Por Agência de Notícias da Indústria
Há uma mudança na compreensão sobre mudanças climáticas e economia. No passado, as pessoas pensavam que uma abordagem mais agressiva em relação à agenda do clima ocorreria em detrimento do crescimento. E hoje está claro que elas podem promover o crescimento. Esse é o entendimento defendido pelo professor da Universidade de Columbia e prêmio Nobel de Economia 2001, Joseph Stiglitz.
Em participação no “Diálogo Pré-COP28: o papel da indústria brasileira na agenda de clima”, promovido na terça-feira, 12/9, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Stiglitz fez uma análise sobre o cenário global atual, pediu uma participação mais ativa dos países ricos e afirmou que o Brasil tem capacidade para liderar essa agenda.
Para ele, o custo da inação é muito mais alto que o custo da ação e essa ação é capaz de promover crescimento econômico. “Transição e bem-estar econômico são complementares”, justificou o professor. “Esse aspecto de complementaridade entre crescimento e clima é muito verdadeiro”, completou, reforçando que “a maneira como nossos grandes sistemas funcionam, nossos sistemas urbanos, sistemas de transporte, sistemas agrícolas e a indústria precisam ser repensados”, argumentou.
No caso do Brasil, de acordo com ele, essa complementaridade é particularmente importante pelo fato de a Amazônia ter um impacto no clima de todo o país. “A evaporação amazônica influencia os padrões pluviométricos do resto do Brasil. Sabemos que se não houver chuvas, o Brasil não terá colheitas. Então, existe um link muito claro entre preservação da Amazônia e preservação da agroindústria. E a estabilidade climática do Brasil. O enfraquecimento da Amazônia teria impactos devastadores no resto do país”, explicou.
Neste contexto, Stiglitz sugere ao Brasil que se pergunta como pode promover essa agenda verde para criar progresso, para fomentar a transição verde e, ao mesmo tempo, igualar as condições de concorrência. Ainda segundo ele, fazer uma transição verde é coerente com fazer uma transição a uma economia mais avançada,que vai levar a uma economia brasileira mais forte. “Acredito que a liderança do Brasil na COP, o protagonismo do Brasil no G20 pode ter um papel vital na reestruturação da economia global de uma forma mais justa, verde e sustentável e essas políticas também podem ajudar de fato aqui no Brasil”.
Precificação de carbono
Uma das medidas que o país poderia adotar, de acordo com ele, é a precificação do carbono, que está em processo de regulamentação no Congresso Nacional. “Políticas para responder a essas crises precisam ser abrangentes e devem promover uma mudança, uma transformação holística na economia, como a precificação do carbono”, explicou.
Sem a precificação, ele destaca, também não há incentivos para responder a essas crises de maneira eficiente. “Ou seja, a precificação do carbono é crucial, mas a precificação do carbono sozinha não vai solucionar o problema. Precisamos de regulamentação também. Mas talvez seja possível introduzir uma regulamentação bastante simples. Ou seja, não permitir mais usinas ou fábricas que sejam alimentadas por combustíveis fósseis, por exemplo”, diz.
Embora tenha enfatizado a necessidade de o Brasil conservar o meio ambiente, Stiglitz destacou que a urgência é global. Ele afirma que liberalismo não deu bons resultados, o crescimento diminuiu e a desigualdade aumentou, e que não é um só país o responsável. “Todos os países participaram. E esse neoliberalismo acabou”, disse. Neste contexto, ele argumenta que não adianta a Europa alcançar a neutralidade de carbono se os mercados emergentes se tornarem mais pobres.
“Se os países emergentes não fizerem a sua parte, não teremos uma transição verde. Ou seja, precisamos explicar aos países desenvolvidos que é em seu interesse garantir que haja igualdade de condições e que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento possam crescer para poderem investir também na transição verde.”
Para isso, o professor diz ser fundamental abaixar os juros para investimento em economia verde. “As empresas precisam investir na transição verde. Há investimentos socialmente produtivos que não podem ser feitos porque essas taxas de juros estão muito altas. Elas precisam ser reduzidas. Isso vai trazer um benefício global”, ressaltou.