Pequenos negócios do Pará: como o cacau pode gerar inclusão e renda

por Rubens Magno, Diretor-superintendente do Sebrae no Pará
Foto: Divulgação

A bioeconomia pode ser um dos diferenciais do Brasil para alcançar uma posição de destaque na nova economia global. No G20, o assunto foi destaque. Aqui dentro, também: o governo federal acaba de lançar uma estratégia nacional visando fortalecer a área e, daqui até a 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 30), o assunto deve ganhar ainda mais força. As espécies da Amazônia estão entre os grandes astros dessa história – entre eles, o nosso cacau, reconhecidamente um dos melhores do mundo.

Nativo da floresta, o cacau é um dos carros-chefes da bioeconomia da Amazônia Legal, gerando R$ 12 bilhões anuais para o PIB da região, segundo estudo do WRI Brasil. O nosso Pará é, atualmente, o maior produtor de cacau no Brasil, sendo responsável por mais da metade da produção nacional. Grande parte disso, se deve ao cultivo existente na Região de Integração do Xingu, composta por 10 município localizados às margens da Rodovia Transamazônica, no sudoeste do estado. Uma projeção encomendada pelo IBGE estima que, em 2024, o Pará deve produzir mais de 152 mil toneladas de cacau, empregando cerca de 30 mil produtores e sendo responsável por mais da metade da produção nacional das amêndoas.

Na Amazônia, a combinação de um clima favorável, solo fértil e técnicas sustentáveis de produção, como a produção sombreada em sistemas agroflorestais, gerou qualidade e produtividade. O cacau do Pará alia preservação da floresta com geração de emprego e renda para agricultores familiares, uma vez que a maior parte de seu cultivo – cerca de 70% – é feito em áreas já degradadas por outras atividades, evitando assim a derrubada de novas árvores.

A inovação e a criatividade dos empreendedores paraenses têm surpreendido o mundo pela diversidade de produtos criados. Pequenas empresas artesanais fazem uma verdadeira alquimia ao juntar o cacau amazônico com outros ingredientes da região, como cupuaçu, açaí e castanha, produzindo chocolates únicos e com enorme potencial de mercado. Outros empreendedores aliam o cacau nativo aos saberes ancestrais dos povos tradicionais e há os que beneficiam a amêndoa para vender geleia, chás, nibs e granola

Além da variedade, o cacau produzido no Pará também é sinônimo de qualidade, figurando entre os melhores do planeta. Um exemplo disso foi o reconhecimento internacional concedido às amêndoas de cacau produzidas em Medicilândia, que foram premiadas no Cocoa of Excellence Awards (Cacau de Excelência) em Amsterdã, na Holanda. Como podemos ver, boas ideias e reconhecimento não faltam.

Por isso, incluir os pequenos produtores nas discussões, formação e fortalecimento das cadeias de bioeconomia é fundamental para fortalecer a bioeconomia na Amazônia. Os pequenos negócios são maioria em nossa região e também em nosso país. Eles responderam por 30% do PIB em 2023, são mais de 95% das empresas do país e grandes geradores de emprego. Portanto, não dá mais para falar em bioeconomia sem considerá-los.

Com sua atuação junto aos pequenos negócios, o Sebrae no Pará tem trabalhado para qualificar e ajudar essas empresas, pois acredita que elas devem ser protagonistas dessa nova economia.

Por isso, criamos um Polo de Referência em Bioeconomia, que funciona como uma unidade de inteligência voltada para a disseminação de conhecimentos e experiências para melhorar a capacidade de gestão desses negócios. Acabamos também de articular e criar uma rede de inovação voltada para essa área. A ideia é consolidar um ecossistema propício aos negócios, incentivando a construção de uma cadeia de demandas e ofertas que se conectam, democratizando o conceito de bioeconomia e as oportunidades geradas por produtos como o cacau.

Outro avanço foi o trabalho de preparação de produtores rurais de Tomé-Açu para receber o registro de Indicação Geográfica (IG), em 2019. Essa é uma forma de destacar e diferenciar um produto, reconhecendo a vinculação com sua origem e facilitando a identificação por consumidores e pelo público em geral, o que pode favorecer a promoção dos produtos paraenses em outros mercados, inclusive fora do Brasil.

E foi justamente isso que aconteceu. A IG abriu o mercado internacional para as amêndoas de Tomé-Açu e foi um marco na importante conquista dos produtores da região, que desenvolveram um modelo exclusivo de agricultura sustentável, que faz com que o cacau cresça em um ambiente que simula o de uma floresta nativa.

Em 2020, uma grande fabricante japonesa de chocolate, que usa em seus produtos amêndoas de cacau cultivado em Tomé-Açu, ganhou o selo comemorativo da Olimpíada de Tóquio. Com isso, o produto passou a ser comercializado na Vila Olímpica.

Como pudemos perceber, a inclusão social e o desenvolvimento podem e devem ser compatíveis com o tamanho de nosso potencial e produção. Para além do chocolate, mas também com ele, utilizando todo o potencial de negócios da cadeia do cacau.

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