Em março do ano passado, as primeiras medidas de isolamento social foram implementadas no Brasil para impedir o avanço do coronavírus. Por promover aglomerações, muitas pessoas passaram a evitar o transporte público para se locomover nas cidades. Com isso, uma “velha” conhecida de duas rodas voltou a ganhar o protagonismo nas ruas de grandes capitais: as bicicletas.
Enquanto muitos segmentos da economia tiveram impacto negativo com o fechamento do comércio não essencial, o setor de bikes foi um dos que apresentou maior crescimento. De acordo com dados do governo federal, em 2020 foi registrada a abertura de 4.800 empresas que desempenham atividades econômicas relacionadas ao setor de bicicletas, o que representa um crescimento de 26% em relação a 2019, quando o número foi de 3.800. Ao final de 2020 foram contabilizados mais de 36 mil empreendimentos no ramo, com a liderança de Microempreendedores Individuais, seguidos por Microempresas.
Paulo Emilio Martine de Souza, sócio da Bicicletaria Tatuapé (SP), percebeu um crescimento de cerca de 60% no movimento durante a pandemia. “Tivemos grande aumento na procura de manutenção e venda de bicicletas em geral, tanto para adultos como para crianças. Como não estava acontecendo a realização de outras atividades esportivas e recreativas e os parques e academias estavam fechados, as pessoas resolveram praticar na rua e a bike foi uma forma que elas encontraram para suprir a necessidade de atividade física. Para muitos, ela também foi um meio de transporte seguro, por permitir o distanciamento social”, afirma.
A analista do Sebrae, Juliana Borges, destaca que o crescimento do setor durante a pandemia foi possível devido à implementação de políticas públicas, ocorridas nos anos anteriores, entre elas a categorização do uso da bicicleta para diferentes demandas; o aumento do planejamento urbano; a mudança do Código Nacional de Trânsito, que tirou a obrigatoriedade do registro e seguro para bicicletas elétricas; o aumento dos serviços de delivery; as políticas de incentivo, como o programa Bicicleta Brasil; compras públicas; e movimentos da sociedade organizada, como o Dia Sem Carro.
Acompanhar a digitalização e entender qual o canal mais adequado para se comunicar com o cliente foram os grandes diferenciais em 2020. O segredo do sucesso da Bicicletaria Tatuapé, conta Emilio, foi a utilização de ferramentas digitais já disponíveis no mercado e das mídias sociais. “Fizemos muito mais divulgação em redes sociais, utilizamos o WhatsApp para o atendimento e agendamento de clientes, até porque a demanda de serviços estava muito alta. Aumentamos o nosso quadro de funcionários e, mesmo assim, chegamos a ter agenda marcada para três semanas. Nosso objetivo é expandir e contratar mais, mas estamos observando bem o mercado”, destaca.
A diversificação de produtos e serviços é uma oportunidade para os empreendedores agregarem mais receita ao faturamento da empresa durante este período. Há uma gama de acessórios que podem ser oferecidos aos ciclistas, que proporcionam mais segurança e tornam o trajeto mais confortável, tais como capacetes, roupas, squeezes, óculos, tênis adequados, complementos vitamínicos, protetor solar, toalha de rosto etc.
Para Juliana, embora o cenário seja favorável para manter as empresas em um patamar de faturamento elevado, os empreendedores não devem transformar este momento em uma exploração desmedida de preços. “Não é porque a demanda aumentou que precisa elevar o preço da peça ou da manutenção. É necessário oferecer para o cliente coisas que vão agregar valor, como – por exemplo – mostrar para o consumidor que ele precisa engraxar a bicicleta e que isso reduz a necessidade de manutenção. Apresentar o universo das bikes para quem não estava sensível a ele, que é um mundo cheio de benefícios, saúde e prazer e saúde. Não é o momento de elevar valores de produtos e serviços isoladamente, e sim de estabelecer uma relação de longo prazo”, finalizou a analista do Sebrae.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias