Da Redação, com informações da Agência Brasil e G1
A capital do Alagoas está em situação de emergência por 180 dias por causa do iminente colapso de uma mina de exploração de sal-gema da empresa Braskem, que pode provocar o afundamento do solo em vários bairros. O decreto da situação de emergência foi feito pela prefeitura de Maceió. A área já está desocupada e a circulação de embarcações da população está restrita na região da Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange, na capital.
Um gabinete de crise foi criado emergencialmente pela prefeitura, que comunicou os órgãos de controle e de segurança, entre eles os comandos da Marinha e do Exército.
Nove escolas estão estruturadas com carros-pipa, colchões, alimentação, equipes de saúde, equipes da Guarda Municipal e de assistência social para receber até 5 mil pessoas vindas das regiões afetadas.
Além disso, 85 pacientes do Hospital Sanatório, que fica localizado em área de risco, foram encaminhados para outras unidades de saúde, entre elas o Hospital Universitário, que também recebeu equipamentos para a hemodiálise de 352 pessoas.
Na quarta-feira, 29, a Defesa Civil da cidade já havia informado que os últimos tremores se intensificaram e que houve um agravamento do quadro na região já desocupada. “Estudos mostram que há risco iminente de colapso em uma das minas monitoradas. Por precaução e cuidado com as pessoas, reforçamos, mais uma vez, a recomendação de que embarcações e a população evitem transitar na região até nova atualização do órgão”, informa a prefeitura.
Não foi a primeira vez que a população se viu obrigada a deixar suas casas. Por causa da exploração mineral subterrânea realizada no local, diversos bairros tiveram que ser evacuados emergencialmente em 2018. Rachaduras surgiram nos imóveis da região, seguido de um tremor de terra, criando alto risco de afundamento. Mais de 55 mil pessoas tiveram que deixar a região, que hoje está totalmente desocupada.
Recentemente, a Braskem foi condenada pela Justiça a indenizar o estado de Alagoas por danos causados pela exploração de sal-gema, que resultou na retirada da população de cinco bairros de Maceió. O sal-gema é uma matéria-prima usada na indústria para obtenção de produtos como cloro, ácido clorídrico, soda cáustica e bicarbonato de sódio.
Posicionamento da Braskem – Em nota, a Braskem diz que monitora a situação da mina e desde a última terça-feira, 28, isolou a área de serviço da empresa, onde são executados os trabalhos de preenchimento dos poços. “Os dados atuais de monitoramento demonstram que o movimento do solo permanece concentrado na área dessa mina”, informou.
A empresa diz que também está apoiando a realocação emergencial dos moradores que ainda resistem em permanecer na área de desocupação e segue colaborando com as autoridades.
Ministros – Os ministros do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, e dos Transportes, Renan Filho, estão em Maceió com uma equipe de técnicos do Serviço Geológico do Brasil e da Defesa Civil Nacional para verificar e monitorar a situação. “Estamos atentos e de prontidão para as ações que forem necessárias e ajudar no que for preciso”, disse o presidente em exercício, Geraldo Alckmin.
Ordem judicial – Muitas pessoas deixaram os imóveis localizados nas áreas de risco pela força de uma ordem da Justiça Federal, que determinou a desocupação de 23 residências nas áreas mais próximas do Mutange, como Bom Parto e Bebedouro, na capital alagoana. A ordem, com autorização para uso de força policial em caso de resistência, atendeu a um pedido do Ministério Público Federal (MPF). Quem mora no Pinheiro, bairro vizinho, não tem indicação para evacuação, mas tem deixado suas casas por precaução. Mais de 14 mil imóveis já foram desocupados na região desde que o problema começou, em 2018.
“Chegou uma ordem judicial por volta de 2h da manhã (de quinta-feira, 30/11). Bateram na minha porta um oficial de Justiça, a Polícia Militar, Polícia Federal, Samu, Defesa Civil… mais de 30 pessoas”, disse a advogada Andrea Carla, que mora no Pinheiro.
Entenda a situação – A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. A extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, tinha autorização do poder público.
Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado, o que agravou as rachaduras e crateras no solo, provocando danos irreversíveis nos imóveis.
Somente um ano depois o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, confirmou que a mineração provocou a instabilidade no solo.
Em junho de 2019 foram emitidas as primeiras ordens de evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol.
Desde então, mais de 14 mil imóveis precisaram ser desocupados na região, afetando cerca de 55 mil pessoas e transformando áreas antes habitadas em bairros fantasmas.
Depois que a mineração foi apontada como a principal causa da instabilidade do solo, um intenso trabalho foi iniciado pela Braskem para fechamento e estabilização de 35 minas na região do Mutange e de Bebedouro, com profundidade média de 886 metros.
Contudo, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o “risco de colapso em uma das minas” próximo da lagoa Mundaú, a de número 18, o que poderia provocar o surgimento de uma imensa cratera.
Em notícia divulgada no site G1, o professor da UFAL Abel Galindo, engenheiro civil com mestrado em geotecnia pela UFPB, avalia que há uma grande probabilidade de o desabamento da mina 18 afetar também duas minas vizinhas, formando uma cratera em que caberia o estádio do Maracanã.
Com o desabamento, a água da lagoa, terra e detritos seriam escoados para dentro da cratera, provocando a formação de um lago com profundidade de 8 a 10 metros. Segundo a Defesa Civil, esse fenômeno tornaria a água da lagoa salgada e toda a área de mangue na região seria impactada “de forma bastante trágica”.