“O setor eletroeletrônico colabora significativamente com o superávit da balança comercial do Brasil”

Além de praticamente não haver importação de ar-condicionado no país, o setor faz com que a relação comercial do Amazonas com os demais estados seja ainda mais próspera

Desde 2018, Jorge Nascimento Júnior é presidente executivo da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), entidade sem fins lucrativos que congrega 34 fabricantes espalhados pelo país, e tem como missão principal contribuir para consolidar a indústria nacional como grande geradora de renovação tecnológica, emprego, renda e sustentabilidade.

Confira a seguir a entrevista exclusiva com o presidente da entidade, que que faz uma análise sobre os impactos da regulamentação da Reforma Tributária para a indústria nacional de eletroeletrônicos.

A INDÚSTRIA NACIONAL DE AR-CONDICIONADO ACABA DE APRESENTAR O SEU MELHOR 1O SEMESTRE EM VENDAS DA HISTÓRIA. A QUE SE DEVE ISSO?

Consideramos como principais dois fatores, sendo: a situação macroeconômica do país, com o aumento na geração de empregos, o controle da inflação, a redução dos juros e os programas de distribuição de renda, como exemplos. Outro fator principal foi o climático com o aumento das temperaturas causadas pelo fenômeno El Niño que elevou às temperaturas no país fazendo com que a população buscasse o ar-condicionado para garantir seu maior conforto e bem-estar.

CONSIDERANDO QUE O BRASIL É O SEGUNDO MAIOR PRODUTOR DE AR-CONDICIONADOS DO MUNDO, QUAL A IMPORT NCIA DESTE SETOR PARA A INDÚSTRIA NACIONAL?

O setor de ar-condicionado nacional gera mais de 15 mil empregos diretos e indiretos na Zona Franca de Manaus e responde por 8% do faturamento do seu polo industrial. São 17 indústrias fabricantes de produtos finais e mais de 100 indústrias na cadeia de componentes instaladas em Manaus e em outros locais do país. Com isso, o setor colabora significativamente com o superávit da balança comercial do Brasil, já que praticamente não há importação de ar-condicionado no país, e faz com que a relação comercial do Amazonas com os demais estados seja ainda mais próspera. Além disso, como os produtos ofertados pelas indústrias nacionais são mais eficientes no consumo de energia, a população brasileira acaba tendo mais conforto e bem-estar neste período de altas temperaturas e pagando menos a conta de energia elétrica. Ou seja, os benefícios vão além do fortalecimento da indústria nacional e da economia, impactando de forma positiva o bolso do brasileiro

COMO O SETOR ELETROELETRÔNICO ENXERGA A REFORMA TRIBUTÁRIA E O ANDAMENTO DE SUA REGULAMENTAÇÃO QUE ACABA DE SER APROVADA NA C MARA FEDERAL E ENVIADA PARA O SENADO?

Acompanhamos todo o processo legislativo com muita proximidade dando suporte e apoio às equipes técnicas dos governos federal e estadual e às bancadas federais. Contudo, alguns ajustes no texto da regulamentação são necessários e acreditamos que o Senado deve realizá-los. Não é racional e coerente que o Brasil perca os investimentos bilionários e os milhares de empregos que o setor eletroeletrônico gera em todo o país ao não manter a situação atual de competitividade dos produtos nacionais. No caso da Zona Franca de Manaus, o texto aprovado na Câmara diminui de forma significativa a sua vantagem comparativa, havendo o risco, ao se manter essa redação, de fuga de investimentos e desemprego principalmente nos setores de ar-condicionado e áudio, que são dois dos mais relevantes do Polo industrial de Manaus. Por isso, já estamos dialogando com os senadores da bancada do Amazonas e levando a eles nosso entendimento da necessidade de se ter uma redação que garanta a manutenção das vantagens comparativas atuais no novo arcabouço tributário. Temos a expectativa e confiança de que o texto que será aprovado no Senado manterá as vantagens comparativas da ZFM.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS PONTOS DE ATENÇÃO QUE DEVEM SER OBSERVADOS NO TEXTO ATUAL QUE VAI SER ANALISADO NO SENADO?

Para o setor de ar-condicionado e áudio, responsáveis por mais de 20 mil empregos e cerca de 20% do faturamento do Polo Industrial de Manaus, as vantagens comparativas foram diminuídas ao não manter o crédito presumido de 100% para o Imposto de Bens e Serviços (IBS), que substituirá o ICMS. Atualmente há esse crédito presumido de 100% de ICMS, mas a regulamentação da RT aprovada na Câmara reduz quase que pela metade esse estímulo o que impacta fortemente negativamente a competitividade da produção nacional. Isso precisa ser corrigido no Senado, dando continuidade ao crédito presumido de 100% para o IBS, evitando que os produtos importados sejam mais interessantes ao investidor, acarretando desinvestimento e desemprego no Brasil.

COMO O SETOR ESTÁ SE PREPARANDO PARA A FORTE ESTIAGEM NA REGIÃO AMAZÔNICA QUE IMPACTA DIRETAMENTE A LOGÍSTICA NO PERÍODO?

A experiência tida com a estiagem em 2023 e a sinalização ainda no ano passado de que a seca seria ainda mais severa neste ano, nos fez tomar algumas providências, como cobrar do poder público providências e ações visando a mitigação dos efeitos da vazante extrema dos rios. Solicitação de dragagens nos trechos dos rios mais impactados com o baixo volume de água, a celeridade nos processos burocráticos de desembaraço e fiscalização dos insumos e produtos finais e até mesmo a pavimentação da rodovia BR-319, compuseram as pautas de reivindicações da Eletros. Ano passado, algumas empresas do setor eletroeletrônico paralisaram suas atividades fabris em cerca de 30 dias, já que a chegada de insumos e a saída de produtos acabados do Polo Industrial de Manaus foi inviabilizado pela impossibilidade de navegação nos rios, principal, e praticamente, única solução de transporte viável economicamente na região. Contratos com clientes das indústrias não foram atendidos ou foram prejudicados, antecipação das férias coletivas dos trabalhadores ocorreram e a arrecadação estadual e federal caiu significativamente, posto que a base da economia do Amazonas são as indústrias da ZFM que, paralisadas, não faturaram acarretando a não geração de impostos e tributos.

QUAIS SÃO AS PROJEÇÕES PARA O 2O SEMESTRE? PODEMOS ESPERAR OUTRO RESULTADO POSITIVO?

Estamos esperançosos de que podemos encerrar o ano com um resultado positivo interessante na faixa de 5% a 10% de crescimento. Mas, para que isso aconteça, a situação macroeconômica deve ser mantida e, lógico, o efeito climático também é fator importante para que essa expectativa seja concretizada.

Por Juarez Filho

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