Entrevista com Roberto Garcia – INDT e FPF Tech (*)
Roberto Garcia é Diretor de Projetos e Desenvolvimento de Negócios do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico, INDT e da Fundação Paulo Feitosa- FPF TECH, uma dupla de instituições premiadas frequentemente como as mais qualificadas instituições da Região Norte. Nos últimos 20 anos o que se viu foi o desenvolvimento de negócios sustentáveis e de adensamento de novas cadeias produtivas na região Amazônica. Apesar disso, diz ele: “… vemos que ainda existe uma grande oportunidade de efetivo engajamento do poder público local no apoio e tratamento diferenciado às iniciativas dos ICT´s e das Indústrias que demandam ajustes nas políticas públicas, incluindo revisão fiscal, flexibilidade fundiária, qualificação de recursos humanos, e utilização de insumos regionais”. A legislação vigente concede incentivos fiscais no País para que as Indústrias de Bens de Informática, como contrapartida, invistam em P&D&I. Roberto é um piloto incansável e qualificado nesses desafios. Nesta semana ele nos deu a honra de um bate papo de alto nível. Confira.
FOLLOW-UP: Como foi a experiência de parceria da FPF e do INDT com o poder público na formação da bagagem consolidada de tecnologia e inovação?
Roberto Garcia: Se compararmos a contribuição do poder público local com o de outros estados como fomentador e facilitador da estruturação de um parque tecnológico e polo de inovação aos moldes de um Porto Digital, no Recife; o Parque Tecnológico da UFRJ, Rio; San Pedro Valley, Belo Horizonte; Parque Científico e Tecnológico da PUC/RS (Tecnopuc), Porto Alegre; e o Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), onde encontramos uma grande efervescência de Pesquisas e soluções tecnológicas para indústria e outros empreendimentos do cotidiano, vemos que ainda existe uma grande oportunidade de efetivo engajamento do poder público local no apoio e tratamento diferenciado às iniciativas dos ICT´s e das Indústrias na busca deste modelo de geração de empregos qualificados e nova fonte de receita para nossa região. A Amazônia é um gigantesco almoxarifado de insumos e de respostas para as demandas de inovação na área alimentar, dermocosmética, fármacos e energia, além dos serviços ambientais. Na medida em que os gestores públicos entenderem a amplitude dessas oportunidades tudo será diferente e coerente com as ofertas de nossa biodiversidade.
FUP: Há dois anos, encarregado de mediar a aproximação entre economia da ZFM e pesquisa local, promovemos a aproximação entre FPF TECH e CBA. Trabalhar em mutirão institucional parece um bom desafio. Você recomenda esta modelagem para avançarmos na inovação tecnológica?
RG: Acreditamos que o melhor caminho para implantar um ecossistema digital, nosso objetivo comum, que explore de maneira mais profissional nossas vocações locais na áreas de turismo, biotecnologia, mineração, piscicultura, cosméticos, medicamentos naturais, entre outros, passa necessariamente por um esforço coletivo de atuação conjunta dos CTI`s, Universidades, setor empresarial, sociedade civil e governo. A ideia de trabalhar em rede, partilhando avanços, gargalos e desafios, é antiga e precisa ser revisitada. Muita coisa está acontecendo e muita gente se recusa a partilhar temendo manobras obscuras. Isso atrasa a cultura empreendedora e a conquista de um nova patamar de inovação tecnológica. O CBA tem equipamentos comprados com as taxas da Indústria pagas para a Suframa e deveria ser uma empresa de serviços para suporte em Biotecnologia. Precisamos inaugurar a rotina do “nós podemos”, assim todos saem ganhando e o Amazonas avançando.
FUP: Indústria 4.0 nos parece um campo fértil para inserção de nossa economia no sumário da política industrial, ambiental e de C&T&I do Brasil. Como e com que parcerias FPF e INDT estão trabalhando até aqui e quais os planos para o futuro?
RG: A FPF Tech e o INDT têm uma história de 20 anos atuando no Polo Industrial de Manaus, e uma centena de projetos desenvolvidos no contexto da Industria 4.0. Além da nossa contribuição na geração de aproximadamente 400 empregos, na sua maioria de profissionais locais, temos inúmeros casos de sucesso na implantação de projetos de P&D&I que estão gerando diferencial competitivo nas empresas locais e que em muitos casos se tornam soluções globais. Além disso, através da nossa unidade de negócio ACADEMY, temos nos estruturado para também qualificar a grande massa de trabalhadores que terão que adquirir novas capacitações para poder interagir com estas novas tecnologias baseadas em inteligência artificial, robótica, internet das coisas, biotecnologia, entre outras.
FUP: O desafio de administração da Amazônia em sua Província mineral e de biodiversidade supõe a qualificação de recursos humanos. Como mobilizar esforços coletivos para equacionar este desafio?
RG: Além dos nossos esforços de atuação em parceria através do Programa Prioritário de Economia Digital com os ICT´s locais, indústria, academia, fornecedores de tecnologias digitais e comunidade local de start-ups temos procurado estar engajados e contribuindo com nossa participação em iniciativas de estruturação de um Polo Digital em entidades de classe como a FIEAM e CIEAM, sociedade civil com o CODESE e Suframa, entre outras. Estamos todos avançando e fazendo ensaios de parceria. Entendo que um novo momento está sendo construído, há uma necessidade de fazer mais e evitar a apologia de nossas oportunidades e parar por aí. No ano passado Manaus acolheu uma Conferência Internacional de Gestão da Amazônia, coordenada pela UEA e USP, onde tivemos a oportunidade de mostrar o caminho que escolhemos e aprender com experiências novas de gestão desse imensurável patrimônio natural. Uma coisa é certa: cabe a nós assumir a gestão da Amazônia sem fechar fronteiras para pesquisadores de peso com quem podemos avançar num paradigma de sustentabilidade a construção da prosperidade geral.
FUP: Descreva algumas nuances do futuro que estamos construindo?
RG: Acredito que ainda está em nossas mãos moldar um futuro onde as pessoas estarão preparadas para se beneficiar e conviver harmoniosamente com estas novas tecnologias. Cabe a todos atuar com responsabilidade usando tecnologia e inovação para benefício da humanidade e interesse público. Aqui temos as soluções que a humanidade precisa para se manter saudável, jovial e equilibrada, onde desenvolvimento e meio ambiente estejam em harmonia permanente.
(*) Roberto Garcia é Diretor de Projetos e Desenvolvimento de Negócios dos Centros de Tecnologia e Inovação FPF Tech (Fundação Paulo Feitoza) e também do INDT Instituto de Desenvolvimento Tecnológico. Sua formação acadêmica abrange Mestrado em Business Innovation pela FUCAPI em associação com a Universidade do Novo México – Albuquerque – EUA, Pós-graduação em Administração Financeira pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Engenharia de Segurança do Trabalho pela Faculdade de Engenharia Industrial – FEI, Engenharia Mecânica pela Universidade Paulista – UNIP, além de vários outros cursos de capacitação ministrados no Brasil e exterior nas áreas de Tecnologia da Informação, Liderança de Projetos e Pessoas, Estratégias Empresariais, Gestão Operacional, entre outros.
======================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]