O sonho de ter o próprio negócio é comum ao brasileiro, mas poucos conseguem chegar lá. Mais difícil ainda, é esse projeto se tornar referência em sua área. Um dos poucos exemplos virtuosos nesse sentido vem do Laboratório Sabin de Análises Clínicas que, pelo segundo ano consecutivo, foi primeiro lugar do prêmio Melhores Empresas para Trabalhar na Amazônia, uma iniciativa conjunta do Great Place to Work (GPTW) e da Revista PIM Amazônia.
A cofundadora e conselheira do Grupo Sabin, Janete Vaz, conta que esse foi um dos muitos prêmios recebidos pela companhia, mas destaca que o caminho para a excelência foi longo e árduo. Começou intuitivo, na identificação das necessidades da empresa, do colaborador e do cliente; prosseguiu na aposta em inovação e na conquista de certificações em qualidade, responsabilidade social e gestão ambiental. Até que chegou o dia em que a empresa estava preparada para crescer e se multiplicar em outras praças brasileiras.
Na entrevista exclusiva à Revista PIM Amazônia, a executiva fala da trajetória do Sabin, de suas estratégias de planejamento, da importância da identificação de valores entre empresa e colaborador, do diferencial feminino na gestão, e do valor de um bom sorriso. Leia, a seguir, o texto na íntegra.
Revista PIM Amazônia – Como surgiu a ideia de criar o Sabin?
Janete Vaz – Sou formada pela Universidade Federal de Goiás e mudei para Brasília porque meu ex-marido estudava direito na UnB. Iniciamos o Sabin em 1984, nascendo do meu sonho de ter meu próprio negócio, após formada. Foi um desafio muito grande. Eu tinha dois empregos, na época, e assinava uma farmácia. Trabalhava de manhã, de tarde e aos finais de semana na farmácia. Foi, portanto, muito difícil começar uma empresa, que no início tinha três colaboradores, e chegar hoje a 5.200. Atualmente, quando olho para trás, vejo que tudo realmente começou de um sonho compartilhado com muitas pessoas. E foi um sonho que deu certo.
O Sabin foi considerado a melhor empresa para trabalhar na Amazônia em 2018. Além disso, figura entre as melhores empresas para trabalhar no Brasil e na América Latina, depois de 33 anos de atuação. Qual o diferencial para tanto sucesso?
Nós fizemos tudo por intuição, percepção e conhecimento do negócio. A empresa cresceu com essa vertente de buscar sempre o melhor. Como nós iniciamos tudo e vivenciamos todo esse processo, soubemos identificar cada necessidade da empresa, do colaborador e também do cliente. E isto nos deu a oportunidade de enxergar o que era mais importante nestes três pilares. Em relação aos colaboradores, nós os ajudávamos bastante. Muitas vezes, de forma financeira mesmo, seja colaborando com uma obra, seja colocando um filho na escola. Em 2002, adotamos a ferramenta AS 8000, que nos trouxe práticas e processos voltados para gestão de pessoas. Isso nos rendeu prêmios, como completar 15 anos estando direto entre as dez melhores empresas para trabalhar no Brasil, pelo Great Place To Work (GPTW). Pelo jornal Valor Econômico, dentro do segmento saúde, ficamos em primeiro lugar seis anos consecutivos. E, na Revista Exame, ficamos entre as primeiras colocadas todos os anos, também pelo segmento saúde.
Esta forma de desenvolver o processo veio lá no começo, quando nós desenvolvemos a metodologia de atrair, desenvolver, desafiar, reconhecer, recompensar e comemorar. Benefícios oferecidos aos colaboradores são revertidos em melhores resultados, melhor produtividade, independentemente do setor que ele trabalha, adquirindo o sentimento de que participou da construção de toda a trajetória de sucesso da empresa.
Há 14 anos, o grupo precisou tomar uma decisão: ou crescia, ou seria incorporado por grandes empresas. A partir do momento que se optou pela expansão da empresa, quais foram os maiores desafios para se consolidar como um dos grandes grupos de medicina diagnóstica do país?
