Os produtos agrícolas importados para a Europa, sobretudo a soja, são cultivados à custa de florestas destruídas nos trópicos: \”entre 2005 e 2017, cerca de 3,5 milhões de hectares de floresta foram destruídos para produzir produtos agrícolas\” para o mercado europeu, emitindo gases de efeito estufa equivalentes a 40% das emissões anuais europeias.

Dentro das fronteiras europeias, pratica-se agricultura industrial assentada \”num modelo extrativo que desgasta a base de recursos naturais de que depende\”, levando à perda de biodiversidade, a solos menos saudáveis e poluição provocada pelo uso de fertilizantes, que chegam também aos ecossistemas aquáticos.

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No pescado, a Europa importa quase o dobro do que produz, com 5,1 milhões de toneladas e 9,5 milhões de toneladas importadas em números de 2019, correspondendo ao consumo de mais de 12% do total produzido no mundo. Só em marisco, cada europeu consome anualmente em média 24 quilos, mas só 40% é produção europeia. Foto: Divulgação

Esse consumo, destaca a WWF, pesa nos ecossistemas e nos recursos pesqueiros do mundo, mais de um terço dos quais são \”explorados para além de níveis sustentáveis\”.

A WWF estima que cada europeu desperdice 173 quilos de alimentos anualmente, indicando ainda que \”15% da produção alimentar total se perca durante ou pouco depois da colheita de cada ano\”.

A diretora da WWF Portugal, Ângela Morgado, salientou que a invasão russa da Ucrânia, com impacto na produção de cereais, corre o risco de ser \”instrumentalizado\” para se reduzirem os compromissos ambientais europeus em favor de aumentos de produção.

\”Apenas um sistema alimentar mais sustentável será capaz de proporcionar segurança alimentar. A UE não deve concentrar-se em produzir mais, mas sim em produzir e consumir melhor, de forma diferente\”, defendeu.

Fonte: Agência Brasil e RTP Lisboa
Foto: Divulgação

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