Shell e Cimatec apostam na bioenergia do agave no sertão brasileiro

A iniciativa tem recursos da cláusula de P&D dos contratos para exploração, desenvolvimento e produção de petróleo, que obriga a aplicação de 1% da receita bruta em pesquisa para novas tecnologias

Shell Brasil e o Senai Cimatec lançaram em Conceição do Coité (BA), a nova fase do programa Brave, que quer transformar a agave – aquela suculenta gigante usada na produção de tequila – na “cana de açúcar do sertão”. E produzir etanol, biogás e outros bioprodutos, em um conceito de biorrefinarias. Tudo isso, capturando e armazenando carbono no solo.

Brave é uma sigla, em inglês, para Desenvolvimento da Agave no Brasil. A iniciativa tem recursos da cláusula de P&D dos contratos para exploração, desenvolvimento e produção de petróleo, que obriga a aplicação de 1% da receita bruta em pesquisa para novas tecnologias.

A primeira etapa começou em novembro de 2022, na Unicamp, com o estudo das mudas ideais para o sertão. 

Agora, o projeto avança em duas frentes de atuação: desenvolver soluções de mecanização para o plantio e colheita da agave, além de testes de cultivo para as variações da planta; e estudar tecnologias de processamento para produzir etanol de primeira e segunda geração.

As máquinas de plantio e colheita terão tecnologia do Cimatec e são uma novidade porque, ainda hoje, o cultivo da agave é totalmente manual. Não existe um equipamento dedicado à cultura.

A mecanização é fundamental para conseguir escala industrial, e avançar para o nível seguinte: a produção de biocombustíveis.

Uma planta piloto de cerca de 700 m² no Cimatec vai explorar o potencial de conversão em biogás e etanol.

Acreditando no potencial de alta produtividade da biomassa, Shell e Cimatec esperam conseguir provar com o projeto a viabilidade tecnológica e econômica.

“Mesmo no início do projeto, já temos em mente como chegar no ponto para a industrialização e comercialização dos resultados da nossa pesquisa”, destacou no lançamento o gerente geral de Inovação e Tecnologia da Shell Brasil, Olivier Wambersie.

Novas energias

A Shell  vem fazendo um esforço para se converter em uma empresa de energia – investindo em biometanoplataformas de renováveis e hidrogênio verde, por exemplo, além do etanol no Brasil, por meio da Raízen.

No final de março, a companhia publicou dois cenários questionando quão rápido a indústria de energia conseguirá se descarbonizar. A companhia assume que os fósseis perderão uma fatia de mercado para a eletrificação com renováveis e nuclear, mas não vê um “caminho realista para uma queda instantânea e acentuada nas emissões”. 

Ainda assim, enxerga um futuro promissor para tecnologias como solar, eólica e hidrogênio. No transporte pesado, especialmente aviação e marítimo, onde a eletrificação ainda não se mostrou viável, há um vasto mercado a ser explorado pelos combustíveis líquidos de baixo carbono.

E em todas essas áreas, o Brasil aparece como um grande potencial exportador. Falta avançar com algumas regulações.

Em entrevista à agência epbr, o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto, observa que há uma corrida para acesso a investimentos nas novas energias, e países que conseguirem avançar com marcos regulatórios competitivos terão vantagem.

“O potencial energético brasileiro é indiscutível. Onde o país precisa se ajudar é na questão regulatória e de política energética”, diz.

“O Brasil vem tentando avançar nos marcos regulatórios para indústria de eólica offshore, hidrogênio, captura e armazenamento de carbono, além de mercado de carbono. Mas, na minha opinião, a gente não está andando na velocidade que deveria”, completa.

Selo etanol social

Além do agave, a batata doce também busca seu lugar na transição energética, podendo ser uma alternativa à cana na entressafra.

Helberth Oliveira, presidente da Coopetanol, uma cooperativa de produtores de batata doce geneticamente modificada para produção de combustível, conta que além do açúcar, a cultura tem um grande potencial para o etanol – com produtividade maior e custo menor que o da cana.

A ideia é desenvolver o projeto no interior das regiões sul e sudeste.

Por enquanto, a cooperativa ainda tenta formar parcerias, enquanto busca incentivos para atrair o interesse da indústria. Também tem pleiteado uma política para incluir a agricultura familiar na cadeia produtiva.

Na terça, Oliveira se reuniu com a Camex e os ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio para levar a proposta de um “Selo Etanol Social”.

Ele afirma que a política teria o mesmo objetivo do selo biocombustível social, que existe para biodiesel, só que integrando os pequenos produtores de batata doce do sul e sudeste, e os de agave no semiárido, à indústria sucroenergética. 

Fonte: epbr

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