Entrevista Professor Jacques Marcovitch
O professor Emérito Dr. Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo, da qual foi reitor na década de 90, tem sido um parceiro de primeira linha, tanto na aproximação entre São Paulo e Amazonas no decisivo âmbito acadêmico das relações institucionais, como tem ajudado a pontuar a economia do Amazonas, suas escolhas e especificidades no debate global do clima e, particularmente, na precificação dos serviços ambientais que prestamos ao Brasil e ao Mundo. Trouxe para Manaus a Mostra dos Pioneiros e Empreendedores do Brasil, dentro do Programa de Doutorado de Administração (Nota máxima na CAPES/MEC) da FEA Pioneirismo para a Construção do Século XXI. Hoje, com Adalberto Luiz Val do INPA, e Alfredo Lopes CIEAM, responde pelo Conselho Consultivo da I AMAS, a Conferência Internacional de Gestão da Amazônia que ocorrerá em Manaus de 29 a 31 de Agosto próximo. Confira a I Parte de sua entrevista à Coluna FOLLOW-UP.
FOLLOW-UP: Presente no Amazonas como observador e parceiro das grandes questões regionais desde os anos 90, e um dos idealizadores da parceria USP e UEA, na sua opinião quais os fundamentos históricos desta I AMAS, a Conferência Internacional de Gestão da Amazônia que acontecerá este final de agosto em Manaus?
Prof. Jacques Marcovitch: Quando nós voltamos às origem desse evento e convívio de pensadores, gestores e empreendedores ligados à questão amazônica, que teremos neste mês de agosto de 2018 no Centro de Convenções Vasco e Vasquez, nós precisamos voltar a década de 80 com a preparação da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, ocorrida no Brasil em 1992, a Rio-92, porque foi nesse contexto que começou a se debater o tema da Sustentabilidade, quando se pôs em pauta essa relação delicada entre meio ambiente e do desenvolvimento. Bem antes dessa reunião de todos os países do Planeta, Samuel Benchimol, professor e empresário, já tinha desenvolvido o conceito da harmonia entre o crescimento econômico, a proteção do meio ambiente, com a inserção social e o respeito à cultura. Ou seja, o conceito de desenvolvimento sustentável, que hoje é atribuído aos organizadores da Rio 92, já tinha sido apresentado e formulado por esse notável pensador da Amazônia. E isso está registrado em vários programas de televisão do Jornalista Alexandre Machado entrevistando Samuel Benchimol.
FUP: Como a USP entrou nessa seara amazônica e ajudou a evoluir essa questão até nossos dias?
JM: É importante registrar um fato histórico extremamente elucidativo? A USP, através de um de seus núcleos de estudos, foi contratada pela Fundação Amazonas Forever Green, dirigida à época por outro amazonense, o professor da UFAM e PUC-SP, Alfredo Lopes, para organizar um debate sobre Sustentabilidade no Fórum Global, da Rio-92, aberto com uma Conferência histórica sobre Sustentabilidade do professor Samuel Benchimol, ocasião em que lançou ali um de seus livros sobre essa questão, Guerra na Floresta. Presentes estavam Crodowaldo Pavan, Paulo Alvim, Bertha Becker, Aziz Ab’Saber, Bautista Vidal, entre outros amazonólogos. Samuel apresentou à opinião pública seu conceito e, a partir daí, USP se integra de corpo e alma ao tema e participa da elaboração da Carta da Terra para avançar na discussão dessa dicotomia e necessária harmonia entre desenvolvimento e meio ambiente.
FUP: E onde é que aparecem os Pioneiros da Amazônia para integrar o debate?
JM: Ainda na década de 90, começamos a pesquisa dos Pioneiros, que são os brasileiros que no final do século XIX ao longo do séculos XX, transformaram a paisagem social e econômica do Brasil. Inevitavelmente, surge no debate do desenvolvimento mais uma vez a figura do empresário do Norte, do estado do Amazonas, um pioneiro empresarial que tinha essa dupla identidade, de um lado empresário, e do outro lado pesquisador e professor. E, a partir daí, no rol dos 24 pioneiros, começando com os Gerdau, passando pelos Klabin/Lafer, por Atílio Fontana, subindo para o Nordeste com Edson Queiroz , chegando até o Belmiro Gouveia, para chegar no Norte com Samuel Benchimol, entre outros empreendedores de peso, com os quais nós vamos ter então na história do Brasil na leitura dos Pioneiros, quando nós vamos chegar a Manaus, em 2012, onde começamos a pensar na importância da circulação e mobilidade do projeto expositivo. E em Manaus o projeto expositivo dos Pioneiros é feito em parceria com a Federação e o Centro das Indústrias.
FUP: Podemos inferir que começou aí essa fecunda parceria entre a USP e a UEA, uma instituição integralmente mantida pela indústria?
JM: Convém lembrar que nesse período também foi desencadeada outra pesquisa, realizada pela USP, e que gerou um outro livro, além da Amazônia, Pioneiros e Utopias, do jornalista Alfredo Lopes, que foi Gestão da Amazônia, de minha autoria, que é um livro que, ao mesmo tempo que analisa os desafios do bioma, também mostra casos positivos de empresas, ao todo são 10 casos de empresas que colocam em prática esse conceito de sustentabilidade. Este tema vai aparecer em 2013, o ano da exposição Pioneiros e Empreendedores do Brasil, que ocorreu Centro Cultural Palácio da Justiça, em Manaus, no final do qual fizemos acontecer, sob a coordenação do Programa CIEAM e FIEAM um seminário na Sede da Amazônia FIEAM, onde nós vamos definir uma pauta de prioridades para o desenvolvimento sustentável. Neste mesmo contexto começa a ser criada uma relação entre duas universidades estaduais, a Universidade do Estado do Amazonas e de São Paulo. E nessa relação, que teve viários padrinhos que foram trabalhando na evolução dos temas, Alfredo Lopes, Wilson Périco e tantos outros que ajudaram a conceber um projeto de colaboração para se formar doutores na área de administração, entendendo que há déficit de governança em todo Brasil, mas especialmente na Amazônia Região Norte…
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]