Relatório da agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) alerta que o controle do aumento da temperatura global permanecerá fora de alcance se o mundo não ajudar os países emergentes a fechar uma lacuna de US$ 2 trilhões em investimentos para transição energética.
Publicado esta semana, o documento mostra que países de renda média e baixa enfrentam um déficit de US$ 4 trilhões em investimentos em desenvolvimento sustentável. Os maiores vácuos estão em infraestrutura de energia, água e transporte.
Rebeca Grynspan, secretária-geral da UNCTAD, destaca que em um grupo de mais de 30 países, nenhum registrou um único investimento internacional em geração de energia renovável de tamanho utilitário desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015.
E afirma que um “aumento significativo” no apoio material para renováveis nessas economias é “crucial” para que o mundo alcance suas metas climáticas até 2030.
Vale dizer: nesta semana, o mundo registrou o dia mais quente da História, com a temperatura média global atingindo 17,01 ºC na segunda-feira (3/7) – superamos o recorde de agosto de 2016 de 16,92 °C.
No ano passado, o aumento de temperatura da Terra foi de 1,15°C, enquanto os cientistas dizem que não podemos ultrapassar 1,5°C até 2100.
Sem transição justa
Embora o investimento em energias renováveis tenha quase triplicado desde a adoção do Acordo de Paris, as nações mais pobres foram deixadas de fora, diz a agência da ONU.
Em 2022, países de baixa renda receberam US$ 544 bilhões em investimento estrangeiro direto em energia limpa, o que está bem abaixo das necessidades reais.
A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), por exemplo, calcula que esses investimentos precisam alcançar US$ 2,8 trilhões até 2030 para alinhar o mundo com 1,5°C.
Destravando investimentos
As grandes empresas de energia estão se voltando cada vez mais para as renováveis. O relatório da UNCTAD mostra que a alienação de ativos de combustíveis fósseis, desde 2015, tem ocorrido a uma taxa de cerca de US$ 15 bilhões por ano entre as 100 maiores multinacionais.
No entanto, chama a atenção para um ritmo geral mais lento de investimento em energia renovável em 2022, “à medida que os acordos internacionais de financiamento de projetos diminuíram”.
A guerra na Ucrânia e a crise na cadeia de suprimentos contribuíram para o cenário.
O investimento estrangeiro direto (IED) também está em declínio: a queda foi de 22% em 2022, para US$ 1,3 trilhão. Nas economias de baixa renda, a grande maioria na África, os fluxos de IDE caíram até 16%.
Para reverter esse quadro, a ONU pede a implementação de uma série de políticas e mecanismos de financiamento, entre eles, o alívio da dívida.
Há duas semanas, esse tema tomou conta das discussões de uma cúpula financeira organizada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris.
A UNCTAD defende que é preciso fornecer espaço fiscal para os países com menos recursos poderem lidar com os gastos com energia limpa, além de reduzir as classificações de risco dessas nações, um pré-requisito para atrair investimentos privados.
A agência também recomendou a redução do custo de capital para investimentos em energia limpa por meio de parcerias entre investidores internacionais, setor público e instituições financeiras multilaterais.
Essa medida tem potencial de reduzir em até 40% o spread dos custos de empréstimos para projetos de investimento em energia em países emergentes, calcula.
Fonte: Agência epbr