Com o crescimento de 2,9% que o Brasil alcançou em 2022, a renda do país, medida pelo PIB per capita, voltou a superar o patamar de 2019, último ano antes de a pandemia fazer a economia afundar.
O indicador, porém, continua longe de seu pico histórico, registrado em 2013. Além disso, se o país seguir crescendo no mesmo ritmo das últimas décadas, só em 2031 o brasileiro deve voltar a ter o nível de riqueza que chegou a ter naquele ano.
As contas foram feitas a pedido da economista Silvia Matos, pesquisadora sênior de economia aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenadora do Boletim Macro feito pela entidade.
“Está difícil voltarmos àquele patamar de PIB per capita. Se conseguirmos sair desse período turbulento e voltar a crescer à nossa média histórica, serão 18 anos até retomá-lo”.
Em 2013, quando atingiu seu recorde histórico, o PIB per capita brasileiro foi equivalente a R$ 48.472, já em valores atualizados pela inflação para os preços de 2022.
Depois de afundar com a recessão de 2015 e 2016, essa média se recuperou lentamente até voltar aos R$ 45.154 em 2019, para, então, despencar de novo com o primeiro ano de pandemia e chegar a R$ 43.346 em 2020. Foi uma regressão de mais de 10 anos no nível de renda do brasileiro.
No ano passado, pela primeira vez desde então, o PIB per capita conseguiu ficar maior que o de 2019. O resultado, de acordo com as contas de Silvia, foi de R$ 46.154,56, resultado 2,2% superior ao último valor pré-pandemia.
O resultado está, no entanto, ainda 4,8% abaixo do pico de 2013.
Em 2021, quando o Brasil teve um crescimento forte no primeiro ano de recuperação da crise sanitária, o PIB per capita já tinha conseguido se reerguer ao patamar de 2019, mas sem ganhos ou melhora em relação a ele.
O PIB per capita de 2021 ficou em R$ 45.171, R$ 17 de renda anual a mais ou aumento de 0,04% ante 2019.
O PIB per capita é uma conta que divide o PIB total do país, de R$ 9,9 trilhões em 2022, de acordo com o IBGE, pela população. Não é uma indicação precisa da qualidade de vida, já que não verifica o grau de distribuição, mas dá uma indicação do nível de renda média do país.
Como a população brasileira vem aumentando a um ritmo em torno dos 0,7% ao ano, o bolo do PIB precisa crescer mais do que isso para que as pessoas tenham um aumento efetivo na riqueza disponível para cada uma delas.
Recuperação em 2031
Silvia Matos, da FGV, acredita que, em 2023 e 2024, esse indicador da renda média deve continuar andando de lado, sem grandes avanços, já que, com juros ainda bastante altos, a previsão de crescimento para os dois anos é baixa.
“Em 2023 e 2024 o PIB per capita deve ficar meio estagnado, deve cair em um ano e crescer pouco no outro, já são anos meio perdidos”.
De 2025 em diante já fica mais difícil ter clareza de como estará a economia e fazer projeções, mas, se o país seguir crescendo no mesmo ritmo médio em torno do qual vem circulando nas últimas quatro décadas, o PIB per capita do Brasil só conseguirá voltar ao pico perdido de 2013 em 2031, 18 anos depois.
Desde os anos de 1980, o PIB per capita brasileiro cresce a uma média de 0,7% ao ano, de acordo com Silvia.
Se conseguir elevar esse ritmo para 1,5% ao ano, a recuperação pode acontecer um pouco antes: o PIB per capita voltaria a se aproximar do valor de 2013 em 2027 e ultrapassá-lo em 2028.
“Mas este é um cenário bem otimista”, ressalva Silva. “Foram poucos os períodos na série histórica em que conseguimos crescer mais do que isso por um período longo de tempo”.
Fonte: CNN