Povos dessana, tukano e baré, do Alto Rio Negro, participam da 2ª Mostra Indígena de Manaus

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Por Cristóvão Nonato / Concultura 

A região multicultural do Alto Rio Negro é uma das mais ricas do planeta em diversidade étnica e tem destaque com os artistas dos povos dessana, tukano e baré, na 2ª Mostra de Arte Indígena de Manaus, realizada pela Prefeitura de Manaus, no Palácio Rio Branco, na praça Dom Pedro II, centro histórico, até o dia 31 de outubro. O evento é organizado pela Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), por meio do Conselho Municipal de Cultura (Concultura).

A complexidade da mitologia e cosmologia dos povos residentes no Alto Rio Negro são destacados pelo presidente do Concultura, Tenório Telles, como uma das ricas contribuições desses povos para o processo civilizatório em construção no nosso Estado. 

“Sua cosmologia, além de fascinante, é muito rica em significados, contribuindo para uma visão diversa e cósmica da Amazônia”.

Jaime Diakara. Foto: Cristóvão Nonato / Concultura e João Viana / Semcom

O artista visual Jaime Diakara Dessana é mestre em antropologia cultural, especialista em mitologia e cosmologia do povo dessana.

“Minhas obras retratam a cosmologia repassada pelos meus avós e pais, como a grande viagem na canoa de transformação, que é o ponto central de nossa cultura, que viaja da grande maloca passando por locais sagrados como Manaus até Pari-Cachoeira, no Alto Rio Negro. Meu quadro retrata a festa da chegada com o grande jarro, jurupari, onde todos tomaram ayuasca”, descreveu  Diakara, homenageando Manaus, contando a história de sua ancestralidade, como um dos povos que constituem a formação social da cidade-mãe.

Diakara nasceu em uma aldeia de Pari-Cachoeira, no município de São Gabriel da Cachoeira. Ele contou que aprendeu sua arte com seu pai quando confeccionava artesanato em cestaria, e os grafismos corporais durante as festas.

“E depois, na vida adulta, pesquisei sobre a viagem imaginária da cosmologia dessana”, ressaltou, e afirmou viver da venda de suas telas e os grafismos em camisetas na comunidade, em Manaus e outros Estados, e tem a ajuda de sua filha de 17 anos, estudante, na confecção das camisetas. Ele disse não assinar suas obras, porque não é o criador da mitologia, e, sim, seu povo.

Foto: Cristóvão Nonato / Concultura e João Viana / Semcom

Sobre a mostra da prefeitura, ele salientou que a presença indígena é um reconhecimento da importância dos povos originários, levando ao público as obras de arte. “Sinto-me honrado e feliz de participar dessa família de artistas indígenas”.

Ivan Tukano

O artista visual Ivan Tukano é estudante de Biologia, e coordenador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, que atende o público em Manaus, na rua Bernardo Ramos, centro histórico, área considerada sagrada pelos povos indígenas.

Ivan conta que nasceu na comunidade São Domingos Sávio, no município de São Gabriel da Cachoeira. 

Sobre suas obras, ele explicou que o universo para o povo tukano é um formato de maloca, e o mundo tem forma de útero. Foi essa cosmologia que ele representou no primeiro quadro.

“Diante dessa referência que começa com o nosso modo de pensar e organizar os nossos conhecimentos, nós do povo tukano, do Alto Rio Negro, temos nosso modo de prevenção contra as doenças, e fazemos o preventivo durante a gravidez da mulher”.

Segundo ele, o segundo quadro foi uma experiência pessoal, vivida durante uma “miração” (visões durante cerimônia sob efeito da ayuasca).

“No meu primeiro ritual com ayuasca foi quando a ‘miração’ me mostrou o quanto o meu corpo não está preparado para receber ou iniciar uma formação para ser especialista indígena como ‘kumu’ (pajé). A minha mente estava confusa, meu organismo estava todo comprometido, estava sem nenhum cuidado. Segundo nossos especialistas, o nosso corpo é constituído de sete vidas”, contou Ivan, disse que percebeu que estava desequilibrado ou desconectado com as vidas da natureza.

Adriana Baré

Nascida no município de Barcelos, no Alto Rio Negro, Adriana Martins Baré, 30, é filha de pai do povo Miranha e a mãe do povo Baré, que nasceram na comunidade do rio Nexi, no município de Santa Izabel do Rio Negro.

Ela aprendeu sua arte de costura e artesanato com sua mãe Roberta e a tia Conceição. É a primeira vez que participa de uma mostra de arte. “Já faz dois anos que estou trabalhando com o artesanato. Meus produtos têm a marca Putyra, e trabalho com minha mãe, e realizo serviço de manicure nas horas vagas para complementar a renda da família, que mora na comunidade Cristo Rei, no bairro de Tarumã-Açu”, ressaltou.

Sobre a oportunidade de participar da mostra indígena, ela disse que estava feliz. “Esse evento, que é tão grandioso, e também uma grande oportunidade de divulgação para meu artesanato e de todo povo indígena”, frisou.

O curador da mostra de arte, João Paulo Barreto Tukano, disse que os três povos indígenas abrem janelas por meio de exposição de artes à riqueza das 23 etnias do Alto Rio Negro. “Falam dos conhecimentos vitais dos povos e abrem diálogo para o caminho dos diferentes modos de conhecimento”.

Foto: Cristóvão Nonato / Concultura e João Viana / Semcom
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