Os 15 primeiros anos de nossa trajetória foram desafiadores para nossa consolidação institucional. Em 1999, fizemos nossa primeira mudança física, nos transferindo de um espaço menor para um shopping, que nos deu muita visibilidade. Contratamos uma arquiteta para o novo endereço, cujo projeto nos levou à Revista Cláudia, ao criar um design que mesclava cores de alegria. Em 2000, a busca pela qualidade foi consolidada com o alcance da certificação da ISO, depois a SA 8000, mais tarde a gestão de risco, gestão ambiental, configurando a busca permanente pela qualidade. Em 2010, iniciou-se nosso processo de expansão. Com o apoio da Fundação Dom Cabral, foram estudadas todas as viabilidades da nossa empresa. Estávamos sempre preocupados em não fazer dívidas e todo o retorno financeiro da empresa também era revertido em investimento na inovação e na tecnologia.
O período de 2010 a 2012 foi o mais intenso de nossa expansão, quando eu pedia para cada líder preparar mais sucessores habilitados a dar esse passo. Conseguimos formar um grupo de 30 pessoas para isso. Nosso desafio maior é levar a mesma cultura, o mesmo valor, a mesma técnica e as mesmas práticas para um novo espaço e mercado com diferentes culturas. Nosso selo leva marcas que são indispensáveis na empresa em qualquer lugar do país, adaptando-se à cara do novo lugar onde estamos chegando, respeitando-o sempre. Traçamos estratégias antecipadas de planejamento, que nos leva a ter alvos estipulados até 2025. Entre eles, estar presente em até 70% do Brasil e permanecer sempre entre as dez melhores.
A empresa é uma das referências quando o assunto é empoderamento feminino. Além das duas sócias à frente da empresa, 77% do quadro de colaboradores é formado por mulheres. Poderia nos falar um pouco dessa característica? As mulheres são realmente melhores que os homens?
Nós somos 77% da empresa e temos 64% representando a liderança feminina, o que constitui nosso maior diferencial. Mas, este é um fator natural e não de preconceito, de que “as mulheres são melhores que os homens”. Selecionamos e promovemos pela capacidade de cada um a determinado cargo. Como o volume maior de colaboradores é de mulheres, acabamos por tê-las em sua maioria na liderança também, como consequência. Mas as mulheres são de fato muito boas no que fazem (risos). Hoje, em Brasília, a Sabin possui 13 comitês de apoio e desenvolvimento das mulheres: de saúde, de cultura, de educação, de combate à violência contra a mulher, etc. O programa procura incentivá-las a tornarem-se protagonistas da própria história.
Durante o crescimento da empresa, as sócias analisavam pessoalmente o feedback dos clientes, buscando atender às expectativas de cada um e o aperfeiçoamento da empresa. Atualmente, com mais de 5.200 colaboradores, quais são as características que sua organização busca para manter a qualidade dos serviços prestados?
Esse processo começa na atração de pessoas com os mesmos valores que os nossos e, muitas das vezes, desenvolvemos a competência dela por meio da nossa universidade corporativa. É uma ferramenta muito importante de desenvolvimento pessoal. Procuramos fazer com que o funcionário enxergue e trace a sua própria trajetória profissional, observando ali o que precisa ser melhorado. Sempre prestamos atenção às características dos colaboradores, se essa pessoa tem os ingredientes necessários para manter e galgar cada vez mais o crescimento da busca pela qualidade. Nossa missão é entregar exames com excelência e o nosso propósito é inspirar pessoas a cuidar de pessoas. E alcançamos esse resultado formando gente, criando projetos de desenvolvimento de pessoas, de liderança e de desenvolvimento de organização. Nesse foco, nós crescemos todos juntos.
Um dos grandes diferenciais do Laboratório é a gestão de pessoas. Poderia nos explicar o significado da frase “Contrate o sorriso e desenvolva a técnica”?
Eu adorava fazer parte do processo de seleção. E era naquele momento que eu conseguia enxergar naquelas pessoas quem tinha mais afinidade com o sorriso. Porque é muito difícil contratar pessoas que não têm alegria de viver, que tem dificuldade de relacionamento, que não tem humildade e simplicidade. Pois isso tudo faz parte de nossa escala de valores. Pessoas felizes produzem mais e melhor e este é o nosso conceito de felicidade. Como líder, você precisa dar respeito, valorizar as pessoas para que elas, de fato, possam ser espontâneas, criativas. Dessa forma, onde quer que seja o ambiente em que você as coloque, darão o melhor de si.