Da terra ao oceano, as mudanças climáticas continuaram avançando em 2022 e os altos níveis de emissão de gases de efeito estufa levaram a recordes de temperatura global, derretimento de geleiras, e aumento do nível do mar. É o que mostrou o novo relatório anual da ONU, divulgado na véspera do Dia da Terra, comemorado em 22 de abril. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a tendência deve continuar por milhares de anos e eleva o grau de alerta para eventos climáticos extremos, que ameaça a existência de nações inteiras.
“Temos as ferramentas, o conhecimento e as soluções. Mas temos de acelerar o ritmo. Precisamos de uma ação climática acelerada com cortes de emissões mais profundos e rápidos para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius. Também precisamos de investimentos massivamente ampliados em adaptação e resiliência, principalmente para os países e comunidades mais vulneráveis que menos fizeram para causar a crise”, disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em comunicado.
Os dados do relatório “Estado do Clima Global 2022” mostraram que a temperatura global foi 1,15°C acima da média de 1850-1900 e que os anos de 2015 a 2022 bateram um recorde: foram os oito mais quentes, mesmo com o resfriamento de um evento La Niña nos últimos três anos. Ao mesmo tempo, a concentração dos principais gases de efeito estufa em 2021 – último ano com dados consolidados – também superou a pior marca.
Quando o assunto é oceano, o nível global do mar subiu 4,62 mm por ano entre 2013 e 2022, mais que o dobro do ritmo registrado na primeira década de 1993 a 2002. Isso é um aumento total de mais de 10 cm desde o início dos anos 1990 e ameaça algumas cidades costeiras e existência de nações de baixa altitude, como a ilha de Tuvalu – que planeja construir uma versão digital de si mesma caso seja submersa.
O derretimento de geleiras no período de 2005 a 2019 e a perda total do gelo na Groenlândia e da Antártida contribuiu com 36% para a elevação do nível do mar e o aquecimento das águas contribuiu com 55%, destaca o relatório. No geral, as geleiras de referência experimentaram uma redução média de espessura de mais de 1,3 metro entre outubro de 2021 e outubro de 2022, perda muito maior do que a média da última década.
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O gelo marinho na Antártica caiu para 1,92 milhão de km² em 25 de fevereiro de 2022, o nível mais baixo já registrado e quase 1 milhão de km² abaixo da média de longo prazo – de 1991 a 2020. Já a camada de gelo da Groenlândia terminou com um balanço de massa total negativo pelo 26º ano consecutivo. De acordo com o último IPCC, globalmente as geleiras perderam mais de 6.000 Gt de gelo no período de 1993 a 2019. Isso representa um volume de água equivalente a 75 lagos do tamanho do Lago de Genebra, o maior lago da Europa Ocidental.
Além disso, as taxas de aquecimento do oceano foram significamente altas nas últimas duas décadas e mesmo com as condições do La Niña, 58% da superfície oceânica experimentou pelo menos uma onda de calor em 2022.
“Enquanto as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar e o clima continua a mudar, as populações em todo o mundo continuam a ser gravemente afetadas por eventos climáticos extremos. Por exemplo, em 2022, secas contínuas na África Oriental, chuvas recordes no Paquistão e ondas de calor recordes na China e na Europa afetaram dezenas de milhões, causaram insegurança alimentar, impulsionaram a migração em massa e custaram bilhões de dólares em perdas e danos ”, disse o Secretário-Geral da OMM, Prof. Petteri Taalas, no comunicado.
Além dos indicadores climáticos, o relatório traz os principais impactos socioambientais: aumento da desnutrição e insegurança alimentar, seca na África Oriental, inundações no Paquistão, ondas de calor recordes na Europa, deslocamentos populacionais por eventos climáticos e até mudanças em ecossistemas e o meio ambiente, como quando as árvores florescem ou os pássaros migram.
O relatório da ONU é lançado após o State of the Climate in Europe pelo Copernicus Climate Change Service da União Europeia e complementa o sexto relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que traz dados até 2020.
Por Sofia Schuck / Um Só Planeta