“O economista era Deus”
Eustáquio Libório
Fevereiro geralmente é curto por ter menos dias que os demais meses do ano, e, até por ser o mês do Carnaval. Muito alegre pela festa popular que incendeia o Brasil. É, também, o período no qual os poderes Judiciário e Legislativo voltam às atividades após o recesso de fim de ano.
Na quinta-feira, dia 1º de fevereiro, como é de praxe, o governador do Amazonas foi à Assembleia Legislativa do Estado ler a mensagem anual aos deputados que ali mantêm assento como representantes do povo, embora ultimamente a maioria do “people” prefira dizer que não se sente representada, nem ali e muito menos no Congresso Nacional, a ironia é que só ganha mandato no Legislativo quem consegue votos, logo…
Mas a leitura da mensagem anual do governador Amazonino Mendes, como sempre acontece nessas ocasiões, foi abreviada para menos de meia hora, até pela extensão do documento, o qual, um calhamaço de 450 páginas, foi reiteradas vezes solicitada, pelo governador aos presentes, que fizessem a leitura do documento. Amazonino chegou a se emocionar quando falou sobre sua prisão nos idos de 1964, e aproveitou para fazer seu marketing e avisar que fora “preso por amor aos pobres.”
Quase octogenário, do alto de seus 78 anos, o governador Amazonino Mendes reconheceu o óbvio, ao dizer que está velho, para logo em seguida informar que, apesar disso, tem espírito jovem e que os anos já vividos lhe conferiram um bem precioso: experiência. E foi por aí que o Negão começou a abrir o verbo, quando declarou que a falta de experiência leva ao desastre, e, no Brasil, Estados foram a pique, citando Minas Gerais, Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, sem deixar de registrar que o desastre chegara por aqui também.
Da velha guarda, o Negão é partidário de que, ao contrário de algumas lideranças políticas da esquerda, a Lei de Responsabilidade Fiscal seja cumprida, as finanças públicas estejam equilibradas, entre outros procedimentos necessários ao êxito na administração pública. Mas aí o Negão voltou à carga para dizer que a saúde pública no Amazonas perdeu a qualidade, que a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), nos últimos tempos, obedeceu a objetivos políticos sem levar em conta seu objetivo nem as vocações do interior.
Para Amazonino Mendes, que também declarou que [a economia do] o Amazonas é muito frágil, “somos consequência dos produtos in natura”, quando à época do desbravamento da região “o economista era Deus”, explicou o governador, para também apontar a falta de compromisso com os anseios do povo do interior em relação aos cursos da UEA.
No entanto, se os pedidos do Negão para que a mensagem seja lida na íntegra, uma vez que em 2017 houve três governadores no Amazonas, também sobrou espetadas para o empresariado paulista, contrários da Zona Franca de Manaus (ZFM), quando Amazonino Mendes afirmou, citando monsenhor Arruda Câmara, que “o colonialismo interno é mais cruel do que o imperialismo externo” e enfatizar que nossa economia, a ZFM, depende de um decreto.
De outro lado, durante sua fala, Amazonino Mendes “proibiu” que o questionassem ou falassem com ele sobre política e eleições, pois, alegou, preferia falar sobre administração e declarou que o Amazonas “é delicado”, não pode ser governado por qualquer uma pessoa, mesmo que ela tenha “bons princípios, vontade, mas se não tiver experiência, qualificação, se se deixar levar pela politiquice, ela vai arrastar o estado para a bancarrota.”
E foi por aí a linha do discurso do governador Amazonino Mendes, o terceiro a assumir o posto em 2017 que, ao encerrar sua mensagem, cumprimentou o presidente da Aleam sem citar o nome de David Almeida, o qual, logo, em seguida, declarou que Amazonino tem seu apoio para aquilo que for para o bem público e, sem ser um aliado, se declarou parceiro do Negão, entendeu?
Pois é, ao que tudo indica, a campanha para a eleição de outubro está em pleno andamento, com farpas, mensagens cifradas e entrega de títulos de terras.