País da violência

Eustáquio Libório

O Brasil, que já foi conhecido por ter um povo cordial, está a cada dia mais tomado pela violência que envolve não só aquela praticada pelos bandidos armados com fuzis e metralhadoras, seja no Rio de Janeiro ou em Manaus, mas também aquela do trânsito assassino que mata ou mutila milhares todos os anos. Essas duas são as que se mostram no dia a dia do país, outra, talvez com maiores danos à população é a violência do desvio dos recursos públicos para fins privados, com a interveniência de agentes públicos e que deixa sem recursos a saúde, a segurança, a educação, entre outros segmentos que deveriam ser a prioridade dos governos nos três níveis.

A crônica policial está cada vez mais bizarra em Manaus, ao relatar ocorrências que se tornam frequentes, embora não se possa dizer que são banais. Assassinatos como o ocorrido no fim de semana, em Santa Luzia, Zona Sul, quando atiradores executaram dois homens que jogavam dominó, um dos quais, veio se saber depois, era o alvo e morreu no pronto-socorro, já o que morreu no local, ao que tudo indica, nada tinha a ver com o caso. Estava no local e no momento errados.

Outro caso ocorrido no fim de semana foi a invasão de um apartamento, depois metralhado por desconhecidos durante a madrugada no bairro Novo Aleixo, Zona Norte. Ali o alvo morreu na hora, mas a mulher e a filha, com cerca de um ano de idade, foram encaminhadas aos hospitais em estado grave. Se os alvos têm envolvimento com o tráfico de drogas, no fim das contas quem está próximo corre o mesmo risco e é aí que a população se torna vítima inocente de balas assassinas.

Diz o relatório 2017 do Atlas da Violência, com base em estatísticas de 2015, que foram assassinadas 59.080 pessoas naquele ano. É uma guerra sem quartel onde o cidadão se torna refém ao preferir ficar trancado em sua casa a sair à rua com todos os riscos que isso implica, seja ser vítima da violência dos bandidos, do trânsito ou de uma mais nova, com viés político, como o vereador que agrediu um homem durante manifestação contra a prisão do ex-presidente Lula, em São Bernardo do Campo/SP.

O viés político desse tipo de violência também atingiu pelo menos sete jornalistas, agredidos durante esses eventos contrários ao cumprimento de uma medida judicial e chegou até Curitiba, onde uma jornalista amazonense que ali mora foi agredida quando trabalhava na cobertura da prisão do ex-presidente.

Se a violência explícita está nas ruas, a dissimulada, aquela surripia recursos públicos para atender os favoritos do poder, seja favorecendo organizações empresariais, agentes públicos ou magistrados, como ocorreu por aqui e foi objeto de matéria jornalística em um programa da Rede Globo no último domingo, é tão ou mais danosa que a violência explícita. A esta falta pôr em prática uma metodologia que possa parametrizar suas consequências para a sociedade. A dificuldade, como bem reconhecem os defensores do ex-presidente transformado em presidiário no último sábado, é que não existem as provas materiais para materializar os danos causados à população por essas práticas criminosas, que não vão passar recibo nunca.

Voltando à violência explícita, a que dispõe de dados estatísticos para pesquisas e estudos, é o caso de registrar, conforme o Mapa já referido, que o Amazonas, apresentou, entre 2005 e 2015, um crescimento superior 101% na taxa de homicídios por 100.000 habitantes. Entre 2014 e 2015, a expansão desses homicídios foi de 16,8%, enquanto entre 2010 e 2015, chegou a 20,3%.

Ao cidadão que paga impostos e mesmo assim não tem garantia de sair para o trabalho e voltar com vida, fica apenas a possibilidade de perguntar o quê, realmente, está sendo feito para garantir o direito à vida das pessoas, além dos discursos repetitivos transmitidos diariamente pelas autoridades.

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