Resíduos de madeira têm potencial para inibição de fungos e cupins, aponta pesquisa fomentada pela Fapeam

A alternativa tem potencial para agregar valor às cadeias produtivas da indústria madeireira

Resíduos do processamento industrial de diferentes espécies madeireiras da Amazônia têm potencial de uso fungicida e termiticida contra fungos e cupins, organismos causadores dos maiores danos à madeira em serviço. É o que garante um estudo desenvolvido no município de Itacoatiara (distante 176 quilômetros de Manaus). Os extratos proporcionam inibição variada entre 80 e 90% contra os insetos testados em ensaios de laboratório. 

A pesquisa é fomentada pelo Governo do Amazonas, por meio do Programa Painter, Edital Nº 003/2020, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), e foi desenvolvida na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). 

Conforme explica o coordenador do estudo, doutor em Ciências Florestais da UEA, Victor Fassina Brocco, os extrativos são responsáveis em grande parte por diversas propriedades da madeira, como resistência à pragas, cor e cheiro. Durante o processamento de madeiras tropicais de elevada durabilidade, grande parte da madeira processada vira resíduo, muitas vezes descartado de forma irregular.  

“Esses resíduos contêm uma quantidade considerável desses componentes químicos minoritários, com diversos princípios ativos, fatos que motivaram ao desenvolvimento da pesquisa para a obtenção de compostos naturais com ação biocida, além de valorizar os produtos e resíduos madeireiros”. 

Dentre os principais resultados encontrados no estudo, os resíduos de algumas espécies como angelim pedra (Hymenolobium petraeum) e louro faia (Roupala sp.) forneceram extratos com excelentes propriedades contra os fungos e cupins testados no trabalho.  

O pesquisador destaca, ainda, que as preocupações ambientais têm levado ao surgimento de pesquisas sobre o total aproveitamento de resíduos e a criação e utilização de novos produtos naturais para a utilização em diversos fins, como proteção e acabamento de madeiras, corantes naturais, fármacos e cosméticos. Nesse sentido, existem madeiras que são valorizadas e apreciadas por sua durabilidade natural, e existem nessas madeiras certos componentes químicos minoritários chamados de extrativos.  

Metodologia 

Os resíduos foram coletados em serrarias localizadas próximas ao município de Itacoatiara, na forma de serragem, oriunda do processamento madeireiro. Devido ao baixo rendimento operacional na conversão de toras em madeira serrada na região amazônica, os resíduos gerados são a maior parte do processo. Na maioria das vezes, esses resíduos são manejados de forma incorreta, se acumulam em grandes pilhas e se tornam um problema socioambiental.

Impactos   

Os resultados científicos gerados com a pesquisa indicaram que é possível a obtenção de compostos químicos efetivos a partir de resíduos que geralmente são descartados de forma irregular. Além disso, foi possível atuar na formação de recursos humanos durante a pesquisa, com a orientação de projetos de iniciação científica e monografias de conclusão de curso e dissertação de mestrado. 

“Espera-se que de alguma forma isso possa contribuir para o fomento de políticas públicas voltadas para o melhor aproveitamento dos resíduos e integração de cadeias produtivas”, disse o coordenador.  

Alternativa sustentável  

De acordo com Victor Fassina, a total valorização de produtos e resíduos de madeira é uma prática comum e já é realidade em vários países e a utilização de resíduos para o desenvolvimento de produtos químicos é de interesse para outras indústrias e agrega valor às cadeias produtivas da indústria madeireira.  

“Nesses resíduos podemos encontrar moléculas orgânicas de alto valor agregado e a recuperação desses compostos pode ser de interesse para várias indústrias”. 

Além da Fapeam, o estudo contou com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). 

Sobre o Painter 

O Programa de Apoio à Interiorização em Pesquisa e Inovação Tecnológica no Amazonas (Painter) visa fomentar a interiorização de atividades de pesquisa aplicada e inovação tecnológica por meio de indução em áreas estratégicas, especialmente a bioeconomia, para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado do Amazonas com a finalidade de aplicação de seus resultados na resolutividade/minoração de problemas específicos dos municípios do interior do Estado.

Fonte: Agência Amazonas

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